O que dizem os relatórios de inteligência vazados, segundo o NYT

Leia mais: Outras revelações, segundo a BBC / Lula defende alternativa ao dólar / A Arábia Saudita e o mundo multipolar / Bolívia julga neofascistas, entre outras notas.

O jornalista Eric Nagourney, do jornal New York Times, publicou, na edição de terça-feira (11), um “ponto a ponto” do que se sabe sobre os supostos documentos vazados com informações sigilosas do Pentágono. Abaixo, reproduziremos os principais trechos do texto de Eric. O NYT é um dos mais prestigiados veículos de informação dos EUA e tem notórias ligações com o Departamento de Estado, muitas vezes atuando como órgão difusor de propaganda da política internacional estadunidense. É bom ler o que escrevem levando em conta esse fato.

Vazamento ou hacker? Informação ou desinformação? – Apesar do fato de que vários dias se passaram desde que se descobriu que documentos dos serviços de inteligência dos Estados Unidos – incluindo alguns classificados como “top secrets” – circulavam nas redes sociais, ainda há muitas dúvidas sobre como dezenas de páginas de relatórios do Pentágono foram vazados e sobre quanta importância deve ser dada a eles.

Os documentos são reais? – Sim, segundo os funcionários… pelo menos a maioria. As autoridades americanas estão alarmadas com a divulgação de informações secretas e o FBI está tentando determinar a origem do vazamento. As autoridades acreditam que alguns dos documentos foram alterados. Não está claro quem adulterou os relatórios ou por quê. Seja qual for o motivo, analistas militares dizem que parte do material exagera as estimativas dos EUA sobre os mortos na guerra na Ucrânia e subestima quantos soldados russos foram mortos desde a invasão de Moscou no ano passado.

De onde vem o material? – Há fortes evidências de que isso é um vazamento, não um hacker. Os materiais podem aparecer de repente e aleatoriamente em plataformas como Twitter4chan e o aplicativo de mensagens Telegram – para não falar de um canal Discord dedicado ao videogame Minecraft – mas o que está circulando são fotografias de relatórios impressos. Parecem fotografias tiradas às pressas de documentos sobre o que tem o aspecto de uma revista de caça. Ex-funcionários, depois de analisar o material, dizem que alguém aparentemente pegou um relatório confidencial, colocou em um bolso e depois o tirou de uma área segura para fotografá-lo. Alguns documentos tinham marcações indicando que só poderiam ser vistos pelos Estados Unidos, aumentando a probabilidade de que um funcionário americano vazou a informação.

O que foi revelado sobre a guerra na Ucrânia? – Embora os documentos possam não alterar fundamentalmente nossa compreensão do que está acontecendo no campo de batalha, eles podem fornecer algumas percepções – ou pelo menos pistas interessantes – para os olhos treinados de algum estrategista de guerra russo. Os documentos não têm planos de batalha específicos, mesmo para a contraofensiva ucraniana prevista para o próximo mês. Mas eles detalham planos secretos dos Estados Unidos e da Otan para fortalecer as forças militares ucranianas antes dessa ofensiva. Eles também sugerem que as tropas ucranianas estão em pior estado do que seu governo reconheceu publicamente. Os documentos mostram que, sem um suprimento de munição, o sistema de defesa aérea que manteve a força aérea russa sob controle pode entrar em colapso em breve, o que permitiria ao presidente Vladimir Putin utilizar suas aeronaves de combate implementando ações que poderiam mudar o curso da guerra. Além disso, o próprio fato de os materiais terem vazado – e em particular a confirmação de que o governo dos EUA está espionando aliados e adversários igualmente – pode ser prejudicial para a coalizão geralmente unificada que surgiu para ajudar a Ucrânia a se defender da invasão russa. Também poderia fazer os aliados pensarem duas vezes antes de compartilhar informações críticas.

