Fase de resgate ‘próxima do fim’ após terremoto

Apesar dos resgates milagrosos após tanto tempo, o número de mortos deve aumentar acentuadamente para além dos atuais 37 mil.

Serap Donmez é resgatado dos escombros de um prédio desabado em Hatay 176 horas após o primeiro terremoto

Um menino de 13 anos foi salvo, nesta segunda (13), uma semana depois que o terremoto mais mortal da atualidade derrubou o prédio onde ele morava com a família na Turquia. Muitas histórias assim encheram as equipes de resgate de esperança. Mas o cheiro da morte infesta o ar com tanta gente soterrada, após a retirada de 37 mil cadáveres debaixo dos escombros da Turquia e da Síria. Autoridades como o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffith, já falam em encerrar esta fase de resgates e passar a dispensar energia em oferta de condições de recuperação dos sobreviventes e das cidades.

É difícil imaginar até onde este número deve chegar. As autoridades turcas dizem que cerca de 13,5 milhões de pessoas foram afetadas em uma área de aproximadamente 450 km. Na Síria, cerca de 4,1 milhões de pessoas precisam de assistência.

O primeiro terremoto ocorreu às 4h17 na segunda-feira (6) passada e foi centrado no distrito de Pazarcik, na província de Kahramanmaras. Menos de 12 horas depois, um segundo tremor de magnitude 7,6 atingiu a mesma região. Mais de 100 tremores secundários foram registrados acabando de derrubar prédios que apresentavam riscos estruturais. Pelo menos 81 terremotos foram de magnitude 4, 20 de magnitude 5, três de magnitude 6 e dois de magnitude 7, ainda na segunda-feira. Milhares de pessoas também foram afetadas na fronteira, nas províncias sírias de Aleppo, Idlib, Hama e Latakia. 

Esperança se esvaindo

Temperatura registrada no dia 9 de fevereiro e piorando ainda mais, esta semana.

A esperança de encontrar outros sobreviventes nos escombros diminui rapidamente, especialmente com as equipes de resgate vindas de todo o mundo ficando exaustas diante de tanta frustração. O frio congelante só piora com temperaturas caindo a menos seis graus, com muita fumaça tóxica vinda de todo tipo de material queimado para aquecer as pessoas nas ruas, inclusive plástico e borracha.

Cada vez menos se encontram vidas, mas cada uma é celebrada por todo o país. Avó, mãe e filha foram resgatadas por um túnel cavado exaustivamente; uma jovem foi recuperada e sua irmã estava perto disso; uma menina de 10 anos foi resgatada em outra localidade; pelo menos duas outras crianças e três adultos também foram salvos. Toda essa gente esteve esse tempo todo desidratada, sem alimentação, machucada e com frio.

A agência de gerenciamento de desastres da Turquia disse que mais de 110.000 equipes de resgate participaram do esforço com a ajuda de mais de 5.500 veículos, incluindo tratores, guindastes, tratores e escavadeiras. O Ministério das Relações Exteriores disse que 95 países ofereceram ajuda. O foco das equipes, agora, é acabar de demolir edifícios perigosamente instáveis.

Retorno de resgates para casa

Os socorristas poloneses anunciaram que partiriam na quarta-feira, depois de muito ajudarem. Enquanto isso, na devastada e bela cidade medieval síria de Aleppo, Griffiths, disse que a fase de resgate estava “chegando ao fim”, apesar da desigual dificuldade de ajuda internacional para o país em guerra civil.

“Agora a fase humanitária – a urgência de fornecer abrigo, atendimento psicossocial, alimentação, escolarização e um senso de futuro para essas pessoas – é nossa obrigação agora”, disse ele a repórteres.

O número de mortos na Turquia agora excede os 31.643 mortos do terremoto de 1939, disse a Presidência de Gerenciamento de Emergências e Desastres da Turquia, tornando-o o pior terremoto na história moderna do país.

Menina de 4 anos é resgatada após 178 horas sob escombros

O número total de mortos na Síria, uma nação devastada por mais de uma década de guerra, chegou a 5.714, incluindo aqueles que morreram em um enclave rebelde e áreas controladas pelo governo.

É o sexto desastre natural mais mortal neste século, atrás do tremor de 2005 que matou pelo menos 73.000 no Paquistão.

A Confederação Empresarial e de Negócios da Turquia, uma organização empresarial não-governamental, estimou os prejuízos financeiros do terremoto somente na Turquia em US$ 84,1 bilhões. Há vilarejos de interior onde nenhum imóvel ficou de pé.

O frio agrava tudo conforme não chegaram tendas suficientes para os sem-teto, forçando as famílias a se amontoarem nas disponíveis. “Dormimos na lama, todos juntos com duas, três, até quatro famílias”, disse uma das sobreviventes.

As autoridades turcas disseram na segunda-feira que mais de 150.000 sobreviventes foram transferidos para abrigos fora das províncias afetadas. Essas pessoas saem de suas localidades sem saber o que vão viver em outros locais, nem o que farão diante trauma das inúmeras perdas que viveram. Tem pessoas em choque após sobreviverem sozinhas, após perder toda a família, além de todos os seus bens e trabalho.

É possível ser ainda pior na Síria

O Fundo Monetário Internacional pediu um esforço internacional para ajudar a Síria, onde o noroeste controlado pelos rebeldes recebeu pouca ajuda.

Apenas uma travessia da Turquia para a Síria está agora aberta para ajuda da ONU, embora as Nações Unidas digam que esperam abrir mais duas.

Houve uma crescente frustração entre os trabalhadores humanitários e civis nas áreas controladas pelos rebeldes da Síria.

“Pedimos desde os primeiros dias da catástrofe à ONU para intervir imediatamente”, disse o chefe da coalizão de oposição apoiada pela Turquia, Salem al-Muslet. “A ONU quer se exonerar de desapontar as áreas libertadas.”

Com informações da Aljazira