Atentado em escola reflete o abandono generalizado da educação pública

Apeoesp cobra que o governo paulista “ouça a comunidade” e “recomponha o quadro de funcionários das escolas estaduais”

Ubes promove Vigília Sou pa Paz em frente à Escola Estadual Thomazia Montoro

A violência dentro das escolas não está restrita à rede pública de ensino, nem a São Paulo. Mas o atentado promovido por um estudante de 13 anos nesta segunda-feira (28), na Escola Estadual Thomazia Montoro, reflete o abandono generalizado a que a educação pública foi submetida no estado. O ataque deixou uma professora morta, além de cinco feridos.

Depois de ouvirem pais, alunos e profissionais que trabalham no colégio, os repórteres Arthur Stabile e Claudia Castelo Branco, do G1, indicaram um quadro de “brigas frequentes, bullying e falta de segurança”. A escola tem 15 professores e 300 estudantes do 6º ao 9º ano do ensino fundamental.

Por se tratar de uma escola de tempo integral, a unidade deveria ter de sete a dez agentes de organização escolar (AGOs, os “inspetores de alunos”). Porém, conta com apenas três. Pior: em diversas unidades da rede estadual, a função tem sido terceirizada. Não é de estranhar a facilidade com que um estudante mascarado e armado com uma faca invadiu o recinto e atacou várias pessoas.

Entidades estudantis e sindicais não pouparam críticas ao governo paulista. Segundo Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel, presidenta da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), a Educação é alvo de “descaso e abandono”, o que deixa os colégios vulneráveis a casos de insegurança e violência. Crimes e atos infracionais são cada vez mais comuns.

“Faltam funcionários nas escolas, o policiamento no entorno das unidades escolares é deficiente e, sobretudo, não existem políticas de prevenção que envolvam a comunidade escolar para a conscientização sobre o problema e a busca de soluções”, diz Bebel. “Este caso, aliás, ocorre exatamente quatro anos depois do massacre ocorrido numa escola estadual em Suzano, que vitimou oito pessoas. O que foi feito de lá para cá?”

Maior sindicato de educação do País, representante de uma base composta por 204 mil professores, a Apeoesp não é contrária a medidas como a instalação de detector de metais e câmeras nas áreas comuns das escolas. Mas, segundo Bebel, é preciso contratar servidores e especialistas capacitados “para realizar o monitoramento desses equipamentos em tempo real”.

Diante de tendências como o “incentivo ao armamento” e a “à banalização da violência”, a sindicalista defende a presença de psicólogos nas unidades da rede, voltados ao trabalho preventivo. “Que o governo do estado ouça a comunidade e, de imediato, recomponha o quadro de funcionários das escolas estaduais – não com pessoal terceirizado, mas com servidores selecionados por meio de concurso público”, diz Bebel.

Na visão da Contee (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino), ataques como o que ocorreu em São Paulo revelam a persistência do extremismo na sociedade brasileira. Em nota, a entidade afirmou que “os casos de agressões e de assassinatos dentro de escolas estão relacionados ao aumento da violência em toda a sociedade, alimentada pelo crescimento da intolerância, da cultura do ódio e das ideais fascistas disseminadas nos últimos anos”.

A Contee também criticou o desmonte do ensino público em curso desde o golpe de 2016, Conforme a entidade, medidas como o teto de gasto provocaram “o contínuo processo de enfraquecimento da educação pública, gratuita e de qualidade socialmente referenciada. Enfrentar os problemas de segurança nas escolas não é possível sem a valorização da educação”.

Na manhã desta terça-feira (28), a Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) promoveu uma manifestação em frente à Escola Estadual Thomazia Montoro, reivindicando “segurança e paz nas escolas”. Batizada de “Vigília Sou da Paz”, a atividade prestou solidariedade à comunidade. A entidade declarou que o ataque “não é um caso isolado, mas, sim, o resultado de uma série de políticas ineficazes e da ascensão do discurso de ódio e da violência”.

“Não se trata apenas de falta de políticas e discussões nas escolas, mas também do aumento, nos últimos anos, de discursos de ódio, contra minorias, crescimento do bolsonarismo e sucatemamento da educação”, disse, em nota, a entidade. De acordo com a Ubes, a gestão Bolsonaro impôs “um projeto de governo que priorizou o desmonte da educação e abandonou alunos e professores”.

Autor