Semana de 4 dias é apontada como o futuro do trabalho

Três feriados prolongados em cinco semanas entre abril e maio mostraram aos brasileiros que a “semana de 4 dias” traz inúmeros benefícios; veja como o modelo é aplicado pelo mundo

Imagem: Coffeekai/freepik

Parte dos brasileiros pode desfrutar no mês de abril de duas semanas com apenas quatro dias de trabalho. Os feriados da Paixão de Cristo, dia 7, e de Tiradentes, 21, caíram em uma sexta-feira, o que prolongou o período de descanso. E não parou por aí, logo o Dia Internacional do Trabalho, 1 de maio, caiu em uma segunda-feira. Ou seja, em um período de cinco semanas foi possível para grande parte da população desfrutar de três semanas com apenas quatro dias de trabalho.

Apesar dos motivos para essas semanas de 4 dias serem os feriados, existe uma discussão mundial sobre o tema.

Na quarta-feira (10), a versão em português do portal alemão DW listou as vantagens e desvantagens em ter uma jornada de trabalho semanal de quatro dias.

Antes é explicado a diferença entre dois modelos de jornada de quatro dias de trabalho. Em um modelo a carga horária semanal não é reduzida, portanto os trabalhadores tem a opção de trabalhar o período todo em menos dias. Para países que adotam as 40 horas semanais são 10 horas por dia de trabalho por quatro dias, modelo já introduzido na Bélgica.

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No outro modelo, a carga horária é efetivamente reduzida com a manutenção da quantidade de trabalho e do salário. Esta abordagem é chamada de “100-80-100”, como explica a DW: 100% do trabalho em 80% do tempo por 100% do salário. Este princípio foi utilizado na Islândia.

Outros exemplos trazidos são da Espanha, que tem introduzido uma metodologia em pequenas e médias empresas com manutenção dos salários e redução mínima de carga horária de 10% para 30% dos funcionários. Já na França o modelo que vem sendo utilizado é o de 35 horas semanais em quatro dias.

Entre as vantagens indicadas pela redução de número de dias de trabalho, com ou sem a redução da carga horária, são listados:

  • Menor estresse com mesma produtividade;
  • Empregados mais saudáveis;
  • Promoção da igualdade de gênero;
  • Menor rotatividade;
  • Atração de talentos;
  • Benefícios para as cidades e meio-ambiente.

Estudo britânico trazido no texto aponta que a redução para quatro dias de trabalho com funcionário britânicos indicou redução de estresse e menor risco de afastamento por esgotamento profissional. Além disso, é relatado que no universo de 61 empresas com 2.900 empregados houve diminuição de outros distúrbios e, consequentemente, melhora na qualidade de vida.

O fato de os funcionários estarem com o bem-estar mais elevado e o número de licenças médicas cair faz com que a produtividade se mantenha igual, mesmo com um dia de trabalho a menos quando a jornada é reduzida. Ou seja, deve se levar em consideração que empregados com maior tempo de afastamento geram um custo facilmente compensado com a melhora das condições trazidas pela semana de quatro dias.

Com a “semana de quatro dias” a igualdade de gênero tende a ser fortalecida, pois homens passam a se ocupar mais de tarefas domésticas e cuidados com a família. No ponto de vista da empresa, o serviço se torna mais atrativo para a equipe, o que ajuda na retenção de talentos e redução de rotatividade. Na mesma linha, as empresas que eventualmente adotem o modelo podem se tornar mais atrativas para novos candidatos que procuram um estilo de vida mais equilibrado – levando-se em conta que os jovens se interessam mais por jornadas menores do que apenas a redução de dias.

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E as vantagens da semana de quatro dias também podem se desdobrar em benefícios para as cidades e meio ambiente, ainda que este aspecto precise ser melhor estudado. No entanto, a diminuição na circulação de pessoas nos transportes pode fazer, entre outras coisas, que ocorra a diminuição de emissões de carbono e de economia de energia.

Outro lado

Apesar das inúmeras vantagens que a redução do número de dias revela, ainda existem dúvidas. E se ao invés de mais bem-estar a redução de dias trouxer mais estresse para o funcionário por ter que produzir a mesma quantidade de trabalho em menor tempo? Outra dúvida destacada é uma possível ameaça a competitividade, sendo que muitos países europeus – principais exemplos da matéria – carecem de mão de obra.

Outra situação é de que uma medida adotada de forma vertical possa afetar certas categorias que teriam dificuldade em adotar o modelo de quatro dias. Em setores como segurança, saúde e transportes, dada a atividade essencial e diária, seria mais difícil aplicar o modelo.

Apesar dos questionamentos a mensagem que surge é de que a discussão é urgente, ainda mais porque os novos ingressantes no mercado de trabalho são em maioria a favor da redução do número de dias de trabalho e de carga horária.

*Edição Murilo da Silva

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