Lula recebe diretoras de ‘Quando Falta o Ar’, que estreia nos cinemas

Mulheres que protagonizam documentário, que estreia nesta quinta-feira, foram recebidas por Lula. O filme retratou seu trabalho da linha de frente do SUS durante a pandemia

Foto: Ricardo Stuckert/ PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua esposa Janja Lula da Silva se reuniram, na tarde desta quarta-feira (8), com as diretoras do filme “Quando falta o ar”, um documentário que acompanha a trajetória de mulheres profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) durante o ano de 2020, o primeiro da pandemia de covid-19. Ana e Helena Petta, que são irmãs, estavam acompanhadas das mulheres que protagonizam o filme. Na terça-feira, o filme foi exibido para autoridades em Brasília.

As filmagens mostram profissionais de saúde atuando em grandes cidades, hospitais de campanha, povoados ribeirinhos, em um presídio e nas ruas. O filme exibe a conexão entre o trabalho técnico de enfermeiros, auxiliares e médicos com a religiosidade, desigualdade e racismo estrutural no Brasil.

Eli Baniwa com Janja por Ricardo Stuckert

Entre os protagonistas do filme recebidos por Lula esteve a indígena Eli Baniwa. Ela obteve o diploma de médica aos 35 anos, na Universidade Federal do Pará, após ser alcançada por programas sociais como o Bolsa Permanência, relatou durante o encontro que chegou a passar seis horas atendendo sozinha dentro do posto de saúde. “Eu vi colegas meus, médicos jovens, se recusando a ir para a frente de batalha, então sinto orgulho de estar nesse filme”, disse.

Lula e Helena por Ricardo Stuckert

“É muito simbólico e importante o presidente Lula e a Janja receberem essas profissionais de saúde. É um reconhecimento ao filme, mas ao trabalho delas, uma forma de homenageá-las”, afirmou Helena Petta, após o encontro. Além de Lula, a equipe do documentário também esteve com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, e com o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta. “É histórico a gente estar hoje aqui, com vocês, presidente, fazendo uma espécie de reparação”, disse Ana.

O filme, que teve uma pré-estreia na terça (7), em Brasília, com a presença de Janja e outras ministras do governo, estreia oficialmente em diversas salas de cinema do país nesta quinta-feira (9). Vencedor do “É Tudo Verdade”, o mais importante festival de documentários da América Latina, o filme chegou a entrar na disputa prévia para concorrer ao Oscar 2023.

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Protagonismo feminino

De acordo com a sinopse, o documentário “aborda a pandemia com ênfase no cuidado, revelando a face humana da luta coletiva contra a covid-19 em entrevistas com médicos, enfermeiros e agentes comunitários”. 

Ana Petta, atriz e cineasta, e Helena Petta, médica infectologista e cineasta, acompanharam as profissionais mulheres, que representam mais de 70% da força de trabalho do SUS, em cinco estados do país, de São Paulo à Amazônia.

“É uma memória coletiva, nós todos aqui somos sobreviventes dessa tragédia e vamos narrar essa história de alguma forma”, disse Ana Petta. “A gente espera que o filme possa contribuir na construção dessa memória coletiva e que sirva para que as pessoas entendam definitivamente a grandiosidade e a força do SUS”, destacou Ana Petta. Segundo ela, o presidente, que ainda não viu o filme, ficou muito interessado em saber mais informações sobre o trabalho dessas profissionais de saúde 

“Ele [Lula] ficou muito curioso para entender como era o trabalho do SUS durante a pandemia e como as profissionais de saúde tinham que lidar com as medidas anticientíficas adotadas pelo governo anterior, como a campanha em torno da cloroquina”, contou Ana.

As profissionais da saúde então expuseram ao presidente as condições às quais foram submetidos pacientes na pandemia: “Tinha gente que tomava o kit cloroquina uma vez por semana, por cinco semanas. A gente perdeu amigos, mães, colegas de trabalho surtaram”, relatou Conceição Celestino, agente comunitária há 30 anos, que atua no Morro da Conceição, na Zona Norte do Recife, região periférica da cidade.

