Vereador defende debate sobre trabalho de cordeiros no Carnaval

Augusto Vasconcelos (PCdoB/BA) diz que o destaque do Carnaval baiano foi a revolta dos cordeiros, denunciando as péssimas condições de trabalho e remuneração

Cordeiros durante o carnaval de 2014 | Foto: Marina Silva/Correio

Trabalhadores e trabalhadoras de diversos blocos de carnaval em Salvador acabaram abandonado seus postos nos últimos dias e a atitude acabou gerando uma série de incômodos aos foliões que pagam pelos blocos – deixando vários artistas em saia justa com os associados.

Com espera de mais de 6 horas, artistas como Ivete Sangalo e Denny Denan, da Timbalada, enfrentaram transtornos na saída de seus blocos após os cordeiros, nome dado a função de segurar as longas cordas que circundam os trios elétricos e separam o folião pagante (os de abadá) da tradicional “pipoca” (aqueles que aproveitam de graça), soltarem as cordas como ato de reivindicação.

“Tô me expondo aqui humildemente porque tem coisas que vocês não sabem. O que aconteceu com a gente hoje também aconteceu com Ivete Sangalo e aconteceu com mais quatro artistas. Acho que os cordeiros combinaram alguma por** aí e eu não sei o que foi que aconteceu”, disse o vocalista da Timbalada em vídeo publicado nas redes sociais.

Segundo o portal Caçamari, o que Denny esqueceu de informar aos foliões é que os trabalhadores atrasaram a saída dos trios em razão da falta de pagamento.

Após a repercussão do caso, o vereador do PCdoB e ouvidor-Geral da Câmara Municipal da cidade, Augusto Vasconcelos, defendeu melhores condições de trabalho categoria.

“Quando a consciência se junta com a mobilização, o resultado é união contra as opressões. Um dos episódios mais marcantes desse Carnaval, sem dúvida, foi a revolta dos cordeiros, que denunciaram as péssimas condições de trabalho e remuneração, enquanto os blocos faturam milhões”, disse.

Ao Portal Vermelho, o parlamentar disse nesta quarta-feira (22) que irá propor a realização de uma Audiência Pública sobre o tema “visando garantir que esses trabalhadores e trabalhadoras tenham seus direitos respeitados”.

Precariedade

Os cordeiros são empregados de forma temporária para os seis dias de Carnaval em Salvador ao custo atual de R$ 60 a diária, onde já está incluso o transporte, mais alimentação e água.

Segundo o vereador, a categoria está reclamando que “além do pequeno valor que recebem de diária, a alimentação e água tem sido reduzida em comparação com carnavais anteriores.”

“Alguns cordeiros nos relataram que receberam apenas uma garrafa de água e nos anos anteriores chegaram a receber de quatro a cinco em determinados blocos. Além disso, eles alegam que alimentação fornecida foram biscoitos ao longo do circuito”, disse Vasconcelos.  

Fiscalização

Um levantamento realizado pelo Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) e publicado pelo Metropress, apontou que houve uma redução na entrega de água e na qualidade dos alimentos ofertados aos cordeiros, levando a diversos casos de mal-estar e desmaios durante o trabalho.

Segundo a entidade, mais de 16 mil cordeiros foram acolhidos durante a ação do Cerest vinculado à Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Salvador, até o último de Carnaval (19/2). As equipes inspecionaram as condições de trabalho dos profissionais que têm importante função na condução das cordas dos blocos.

De acordo com o portal Aratu, 35 blocos foram fiscalizados: 26 estavam em conformidade, 6 apresentaram fornecimento irregular de alimentos aos cordeiros, 2 estavam com ausência de equipamentos de proteção (sapato fechado, luvas, protetor solar e protetor auricular) e 7 foram notificados.

A fim de evitar novos transtornos e corrigir as irregularidades, o Cerest orientou os donos de blocos e profissionais informais atuantes na festa. Além dos fatores apresentados, oito crianças foram encaminhadas aos centros de convivência da Prefeitura após constatação de trabalho infantil com ambulantes.

O órgão também realizou uma investigação epidemiológica em mais de 100 casos de trabalhadores atendidos nos módulos assistenciais dos circuitos. Desse total, 53 foram confirmados como acidente de trabalho em circunstâncias como quedas, desidratação e ferimentos como corte.

Na ocasião, a coordenadora do Cerest, Tiza Mendes pediu a colaboração através de denúncias sobre más condições de trabalho para que a entidade possa atuar e coibir tais práticas irregulares. “Nossas equipes estão de prontidão para acolher e escutar as demandas dos cordeiros e cobrar para que oferecem condições dignas para execução do trabalho desses profissionais que são parte da força fundamental da festa”, disse.

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