Os EUA conseguiram penetrar na inteligência russa? – Documentos vazados do Pentágono revelam até que ponto os Estados Unidos penetraram nos serviços de inteligência e segurança russos, permitindo Washington poder alertar a Ucrânia sobre os ataques planejados e aprender sobre a força da máquina de guerra de Moscou. O vazamento reforça uma ideia que os serviços de inteligência já sabem há algum tempo: os Estados Unidos têm maior conhecimento das operações militares russas do que sobre os planos da Ucrânia. Como mostram os documentos, o aparato militar russo está comprometido a tal ponto que a inteligência dos EUA conseguiu obter alertas diários em tempo real sobre a programação dos ataques de Moscou e até mesmo seus alvos específicos. Agora isso pode mudar. O vazamento pode causar danos reais à estratégia de guerra da Ucrânia ao expor quais agências russas forneceram mais acesso aos Estados Unidos, o que dá a Moscou a oportunidade de eliminar fontes de informação.

Quais são os outros países mencionados nos documentos? – Parece que o vazamento vai muito além do material classificado sobre Ucrânia. Os especialistas em segurança que analisaram os documentos que circulam nas redes sociais afirmam que o crescente vazamento de informações também inclui material confidencial sobre Canadá, China, Israel e Coreia do Sul, além do teatro de operações militares no Indo-Pacífico e no Oriente Médio.

Algumas das principais revelações dos documentos – Em fevereiro, um grupo de hackers — agindo sob ordens do Serviço Federal de Segurança da Rússia — poderia ter colocado em risco uma empresa canadense de gasodutos ao danificar sua infraestrutura. / Uma avaliação do Pentágono sugeriu que os líderes do Mossad, o serviço de inteligência de Israel, podem ter encorajado funcionários da agência e cidadãos israelenses a participar dos protestos antigovernamentais que abalaram o país em março. As autoridades israelenses rejeitaram fortemente o relatório, gerando perguntas de analistas israelenses sobre a qualidade da coleta e análise de inteligência dos EUA. / Autoridades da Coreia do Sul, um importante aliado dos EUA, divididas entre a pressão de Washington para ajudar a fornecer munições à Ucrânia e sua política oficial de não fornecer armas letais a países em guerra, temiam que os Estados Unidos pudessem desviar armas sul-coreanas para Kiev. / As forças armadas da Rússia podem estar vacilando, mas o grupo mercenário privado Wagner – liderado por um aliado de Putin – está florescendo em grande parte do mundo. Wagner trabalha para frustrar os interesses dos EUA na África e explorou a expansão para o Haiti, o que os aproximaria da esfera de influência dos EUA. / A fim de se preparar para a introdução de tanques avançados fornecidos pela OTAN nos campos de batalha ucranianos, as forças russas querem implementar um bônus para os soldados que conseguirem danificar ou destruir um deles. / Um dos documentos apresenta uma avaliação dos EUA sobre cenários que poderiam levar Israel a fornecer armas à Ucrânia, o que seria uma violação da atual política israelense. / As autoridades americanas teriam uma avaliação negativa de uma das batalhas mais longas da guerra, em Bakhmut.

Desinformação? Se sim, de quem? – Autoridades em Washington descreveram a divulgação dos documentos como uma violação grave dos serviços de inteligência, mas em Kiev e Moscou parece haver um consenso em dois pontos: a informação é suspeita e o objetivo é um subterfúgio. A única coisa em que discordam é a identidade da pessoa responsável. Em uma declaração ao The New York Times, Mykhailo Podolyak, assessor do presidente ucraniano Vladimir Zelensky, disse que os documentos estavam repletos de “informações fictícias”. “Não há dúvida de que este é mais um elemento da guerra híbrida”, disse ele. “A Rússia tenta influenciar a sociedade ucraniana, semear medo, pânico, desconfiança e dúvida. É um comportamento típico.” Os ucranianos acreditam que o objetivo é enfraquecer a contraofensiva que vão lançar. Na Rússia, blogueiros pró-guerra também comentaram sobre a contraofensiva ucraniana, mas chegaram a uma conclusão diferente. Uma postagem no Gray Zone, canal do Telegram associado ao grupo paramilitar Wagner, disse: “Não devemos excluir a alta probabilidade de que tal vazamento de informações classificadas no momento exato da escalada das hostilidades e após os eventos consumados mostrados nos documentos, é uma desinformação da inteligência ocidental para enganar nosso comando no momento de identificar a estratégia do inimigo na próxima contraofensiva”. Em outros canais russos do Telegram, figuras importantes afirmam que os documentos originais mostraram maiores perdas russas, que eles consideram parte de uma operação de “influência ocidental” com o objetivo de “minar o moral na Rússia e entre as forças russas”, segundo o diretor de uma empresa britânica que rastreia operações de desinformação.

