Lula já se reuniu com mais chefes de estado que todo o governo Bolsonaro

Em 150 dias de governo, Lula já ultrapassa os 30 governantes estrangeiros que Bolsonaro encontrou durante seus quatro anos de mandato

Lula com chefes de governo dos EUA, Canadá, India, Japão, presidente da ONU, entre outros. Hiroshima, Japão. Foto: Ricardo Stuckert/PR

As dezenas de encontros bilaterais entre o presidente Luis Inácio Lula da Silva e governantes estrangeiros revelam o prestígio deste governo frente ao isolamento internacional de Jair Bolsonaro, entre 2019 e 2022.

Ao chegar ao fim deste quinto mês de mandato, Lula já terá ultrapassado os 31 governantes que Bolsonaro encontrou durante seus quatro ocupado o Palácio do Planalto. Com as agendas previstas para os próximos meses, a solidão e falta do que fazer de Bolsonaro ficará ainda mais evidente. Aliás, Lula recebeu nove chefes de governo um dia após à posse presidencial, sem mencionar outras autoridades estrangeiras.

Lula já se reuniu com 30 presidentes ou primeiros-ministros, considerando aqueles que encontrou durante a cúpula do Grupo dos Sete (G7). O convite para o fórum das economias mais ricas do planeta, foi algo que Bolsonaro nunca recebeu. No próximo dia 30, o mandatário receberá em Brasília representantes de toda a América do Sul.

Com em seus primeiros governos, Lula também deve fazer o esforço de atrair grandes eventos internacionais para o Brasil. A primeira reunião de países amazônicos em Belém (PA), é a prévia para a candidatura do Brasil para sediar a COP30 em 2026.

O homem só

Não foi uma impressão da mídia brasileira, jornais de outras partes do mundo ironizaram a solidão de Bolsonaro no G20 na Itália

A agilidade do Itamaraty em agendar encontros bilaterais para Lula reflete os esforços da gestão atual de devolver a influência do Brasil à cena internacional, uma tradição histórica da política externa brasileira. 

No atual mandato, Lula quer reforçar internacionalmente o prestígio do Brasil em relação a políticas ambientais e de sustentabilidade, mas principalmente na defesa da segurança alimentar. Para isso, está enfrentando até mesmo o vespeiro da guerra na Ucrânia, que tem inflacionado combustíveis e alimentos por todo o mundo, com impactos maiores em países em desenvolvimento.

Até 2022, o Ministério das Relações Exteriores até fazia vista grossa para esse tipo de agenda para evitar os constrangimentos diversos que ocorreram com Bolsonaro, além da ausência de resultados significativos em acordos bilaterais. O caminhão de abacates entrando na Argentina, que ele saudou como um resultado de acordo bilateral ainda é um meme famoso. Em 2019, causou problemas diplomáticos ao fazer comentários misóginos sobre a primeira-dama francesa, Brigitte Macron.

Frequentemente, viagens internacionais de Bolsonaro significavam responder a perguntas sobre temas desagradáveis para sua pauta de governo, como meio ambiente e direitos humanos. 

Suas limitações ideológicas impediam que ele se sentisse a vontade com chefes de Estado e governo que não estivessem alinhados com suas fake news. Por isso, suas agendas priorizavam lideranças de extrema direita como Viktor Orbán, da Hungria; Andrzej Duda, da Polônia; e Donald Trump, na época presidente dos EUA e o presidente do Uruguai Luis Lacalle Pou, de centro-direita. Lula, por sua vez, conversa com governos de amplo espectro ideológico.

Em 2021, na reunião do G20 em Roma, Bolsonaro foi flagrado pelas câmeras sozinho, enquanto outros líderes conversavam entre si. Ele só foi recebido pelo premier Mario Draghi, da Itália, o país-sede. No início de seu governo, o Fórum Econômico de Davos reservou 45 minutos para ouvir Bolsonaro, que falou rapidamente por 6 minutos. Na Suíça, ele almoçou num mercado com seus assessores, enquanto outros líderes marcavam almoços para conversar.

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A falta do que fazer dentro do país ou fora dele só deve ficar mais evidente para Bolsonaro, conforme as agendas internacionais de Lula avancem por 2023. Dificilmente será possível ver Lula em motociatas ou andando de jet sky pelo Guarujá. Até porque, Lula tem acumulado milhas apesar de um quadro de artrose que pode demandar cirurgia, em breve.

Mesmo considerando a pandemia de covid-19 que limitou agendas internacionais, Bolsonaro teve encontros com apenas nove líderes em 2019, seu primeiro ano de governo e o último antes da crise sanitária. Enquanto isso, Lula acumulou 12 reuniões internacionais no fim do seu primeiro mês de governo.

Em cinco meses, Lula passou por nove países em três continentes, sendo recebido com entusiasmo. Além disso, os acordos com os parceiros representaram enorme vantagem para o Brasil. Houve parcerias comerciais inéditas, e Lula conseguiu que americanos e britânicos se comprometessem com doações para o Fundo Amazônia. 

Conseguiu ainda reconstruir laços com os vizinhos ao escolher a Argentina e o encontro da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que lá acontecia, como destino inaugural. Bolsonaro, por sua vez, se referia a vizinhos para ameaçar ou ignorar, como fazia com a Venezuela.

Depois da cúpula sul-americana no fim de maio, haverá nova cúpula na Bélgica, em julho, entre os membros da União Europeia e da Celac, para o qual o brasileiro foi convidado. Em agosto haverá em Durban a reunião deste ano dos Brics — grupo que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Lula deve aproveitar para revisitar governantes de outras nações africanas.

Ainda em agosto Lula se encontra com os governantes dos países amazônicos, em Belém (PA), que envolvem Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. Em setembro, ele pode ir ao Chile para o marco dos 50 anos do golpe de Estado que derrubou Salvador Allende e levou Augusto Pinochet ao poder em 11 de setembro de 1973.

Como prometido em campanha, Lula fortalece os laços regionais em torno de uma agenda e integração continental, levando o Brasil de volta para a Celac e para a União de Nações da América do Sul (Unasul). Encontrou-se com quase todos os vizinhos — e já recebeu inclusive o recém-eleito presidente paraguaio, Santiago Peña, em Brasília. Ele será empossado dia 15 de agosto.

Interesses antigos de Lula, como uma cadeira permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU fazem com que ele priorize abordagens a organismos multilaterais, como a ONU e o FMI, com os quais já se encontrou. Ele defende a necessidade de uma reforma no sistema de governança global e das instituições financeiras internacionais.

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