Damares ignorou pedido da Defesa Civil de Roraima para yanomamis  

Novos documentos mostram que governo Bolsonaro sabia da grave crise humanitária vivida por indígenas e não atendeu nem mesmo pedido para a entrega de cestas básicas

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O governo de Jair Bolsonaro (PL) tinha conhecimento do grave quadro enfrentado pelo povo Yanomami ao menos desde 2021 e ignorou até mesmo pedidos da Defesa Civil de Roraima para levar cestas básicas à região, apontam novos documentos obtidos pela Agência Brasil. 

Embora o cuidado com a população indígena seja de responsabilidade federal, o órgão local teria, inclusive, manifestado a intenção de colaborar e ainda assim, nenhum encaminhamento foi feito.

“O governo estadual pediu o apoio federal para que pudéssemos reforçar a ação humanitária em comunidades indígenas isoladas pelas chuvas intensas de 2021 e também às da área yanomami”, contou à agência o coordenador da Defesa Civil de Roraima, coronel Cleudiomar Alves Ferreira. 

Ele se refere a pedido feito em junho de 2021, por meio de ofícios encaminhados aos extintos ministérios da Mulher, Família e Direitos Humanos e Desenvolvimento Regional (MDR) que estavam, à época, sob o comando de Damares Alves e Rogério Marinho. 

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A Defesa Civil do estado esperava ter oito mil cestas básicas adicionais para serem distribuídas aos indígenas, além das que já seriam levadas para famílias atingidas por fortes chuvas ocorridas em 2021, e apoio logístico para o transporte dos produtos. Mas, o ministério de Damares disse que não teria como ajudar. 

Ferreira afirmou ainda: “Não sei dizer o que aconteceu depois, mas avalio que se tivéssemos recebido o apoio solicitado, se a ajuda humanitária tivesse chegado em caráter emergencial, teríamos conseguido atender também aos yanomami, o que não conseguimos fazer devido, principalmente, à falta de apoio logístico [de transporte]”. 

Tais documentos somam-se a outras evidências que, em seu conjunto, explicitam o descaso com que o governo Bolsonaro tratou a crise humanitária yanomami. 

No final de janeiro, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania apontou que o antigo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, comandado pela hoje senadora bolsonarista Damares Alves (Republicanos-DF), não deu a assistência necessária para reverter a penúria daquele povo. 

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O relatório — encaminhado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública para apuração dos casos — mostra que entre 2019 e 2022 houve ao menos sete processos administrativos em que constavam alertas sobre as violências sofridas pelo povo yanomami. Conforme noticiado, a pasta teria “se eximido de responsabilidade”, redirecionando ou dizendo que os casos não eram de sua alçada. 

Ainda de acordo com o atual ministério, o governo Bolsonaro não atendeu as recomendações de órgãos internacionais, como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, sobre a saúde dos yanomamis.

Segundo informou o jornal O Estado de Minas,  “há pelo menos 22 casos em que o governo anterior omitiu violências ou recomendações feitas pela entidade. Os documentos analisaram informações de 2019 a 2022, época em que Damares esteve à frente da pasta”. 

Ao ser empossada senadora nesta semana, Damares se irritou com jornalista que a questionou sobre a situação dos yanomamis. “O que você quer saber?”, perguntou, aborrecida. Tentando se esquivar de suas responsabilidades, declarou que “os yanomami vivem uma situação de calamidade há dezenas de anos” e acrescentou que só responderá às acusações na Justiça.