Outras revelações, segundo a BBC

Contraofensiva da Ucrânia durante primavera pode trazer “ganhos modestos”, indicam documentos classificados dos EUA / Legenda da BBC

BBC, empresa de comunicação pública da Inglaterra, divulgou, nesta quarta-feira (12) algumas outras “revelações” dos supostos documentos secretos. Segundo a BBC, os documentos revelam que no conflito da Ucrânia atuam forças especiais ocidentais. O Reino Unido tem o maior contingente (50 agentes), seguido por Letônia (17), França (15), Estados Unidos (14) e Holanda (1). Outro documento, do início de fevereiro, lança dúvidas sobre as chances da Ucrânia de obter sucesso militar em sua próxima contraofensiva, observando que problemas na geração e manutenção de suas forças podem resultar em “ganhos territoriais modestos”. A BBC relata que o Washington Post obteve acesso a outro documento de meados de fevereiro, indicando que o Egito tinha planos de produzir secretamente 40 mil foguetes para a Rússia. O jornal informou que o presidente egípcio, Abdul Fatah al-Sisi, disse às autoridades do país para manter a produção e o transporte em segredo “para evitar problemas com o Ocidente“. O Washington Post descobriu ainda, com base nos documentos vazados, que em 25 de fevereiro Pequim testou um de seus mísseis experimentais, o veículo hipersônico DF-27. O míssil voou por 12 minutos a uma distância de 2,1 mil quilômetros, segundo os documentos. O jornal informou que o míssil experimental tinha uma “alta probabilidade” de penetrar nos sistemas de defesa antimísseis balísticos dos EUA.

Lula defende alternativa ao dólar

A ex-presidenta Dilma Rousseff tomou posse (na quarta-feira, 12, pelo horário de Brasília e na quinta-feira, 13 pelo horário de Pequim) como presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco do Brics. Presente na cerimônia, o presidente Lula, que está em viagem à China, defendeu que os países encontrem alternativa ao uso do dólar nas transações internacionais. “Por que não podemos fazer o nosso comércio lastreado na nossa moeda?“, perguntou ele, sob aplausos, ao deixar o discurso escrito e improvisar, reportou o jornal Folha de S. Paulo. Lula também propôs, segundo a Folha, que o NBD seja uma alternativa ao FMI, “para que os investimentos internacionais não resultem na transferência de comando da política econômica dos países em desenvolvimento”.

A Arábia Saudita e o mundo multipolar

Rede Voltaire informa que dois negociadores saudita e iraniano, Faisal ben Fahrane e Hossein Amir-Abdollahian, que haviam assinado um acordo de reaproximação em 10 de março, em Pequim, reuniram-se de novo na capital chinesa. As duas partes finalizaram a aplicação dos detalhes do acordo. Como consequência, o Presidente iraniano, Ebrahim Raisi, irá a Riad, no fim de abril, a convite do Rei Salman bin Abdelaziz Al Saud. Simultaneamente, o Porto de Gidá recebeu uma fragata militar russa, o “Almirante Gorshkov” e o navio-petroleiro Kama. A Arábia Saudita não recebia navios russos desde a intervenção do Exército russo na Síria contra os jiadistas, então apoiados por Riad. Segundo a Rede Voltaire “a Arábia Saudita considera agora os Estados Unidos como um parceiro entre outros”, afirmação em princípio um tanto ousada já que são muitos os laços comerciais e financeiros que unem Riad e Washington. Mas que as coisas estão mudando de forma veloz no mundo, é uma verdade que o reposicionamento da Arábia Saudita no tabuleiro da geopolítica só faz confirmar.

