Depoimento de Bolsonaro à PF sobre atos golpistas é visto como embuste

O ex-presidente alegou que estava sob efeito de remédio quando postou um vídeo com conteúdo golpista dizendo que Lula não foi eleito pelo povo

Foto: Fotos Públicas

Depois de duas horas depondo à Polícia Federal (PF) nesta quarta-feira (26), o ex-presidente Bolsonaro não foi convincente ao negar sua participação como mentor intelectual nos atos golpistas do 8/1, quando seus aliados invadiram e depredaram as sedes do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso.  

Sobre o vídeo postado no Facebook, dois dias depois do ato, no qual ele diz que Lula não foi eleito pelo povo e sim pela ação do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-presidente usou de artimanha para dizer que estava doente.

“Este vídeo foi postado na página do presidente no Facebook quando ele tentava transmiti-lo para seu arquivo de WhatsApp para assistir posteriormente. Por acaso, justamente neste período, o presidente estava internado num hospital em Orlando, justamente no período do dia 8 ao 10 [de janeiro] quando ele teve uma crise de obstrução intestinal, isso está documentado, foi submetido a tratamento com morfina, ficou hospitalizado e só recebeu alta na tarde do dia 10”, disse o advogado Paulo Cunha Bueno, que acompanhava Bolsonaro.

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Bolsonaro foi incluído no inquérito justamente pela mensagem golpista do vídeo que foi deletado das redes sociais.

“Quem aí acreditou no engodo do Bolsonaro? Novamente ele se apoia em supostos problemas de saúde para justificar postagem de vídeo golpista após 8/1. Só se esquece que mentira tem perna curta. Foram quatro (loooongos) anos de declarações golpistas, ataques às urnas eletrônicas e aos poderes da República. Ao perder, continuou a espalhar mentiras e a incentivar o golpe. Agora, mente mais uma vez à PF, para tentar escapar. Uma coisa é certa: quem planta golpe, colhe cadeia”, postou a líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, Jandira Feghali (RJ).

Na avaliação dela, trata-se de uma narrativa fraca e que não terá efeito. “O dia começou animado para Bolsonaro. Ele treinou, treinou, treinou com advogados e assessores o que falar do depoimento da PF e qual narrativa usaria dessa vez para se eximir de responsabilidades pelos atos golpistas do dia 8 de janeiro. Mas não vai adiantar muito. Quanto mais se investiga, mais suspeitas se levantam”, disse.

Jandira diz que quem plantou o golpe vai colher as consequências dos ataques à democracia. “O rei das fake news trabalhou diariamente contra o Estado Democrático de Direito e contra o próprio povo. E, mesmo com toda essa rede de mentiras, perdeu as eleições; agora, tenta espalhar a semente do ódio. Todos os autores, estimuladores e financiadores dos atos do dia 8 de janeiro pagarão na Justiça pelos seus atos”, disse.

“Quer dizer que a nova é que Bolsonaro divulgou vídeo contestando o resultado das eleições porque estava doidão? A covardia é tanta que ele prefere passar por idiota do que assumir seus atos. Nem ele se leva mais a sério!”, considerou o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP).

O deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA) criticou a postura de Bolsonaro em seu depoimento e lembrou da instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigará os atos golpistas de 8 de janeiro. “Sujeito foi presidente da República, fracassou na gestão em meio a ataques à democracia e agora vem com essa dizer que a postagem golpista que fez foi sem querer. Golpista cara de pau. Bolsonaro, a CPI do golpe de espera”, afirmou.

“Bolsonaro passou 4 anos atacando as instituições e as urnas eletrônicas, não reconheceu a derrota nas eleições, alimentou os golpistas, compartilhou vídeo dizendo que Lula não venceu, incentivou os acampamentos que pediam golpe e parlamentares aliados estimularam as invasões. Tem orelha, focinho e rabinho de golpista e vai dizer na Polícia Federal que não é golpista?!”, escreveu no Twitter a deputada Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do PT.

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