Helena explicou o motivo de apresentar o filme a Lula e aos ministros no dia Internacional da Mulher. “A gente sabe que 75% dos profissionais do SUS são mulheres”, declarou. “[Durante as filmagens] ficou evidente que quem estava na linha de frente eram as mulheres”, complementou a cineasta.

Médica pernambucana e professora da Universidade Federal de Pernambuco, Rafaela Pacheco arrancou risadas ao dizer que costuma brincar com seus alunos e alunas: “Eu digo muito em sala que o SUS é mulher. Deveria ser ‘a’ SUS”.

Foto de Ricardo Stuckert com equipe do governo, da produção do filme e protagonistas

Janja Lula da Silva, que esteve ontem na estreia no documentário, destacou que considerou muito importante o trecho do filme que alcança os presídios e mostra como foi realizado esse atendimento às pessoas encarceradas. Representando as médicas que atuam em presídios e que não interromperam o trabalho durante a crise da Covid-19, está Andréia Beatriz, que é reconhecida por fazer um trabalho exemplar como médica da família e comunidade na Penitenciária Lemos de Brito, em Salvador (BA). “Quando comecei a atender, depois que fiz parte do programa de Interiorização do Trabalho em Saúde, no começo dos anos 2000, as pessoas que chegavam para atendimento perguntavam quando a médica chegaria”, compartilhou ela, mulher negra, também presente no encontro desta tarde.

Sentada ao seu lado, emocionada, Conceição Celestino fez questão de reafirmar a sua identidade, que rompe os estereótipos que por tanto tempo definiram a classe médica: “Para mim, mulher, negra, candomblecista, saio daqui acreditando que ainda vem muita coisa boa por aí porque tenho certeza de que com o senhor a gente vai chegar muito longe”.

O programa Mais Médicos, criado em 2013, durante o Governo Dilma, também foi pauta do encontro, embora não seja foco do filme. Para a médica Rafaela Pacheco, o programa mudou o interior do Brasil. “Eu já atendi pessoas que aos sessenta anos estavam em sua primeira consulta, então poucas vezes na minha vida senti tanto orgulho de ser brasileira como quando passei na porteira da casa de Dona Lindu, em Caetés, acompanhando colegas médicas cubanas, e pude mostrar a elas que aquela era a casa da sua mãe, presidente”.

Sessões especiais

O documentário “Quando falta o ar” entra em circuito nacional nesta quinta-feira, quando poderá ser assistido pelo grande público. O presidente Lula, a ministra Nísia Trindade e o ministro Paulo Pimenta sinalizaram que o Governo Federal poderá apoiar exibições abertas em espaços educativos e de saúde. O filme foi o grande vencedor do conceituado festival É Tudo Verdade, em 2022.

Saiba onde assistir o filme, ainda hoje:

Em São Paulo, o filme pode ser visto em sessões no Cine Belas Artes (Rua da Consolação, 2423) às 14h30; no Espaço Itaú Unibanco Augusta (Rua Augusta 1470/1475), às 16h50, 18h30 e 20h00 e Frei Caneca (Rua Frei Caneca, 569), às 13h30 e 19h30.

Em Brasília, o filme tem exibição no Espaço Itaú de Cinema (SGCV Sul – Lote 22 – Loja Âncora 3A – Shopping Casa Park), às 17h00, 18h30, 20h00.

No Rio de Janeiro, é possível ver o documentário na Estação NET Botafogo (Rua Voluntários da Pátria 88), às 19h20.

Em Porto Alegre, ele está no Espaço de Cinema Bourbon Country (Rua Túlio de Rose), às 19h20.

Em Salvador, está no Cine Metha Glauber Rocha (Praça Castro Alves s/n), às 17h10 e 18h40.