Bolívia: Paramilitares que humilharam Patricia Arce em fase final de julgamento

As imagens correram o mundo, relevando em toda a extensão a indignidade do que acontecia na Bolívia. Durante os distúrbios que levaram à renúncia do ex-presidente Evo Morales em novembro de 2019, uma multidão ocupou o prédio municipal de Vinto e tirou do edifício a então prefeita Patricia Arce (atualmente Senadora). De pés descalços, ela foi obrigada a caminhar cinco quilômetros sobre pedras. Além de espancá-la, cortaram seus cabelos e a banharam com tinta vermelha. Agora, os criminosos, pertencentes a uma facção paramilitar de extrema-direita, chamada Resistência Juvenil Cochala (RJC) respondem na justiça. O julgamento entrou nesta terça (11) em sua fase final e um veredicto é esperado para esta semana, confirmou o Terceiro Juizado de Execução Criminal de Sucre. Yassir Molina, Mario Bascopé, Fabio Bascopé e Milena Soto são os principais réus. Informações do site Prensa Latina.

Fox News no banco dos réus

Rupert Murdoch, magnata midiático de extrema-direita

Na próxima segunda-feira (17) a rede de TV Fox News, ligada à extrema-direita estadunidense, irá a julgamento acusada de propagar maliciosamente informações falsas sobre a integridade da eleição presidencial de 2020. O dono da empresa, o magnata Rupert Murdoch (92 anos), provavelmente comparecerá e terá que depor. A ação é movida pela Dominion Voting Systems, empresa responsável pelas urnas eletrônicas, que pede US$ 1,6 bilhão de indenização. As informações são da colunista da Folha de S. Paulo, Lúcia Guimarães.

Partido Comunista Francês realiza 39º Congresso

O Partido Comunista Francês, PCF, realizou, de 7 a 10 de abril, o 39º Congresso e reelegeu Fabien Roussel, para um novo mandato como Secretário Nacional. Fabien Roussel considerou, na segunda-feira, 10, na sua intervenção de encerramento, que a França deve reencontrar a soberania na sua política externa, emancipando-se dos EUA e da Otan. Em seu entender, essa seria uma das condições necessárias para que a França seja livre e adote uma política externa independente, o que representaria a possibilidade de não ter de envolver-se em conflitos que não são os seus. “A voz da França deve estar ao serviço da paz, do diálogo, da cooperação e da segurança coletiva”, considerou. Fabien Roussel instou o governo francês a trabalhar por todo o mundo para que se encontre uma solução urgente e negociada para o conflito na Ucrânia. Sobre a situação interna francesa, destacou a mobilização dos últimos três meses na luta contra a reforma das pensões e fustigou o presidente Emmanuel Macron por mantê-la apesar da rejeição dos sindicatos e da maioria da população. “Exigimos ao presidente que respeite os franceses e retire a lei da reforma das pensões – será a única coisa boa que faz desde a sua eleição –, mas se não quiser fazê-lo ao menos que permita ao povo expressar-se num referendo sobre o assunto”, afirmou. Para o dirigente comunista, o desafio é construir uma alternativa de progresso para derrotar a extrema-direita e garantir uma “França livre, forte e feliz”, liberta do capital predador, da corrupção, dos tráficos, do domínio financeiro e da fraude fiscal que delapida os recursos públicos. “Este é o nosso pacto, esta é a nossa proposta aos franceses”, resumiu, defendendo novos acordos sociais baseados na cooperação e no respeito pelos trabalhadores, pelo meio ambiente e pelos serviços públicos. Informações do jornal Avante!.

Alemães manifestam-se contra a guerra

Cerca de três mil pessoas participaram numa marcha pela paz, em Berlim, no sábado, 8, defendendo uma solução diplomática para o conflito armado na Ucrânia. A organização pertenceu à Rede de Cooperação para a Paz, que coordena na Alemanha ações contra a guerra. A manifestação começou na zona de Wedding, bairro central berlinense, com os participantes empunhando bandeiras com a pomba da paz e cartazes com consignas tais como “Não à guerra”, “Os tanques não trarão a paz” ou “EUA e Otan fora da Ucrânia”, numa alusão à crescente intervenção do bloco militar liderado por Washington no conflito. “Diplomacia, não armas” e “Contra as sanções sem sentido, energia barata agora” foram outras palavras de ordem dos manifestantes, denunciando os efeitos inflacionários na Alemanha das medidas “punitivas” impostas pelo “Ocidente” à Rússia e que incluíram o boicote à compra de petróleo e gás russos. Os manifestantes instaram as autoridades alemãs a facilitar conversações que acabem com a guerra, assim como a trabalhar pela criação de uma arquitetura de segurança na Europa “desde Lisboa até Vladivostok”. Informações do jornal Avante!.

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