Divergência sobre Ucrânia causa divisão no Die Link alemão

Cresce o movimento pela paz. Nos últimos meses, A Esquerda tem lutado para chegar a uma posição comum a respeito da guerra na Ucrânia, mas permanece dividida.

Nos últimos meses, o partido Die Linke (“A Esquerda”) da Alemanha tem lutado com a questão de chegar a um acordo sobre uma posição em relação à guerra na Ucrânia. Die Linke – fundado em 2007 após a fusão do Partido do Socialismo Democrático (PDS) e do Partido Trabalho e Justiça Social – tem uma ligação com o partido governante marxista-leninista da antiga Alemanha Oriental através do PDS.

O problema é que apenas um punhado de deputados e eurodeputados têm algum compromisso com o tipo de política anti-imperialista de princípios que o legado deveria trazer consigo. A liderança do partido fez pouco para distinguir a política do Die Linke sobre a guerra da coalizão governante, enquanto um punhado de membros eleitos é abertamente a favor dos carregamentos de armas sem fim para a Ucrânia enquanto “nós” lutamos contra a Rússia até o último ucraniano.

Em 10 de fevereiro de 2023, a deputada e líder da Plataforma Comunista (uma associação dentro do Die Linke) Sahra Wagenknecht e a publicitária feminista Alice Schwarzer publicaram sua petição do Manifesto pela Paz. O Manifesto apela ao chanceler alemão Scholz para “interromper a escalada das entregas de armas. Já!” e declarou que o governo deveria liderar, nos níveis alemão e europeu “uma forte aliança para um cessar-fogo e negociações de paz“. A petição obteve mais de 750 mil assinaturas. Wagenknecht e Schwarzer aproveitaram esse momento e realizaram um comício pela paz em Berlim em 25 de fevereiro que, de acordo com os organizadores, atraiu 50.000 manifestantes.

A liderança do Die Linke se recusou a apoiar Wagenknecht e a manifestação pela paz. Para encobrir seus rastros, eles usaram o fato de que um punhado de políticos de extrema direita havia assinado a petição para argumentar que o protesto seria uma manifestação de “frente” com a extrema direita. Na realidade, o protesto foi um grande sucesso. Wagenknecht disse aos manifestantes com antecedência que não havia lugar para símbolos de extrema direita no comício, mas qualquer um que desejasse a paz “com um coração honesto” seria bem-vindo. O Conselho da Plataforma Comunista em Die Linke emitiu uma declaração em resposta à acusação de “frente com a extrema-direita” afirmando que “A manifestação era tão inadequada para a extrema-direita quanto uma manifestação sindical seria para empresários se alguns empresários se juntassem a ela”.

Na véspera do comício, o presidente do conselho científico da Fundação Rosa Luxemburgo, o filósofo Michael Brie, escreveu um artigo de opinião no jornal Neues Deutschland acusando a liderança do Die Linke de “recuar e desmobilizar” o comício. Ele criticou a liderança sobre as acusações de aliança com a extrema-direita, apontando que os movimentos históricos anti-OTAN e anti-guerra “não deveriam ser vistos em forma socialista pura. Eles são ótimos porque são heterogêneos e unidos em uma única questão. Ao fazer isso, eles mudam a política – por meio de amplitude, direção clara e precisão pontual. O ‘Manifesto pela Paz’ tem tudo isso.” É importante ressaltar que Brie convocou Die Linke para estabelecer um congresso especial do partido para solidificar a posição do partido sobre a guerra.

No dia 5 de março, o Comitê Federal do Die Linke votou uma moção pedindo ao Comitê que estabelecesse um congresso especial para “substanciar a questão fundamental da posição política de paz da esquerda…” A moção foi rejeitada por 24 votos a 22 com seis abstenções. [4]

O partido poderia não ter sobrevivido ao congresso especial, mas agora está perdendo membros tanto da esquerda quanto da direita. Na sexta-feira anterior à votação da moção, Sahra Wagenknecht declarou publicamente que não concorreria novamente pelo Die Linke. Desde então, Wagenknecht tem aventado a ideia de fundar um novo partido, afirmando que não tem mais relações com o atual executivo do partido e que o Die Linke está seguindo um curso que “quase não tem nada a ver com minha ideia de política de esquerda sensata.” No final de março, a ex-co-presidente do partido, Katja Kipping, chegou a opinar que o Die Linke deve “atualizar” sua tradicional posição anti-OTAN.

Conseguirá Wagenknecht e outros militantes da esquerda alemã reunir apoio suficientemente para este projeto no curto prazo e fornecer um instrumento para o obviamente significativo momento antiguerra alemão, à medida que “A Esquerda” vira para a direita?

Fonte: Socialist Voice

Traduzido por Wevergton Brito