Zema quer aumento de 300% para si, mas arrocho para servidores

Se o governador viabilizar a adesão de Minas Gerais ao nefasto Regime de Recuperação Fiscal, salário dos servidores mineiros pode ser congelado por dez anos

O governador Romeu Zema (Novo) quer aprovar na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) o Projeto de Lei (PL) 415/2023, que garante um raro reajuste salarial de quase 300%. Mas o aumento só vai valer para a cúpula do governo, que inclui os secretários estaduais e seus adjuntos, o vice-governador e o próprio governador mineiro.

Se o projeto for aprovado, o salário da elite do governo será reajustado em até 258% já em 1º de abril. O governador – que recebe hoje R$ 10.500 – passaria a ganhar R$ 37.589,96 neste ano. Já os vencimentos do vice-governador saltariam de R$ 10.250 para R$ 33.830,96.

Não bastasse esse disparate, Zema já quer fixar os reajustes para 2024 e 2025. A razão, segundo o governador, é “atrair e manter os mais competentes nos quadros técnicos”. É claro que a regra só vale para ele e os mais chegados. De acordo com a proposta, o salário do titular do Palácio Tiradentes chegaria a R$ 41.845,49 em fevereiro de 2025 – uma alta de 298% em três anos.

A manobra de Zema irritou a oposição na ALMG. “O governador fala que o estado está em crise e quer aumentar o seu salário?”, pergunta o deputado estadual Doutor Jean Freire (PT-MG), líder da Minoria na Assembleia. “Será que ele quer aumentar para doar? Não seria melhor fazer políticas sociais?”, agrega o parlamentar.

A deputada Lohanna (PV), vice-líder do bloco Democracia e Luta, também protestou. “É no mínimo imoral o que o governador propõe enquanto faz um discurso de que o estado está falido. Ele próprio está fazendo propaganda do Regime de Recuperação Fiscal (RRF)”, lembra Lohanna. “Então o estado tem dificuldade para atender os servidores, mas não para atender o governador?”

Para a deputada Leninha (PT), vice-presidente da ALMG, não é só a oposição que critica o PL 415 – “um absurdo desses”. Ela lembra que, segundo Zema, Minas “não tem condições financeiras para pagar o piso da educação, os reajustes dos servidores da saúde e da segurança”. Como explicar os megarreajustes ao povo?  “Nós, do bloco de oposição, votaremos ‘não’ e vamos dialogar com os outros deputados, inclusive os da base governista, pela rejeição do projeto.”

Aos servidores estaduais, que acumulam anos de defasagem e arrocho, Zema não acena com nenhum tipo de recomposição salarial. Ao contrário: se o governador viabilizar a adesão de Minas Gerais ao nefasto Regime de Recuperação Fiscal, o salário dos servidores mineiros pode ser congelado por dez anos.

No modelo de gestão do Partido Novo em Minas Gerais, Zema dá um aumento de 300% para si próprio, mas não promete nem centavos a mais para os trabalhadores do serviço público. O governador mineiro passaria a ter o maior salário entre todos os governantes estaduais do Brasil – mas o funcionalismo continuaria à míngua.

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