O reduto da birosca

Os juros altos foram transformados em celebridades e passaram a mandar na crise de desempenho.

O grande objetivo de quem deseja o poder é mandar. Na vida pública, mandar é mais importante do que administrar. Nem sempre quem administra manda. Quem manda nem sempre parece que manda, são as malícias da vida pública, faz parte dissimular as rédeas do poder. Esse parece ser o jogo das diretrizes econômicas brasileiras.

Isso parece ser uma coisa vaga, tanto o “jogo” como as “diretrizes”. Exatamente por ser muita coisa em jogo e muitas diretrizes vagas. A própria essência da federação de partidos que derrotou o fascismo que sempre pareceu ser fascismo, é uma coisa vaga, que não parece, mas é. As diretrizes de quem votou, acreditando num revogaço geral, nunca foram vagas, mas agora parecem completamente vagas.

Os juros altos foram transformados em celebridades e passaram a mandar na crise de desempenho. Lula se enfureceu e protestou. Gleisi Hoffmann deu voadoras e disse isso e aquilo outro, Haddad se calou. Roberto Campos Neto permanece presidente, da mesma forma que os juros altos permanecem distribuindo autógrafos para o jornalismo capacho. Nesse caso, quem parece que manda é o mercado.

Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia e do protetorado de Kassab, indica uma lista de conselheiros entreguistas para compor o que parece ser o poder da Petrobrás, todos eles pares bolsonaristas. Lula não se enfureceu e nem protestou. Gleisi Hoffmann deu voadoras coerentes e precisas. Haddad se calou. Paulo Pimenta, ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, disse que era isso mesmo.

Ele disse, digo, Paulo Pimenta, que todos os nomes foram escolhidos de forma consensual, entre o presidente da estatal, Jean Paul Prates, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que levou voadoras e silêncios cortantes. Lula permaneceu calado. Gleisi não falou mais e Haddad nem disse isso e nem aquilo, deixando parecer que quem manda mesmo é o mercado.

Ao passar ao lado de um posto de gasolina, aqui perto de onde eu moro, vi um funcionário subindo no alto de uma escada, para mudar para cima, o preço dos combustíveis. Eu perguntei quem mandou e ele disse que foi o gerente, que é quem manda, acrescentando que isso ia acabar com as diretrizes do movimento. Parece que os centavos aditivados parecem muito mais poderosos do que aparentam.

O povo parece que não entende esse jogo, muito menos as diretrizes que levam ao superlucro da estatal, que entregou aos acionistas um megadividendo de mais de R$ 215 bilhões, quando o governo só anunciou um mini risível aumento do salário mínimo. Uma coisa parece não ter ligação nenhuma com a outra, mas só parece, pois tudo isso faz parte do mesmo jogo de diretrizes. Nesse caso, quem parece que manda mesmo é o mercado.

Parece que Lula volta ao seu solilóquio e diz que: “Não podemos aceitar a ideia da notícia de hoje. A Petrobrás entregou em dividendos mais de R$ 215 bilhões, quando ela deveria ter investido metade no crescimento econômico desse país, na indústria brasileira, na indústria naval. A Petrobrás, ao invés de investir, resolveu agraciar os acionistas minoritários com R$ 215 bilhões, tendo um lucro de R$ 195 bilhões”. O mercado se calou.

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