Araguaia: jornal lembra trajetória de cearenses mortos pela ditadura

Dentre os desaparecidos da Guerrilha do Araguaia estão Jana Moroni Barroso, Antônio Teodoro de Castro e Custódio Saraiva Neto, mortos por lutarem contra o autoritarismo

Jana Moroni Barroso, Antônio Teodoro de Castro e Custódio Saraiva Neto. Foto: montagem/reprodução

Episódio dos mais brutais perpetrados pela ditadura militar brasileira, o assassinato dos guerrilheiros do Araguaia, no começo dos anos 1970,  segue ainda sem reposta para várias perguntas que envolvem, sobretudo, o paradeiro das ossadas, as circunstâncias das mortes e a identificação dos algozes. Mesmo com todas as tentativas de apagar os crimes cometidos por militares, que neste caso resultaram na morte mais de 60 militantes do PCdoB e camponeses da região, o esforço por memória, justiça e verdade segue vivo. 

Dentre esses esforços estão reportagens que buscam lembrar o que foi a Guerrilha do Araguaia — movimento armado de luta e resistência promovido pelos comunistas do PCdoB contra o autoritarismo e as arbitrariedades do regime militar. O grupo atuava nos estados do Pará e do Tocantins (Norte de Goiás à época) e foi barbaramente aniquilado em operações do Exército realizadas entre 1972 e 1974. 

Em reportagem recente, o jornal O Povo (CE) recorda a história de três cearenses que atuaram na Guerrilha, mas que ainda hoje seguem desaparecidos: Jana Moroni Barroso, Antônio Teodoro de Castro e Custódio Saraiva Neto. Até o momento, somente a professora paulista Maria Lúcia Petit e o também cearense Bergson Gurjão Farias tiveram seus corpos identificados e sepultados. 

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Vidas ceifadas

Uma das desaparecidas cearenses é Jana Moroni Barroso. Nascida em 1948, em Fortaleza, cursou Biologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, no Araguaia, usava o codinome Cristina.

Ao falar ao jornalista Vítor Magalhães, de O Povo, seu irmão, Breno Moroni, declarou:  “Alguns dizem que ela se entregou seminua, toda ferida, e foi metralhada. Outros dizem que foi presa e carregada em um helicóptero. São confusões históricas, não presto muita atenção nisso. As pessoas que querem resgatar os corpos para dar um enterro digno, eu concordo com elas, mas acredito que o destino deles (…) eles viraram selva. Viraram fertilizantes para uma floresta enorme. A gente pode homenageá-los preservando essas e outras florestas”.

Outra familiar ouvida pela publicação foi Mercês Castro, irmã do guerrilheiro Teodoro de Castro, o Raul. Natural de Itapipoca, ele foi estudante de Farmácia e Bioquímica na Universidade Federal do Ceará. Mercês segue ativa na busca pela verdade sobre Teodoro. “Eu cheguei lá procurando meu irmão, mas quando vou para o Araguaia procuro todos eles”, explicou ao jornal. E completa: “Acho que o Brasil só muda quando pararmos para ouvir os gritos por justiça, dos mortos e desaparecidos, o grito desses meninos que estão lá. Nenhum país vai para frente sem sepultar dignamente seus mortos”.

Familiares do terceiro guerrilheiro cearense, Custódio Saraiva Neto, o Lauro, também foram procurados pelo jornal, mas não foram encontrados. 

Em 2010, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Estado brasileiro pelo desaparecimento de 62 pessoas que participaram da Guerrilha do Araguaia. 

Como desdobramento, o Ministério Público Federal criou a Força Tarefa Araguaia. Após nove anos de investigações, oito oficiais — dentre os quais Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o famoso “Major Curió”, morto em 2022 aos 87 anos — e um médico foram identificados e responsabilizados pela execução e ocultação dos corpos de 17 guerrilheiros do PCdoB. 

As investigações também confirmam que, entre os 68 desaparecidos, 41 foram executados, 32 deles depois de passarem por prisões nas bases militares no circuito da guerrilha. 

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Com informações do jornal O Povo

(PL)

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