Coletivo de Mulheres denuncia rotina de assédio sexual na Petrobras

Internamente, empresa recebeu 81 denúncias de assédio entre 2019 e 2022, os anos do governo Bolsonaro

O Coletivo de Mulheres da FUP (Federação Única dos Petroleiros) lidera uma campanha de combate ao assédio sexual dentro da Petrobras. Conforme lideranças da categoria, a prática virou uma rotina para trabalhadoras em diversas unidades da empresa, sobretudo para aquelas que estão embarcadas em plataformas. Um grupo de WhatsApp formado por mulheres petroleiras compilou 53 casos de assédio.

Apenas no mês de março, houve denúncias de casos de machismo e assédio na Replan (Refinaria Planalto de Paulínia), no estado de São Paulo, além de acusações similares na Regap (Refinaria Gabriel Passos) e na Termelétrica de Ibirité, ambas em Minas Gerais. Segundo o Coletivo de Mulheres, mesmo com a mudança do governo Jair Bolsonaro (PL) para o governo Lula (PT), a direção da empresa tem sido negligente.

Para a coordenadora do Coletivo de Mulheres, Patrícia Jesus Silva – que também é diretora da FUP e do Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo (Sindipetro-ES) –, a Petrobras precisa agir. Em fevereiro, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, recebeu uma carta da categoria, que reivindicava a recriação das comissões de diversidade e combate às opressões. Até o momento, porém, não houve respostas.

“O Coletivo de Mulheres da FUP vem cobrando efetividade no combate aos assédios e abusos há tempos, inclusive em carta entregue a Jean Paul Prates, na primeira reunião que tivemos com ele”, lembra Patrícia Jesus Silva. A demanda chegou à Folha de S.Paulo e teria constrangido a direção da Petrobras.

Na visão da petroleira Bárbara Bezerra, diretora do Sindipetro-NF, a rotina de assédio tem inibido trabalhadoras a relatar o que sofrem. “Quando uma mulher denuncia um abuso, seja físico ou emocional, ela tende a ser desacreditada pelas pessoas a sua volta. Eu mesma já passei por situações do tipo dentro da plataforma e a primeira pergunta que fizeram é se eu estava ‘paquerando’ alguém”, diz. “É um desrespeito absurdo. Só queremos trabalhar em paz.”

Coordenador-geral, Deyvid Bacelar também exige que a Petrobras pare de ignorar as denúncias. “A empresa é responsável por dar fim a esse tipo de comportamento, punindo os agressores de forma incisiva, para que essas agressões sejam extirpadas da companhia”, afirma Deyvid.

À GloboNews, Jean Paul Prates declarou que a Petrobras tomará novas medidas de combate ao assédio. Ele disse estar ciente de diversos relatos: “Mulheres, em diferentes momentos da história da companhia, viveram situações de assédio, constrangimento e violências por gênero”, admitiu o presidente da empresa. “Em breve divulgaremos a nossa força de trabalho com novas medidas de fortalecimento da prevenção e combate ao assédio.”

Internamente, a Petrobras recebeu 81 denúncias de 2019 a 2022, os anos do governo Bolsonaro. “A nova gestão da companhia reitera que não tolera qualquer tipo de assédio e violência contra mulher, comprometendo-se a criar um ambiente de confiança para que todas as ocorrências sejam denunciadas”, diz, em nota, a Petrobras.

Um dos casos recentes ocorreu no Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobras), no Rio de Janeiro, onde quatro funcionárias de uma empresa terceirizada de serviços de limpeza denunciaram assédio. Uma delas foi estuprada. “Esses ocorridos são de conhecimento da Petrobras, tendo em vista que as trabalhadoras realizaram denúncia formal nos canais de denúncia da empresa e na delegacia”, diz o Sindipetro-RJ.

O estuprador, porém, não foi sequer afastado e manteve contato com a vítima. “Não teve assistência social, psicológica – e não teve proteção de emprego das vítimas”, afirma Natália Russo, diretora do Sindipetro-RJ. “Uma delas chegou a pedir demissão porque não aguentou a pressão de ficar convivendo com o abusador.”

Diante dessa acusação específica, a Petrobras reconhece que pode ter errado. “O grupo de trabalho vai rever os procedimentos internos de tratamento das denúncias. Se forem identificadas falhas, vai determinar revisão desses respectivos processos”, diz, em nota, a empresa. Mas, para o Coletivo de Mulheres da FUP, revisões sem a participação dos sindicatos não são legítimas. Até quando a Petrobras vai se esconder?

Com informações da FUP

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