Maioria dos trabalhadores resgatados na Serra Gaúcha é negra e jovem 

Dados do Ministério do Trabalho mostram que dos 207 trabalhadores explorados por vinícolas do Rio Grande do Sul, 95% se declaram negros e 56% têm entre 18 e 29 anos

Operação de resgate em Bento Gonçalves. Foto: divulgação

A herança escravista e o racismo estrutural estão na base do trabalho análogo ao escravo, uma chaga social que mostra o quanto o Brasil precisa ainda avançar para atingir a igualdade e garantir direitos. A cada operação de resgate realizada, o perfil dos explorados se repete: a grande maioria é formada por homens negros, jovens, nordestinos e com baixa escolaridade. 

Dados do Ministério do Trabalho e Emprego publicados pelo jornalista Leonardo Sakamoto, no UOL, mostram que, dos 207 trabalhadores resgatados da produção de vinho em Bento Gonçalves (RS), 56% têm entre 18 e 29 anos e o restante, entre 30 e 59 anos; 93% nasceram na Bahia, 95% se declaram negros (64% pardos e 31%, pretos) e 61% não concluíram o ensino fundamental ou são analfabetos. Eles prestavam serviço para as vinícolas Aurora, Salton e Garibaldi. 

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Tais características se assemelham ao perfil geral de outros trabalhadores resgatados. Em 2022, 92% deles eram homens, 29% tinham entre 30 e 39 anos, 58% nasceram no Nordeste (sendo que 51% residiam na região) e 83% se autodeclararam negros, 15% brancos e 2% indígenas. Quanto à escolaridade, 23% declararam ter até o 5º ano incompleto e 20% haviam cursado do 6º ao 9º ano incompletos. Do total, 7% eram analfabetos.

Em 22 de fevereiro, 207 homens foram resgatados após alguns deles fugirem e pedirem ajuda à polícia. Trabalhadores relataram que além dos atrasos nos salários e das jornadas extenuantes — que chagavam a ir das 4h às 21h —, ainda eram obrigados a comer alimentos estragados; alguns contaram terem sido vítimas de ameaças e torturas, incluindo o uso de choques elétricos e spray de pimenta. 

Além disso, os trabalhadores foram coagidos a permanecer no local, em alojamentos precários, sob pena de pagamento de multa por quebra do contrato, e eram obrigados a comprar itens básicos a preços muito acima do mercado. Eles também contaram que foram prometidos salário de R$ 4 mil mensais e boas condições de serviço, o que passou longe de acontecer. 

“Não é só porque querem economizar não cumprindo a lei, querem lucrar em cima disso. As pessoas são tratadas como trabalhadores de segunda categoria em razão ou da cor da pele ou da origem”, disse à AFP o coordenador Nacional da Divisão de Erradicação do Trabalho Escravo do Ministério do Trabalho, Maurício Krepsky sobre a mentalidade que guia a exploração de trabalhadores de maneira tão degradante e desumana. 

(PL)

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