Além de militantes, Brasil precisa punir “quem financia atos golpistas”

Para o jornalista norte-americano David De Jong, apoio de empresários ao bolsonarismo lembra relação entre grupos alemães poderosos e o nazismo

O Brasil acerta ao tentar identificar, denunciar e punir empresários que financiam atos golpistas, como a invasão à sede dos Três Poderes, em 8 de janeiro. A opinião é do jornalista norte-americano David De Jong, autor de Bilionários Nazistas – A Tenebrosa História das Dinastias Mais Ricas da Alemanha.

Segundo o jornal O Globo – que entrevistou De Jong –, seu livro “já é considerado uma das mais originais reflexões sobre os limites do monumental esforço de reeducação histórica conduzido pela sociedade alemã do pós-guerra”. O estudo disseca a trajetória de cinco famílias que colaboraram com o regime nazista e que, hoje, estão à frente de grandes grupos empresariais. É o caso dos Quandt (BMW, Mini Cooper e Rolls-Royce) e dos Porsche-Piëchs (grupo Volkswagen).

“O empresariado alemão não ofereceu, com raras exceções, nem desculpa sobre a responsabilidade moral que teve no financiamento da máquina de guerra nazista e de seus crimes”, diz De Jong. “Essas famílias se beneficiaram do maior programa de trabalho forçado na História da Humanidade – entre 12 milhões e 20 milhões de europeus foram deportados para a Alemanha para trabalhar em situação análoga à da escravidão. Estima-se que 2,5 milhões morreram nas fábricas espalhadas pelo país.”

Mesmo com o Tribunal Militar de Nuremberg, esses empresários ficaram impunes. “A lógica de que eles eram muito grandes para serem punidos – o que, aliás, lembra o socorro dado aos bancos durante a crise financeira global – ajudou a calcar um país conservador, com hierarquias bem definidas, inclusive sobre quem tem o direito ao esquecimento”, afirma o escritor.

Os herdeiros desses empresários são hoje “atores poderosos” que estão “no topo da pirâmide econômica”, mas que “enriqueceram com o trabalho forçado – e a eles foi permitido jogar a História para debaixo do tapete”. Nem todos os colaboradores do3º Reich eram nazistas. Só que “a questão não era a ideologia, mas, sim, a necessidade de seguir enriquecendo. Para isso, era central que a economia se estabilizasse e depois crescesse, como Hitler prometeu a eles em 1933”, resume o autor. “A essência do problema é a amoralidade do capitalismo”

No Brasil, sob o mesmo pretexto de ter um ambiente de paz e prosperidade, dezenas de grandes empresários brasileiros ajudaram igualmente a financiar a tortura durante a ditadura militar. Assim como os parceiros dos nazistas, muitos desses empresários não gostam nem sequer de tocar em tão incômodo assunto.

Agora, graças a investigações do STF (Supremo Tribunal Federal) e da Política Federal, o Brasil começa a descobrir quem são os empresários bolsonaristas responsáveis pelo financiamento de ações antidemocráticas. Para De Jong, é preciso tirar lições de exemplos históricos, como o da Alemanha ante o nazismo, para que tais erros e crimes sejam coibidos.

“A lição mais direta é a necessidade de investigar não só militantes e mentores ideológicos, inclusive com cargo eletivo, dos assaltos à democracia, que são, claro, os protagonistas da barbárie. Mas também quem financia atos e faz propaganda golpista”, afirma. “É preciso denunciá-los e puni-los.”

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