Presos relatam terem sido pagos para participar dos ataques de 8/1 

Informações obtidas em depoimentos colhidos pela Polícia Federal junto aos detidos no dia 8 de janeiro demonstram que atos golpistas foram planejados e financiados

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Conforme avançam as investigações sobre os atos golpistas de 8 de janeiro, mais clara vai ficando a engrenagem que possibilitou os lamentáveis atos de vandalismo aos Três Poderes da República. Longe de ser uma manifestação espontânea de pessoas insatisfeitas com o resultado das urnas, as apurações vêm mostrando que houve planejamento, financiamento e método nos ataques dos bolsonaristas que queriam novamente golpear a democracia. 

Um dos fatos evidenciados é que houve casos de pessoas que foram pagas para participarem dos ataques. Conforme reportagem do UOL, baseada em depoimentos sigilosos prestados à Polícia Federal, teve gente que, desempregada, aceitou viajar quilômetros e participar das ações em troca de R$ 1.200 em dinheiro. 

Segundo o jornalista Aguirre Talento, “a informação de pagamentos para participação no ato antidemocrático do dia 8 de janeiro fortalece a suspeita dos investigadores de uma estrutura financeira por trás do ato. Além dos ônibus gratuitos, a alimentação também era fornecida gratuitamente no quartel-general do Exército em Brasília, conforme depoimentos dos próprios presos”. 

Essas e outras informações foram levantadas a partir de depoimentos — colhidos entre as pessoas presas após os ataques — que não costumam ser detalhados, devido à grande quantidade inicial de detidos, mas servem de base para compreender como se deu a preparação dos ataques e aprofundar as investigações. 

Além dessas informações, os depoimentos analisados pelo site até agora também mostraram, por exemplo, a participação de parlamentares e candidatos bolsonaristas. 

Uma das detidas, Gizela Cristina Bohrer relatou que rumou de seu estado, Mato Grosso, para Brasília em ônibus gratuito de uma caravana organizada pela deputada federal Coronel Fernanda (PL-MT) e pela candidata a deputada federal Analady Carneiro da Silva (PTB-MT), que não se elegeu, além do candidato a deputado estadual Rafael Yonekubo (PTB-MT), que ficou como suplente. Os três negaram as acusações. 

Outro fato trazido à tona diz respeito à participação de evangélicos, mobilizados por igrejas de vários estados, na tentativa de golpe, situação relatada por ao menos cinco pessoas. 

Leia também: Igrejas mobilizaram golpistas e financiaram 8 de janeiro

Lesa Pátria

Os ataques seguem sendo investigados e vem gerando ações como a Operação Lesa Pátria, que cumpriu sua oitava fase nesta sexta-feira (17). Ao todo, foram cumpridos 32 mandados judiciais de prisão preventiva e 46 de busca e apreensão cumpridos em dez estados: Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul; Rondônia e São Paulo. Do total de presos preventivamente

Além das prisões preventivas realizadas durante as diversas fases da Lesa Pátria, 2.151 pessoas suspeitas de participar dos atos já tinham sido presas entre os dias 8 e 9 de janeiro, no acampamento montado em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília. Destas, 294 seguem presas. A operação apura crimes como abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.

(PL)

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