Visibilidade Trans: Audiovisual não tem desculpa para apelar a “transfake”

O catálogo de atrizes e atores travestis e transexuais talentosos é cada vez maior e diverso. Não faz sentido colocar um homem cisgênero para interpretar uma trans.

A atriz trans, professora, ativista e prostituta brasileira Keyla Brasil subiu ao palco do Teatro São Luiz, em Lisboa neste início de ano, e interrompeu o espetáculo “Tudo sobre a minha mãe”, baseado em filme do cineasta espanhol Pedro Almodóvar.

A ativista trans começou a gritar em cima do palco: “Transfake! Desce do palco! Tenha respeito por este lugar”. A peça foi interrompida e a produção baixou as cortinas, mas a ativista seguiu com o discurso, que soou como um grito de desespero de todas as pessoas trans que se vêem invisibilizadas nas mídias.

Seu objetivo foi denunciar que o ator André Patrício, que é cisgênero (pessoa que se identifica com o sexo de nascimento) e fazia o papel de mulher trans saísse de cena. O transfere é comparado aos atores brancos que se pintavam de negro para interpretar sob o argumento de que não havia atores negros de talento. A ideia de se opor ao transfake é para naturalizar as pessoas trans na mídia, garantindo que elas sejam vistas com mais humanidade, como tem ocorrido com pessoas negras.

“Gente, boa noite, eu me chamo Keyla Brasil. Sou atriz, sou prostituta, e o que está acontecendo agora é um assassinato e um apagamento da nossa identidade como travesti”, disse ela, se referindo à falta de oportunidade para atores e atrizes transexuais em Portugal.

Ela saiu aplaudida do palco e a companhia corrigiu o erro colocando a atriz Maria João Vaz no lugar.

O protesto de Keyla ocorreu no dia 19 de janeiro. No dia 22, a atriz postou em seu perfil no Instagram que vinha recebendo ameaças e mensagens de ódio e desapareceu. Acredita-se que ela esteja escondida para se proteger, como diz em rede social.

 

 
 
 
 
 
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Desculpa esfarrapada

Cada vez menos, as produções audiovisuais podem reclamar de não haver atrizes e atores transexuais suficientemente talentosos no mercado para andar um papel de peso na novela, no filme ou na peça. 

O transfake era uma opção comum anteriormente, mas tornou-se controversa. O próprio Almodovar usou este recurso no filme original com Toni Canto, como Lola. Jared Leto, ator cis, chegou a ganhar um Oscar interpretando uma personagem trans em O Clube de Compras de Dallas, oito anos atrás.

Para combater a prática do transfake, o Monart (Movimento Nacional de Artistas Trans) – que conta com mais de 170 artistas trans, de todo o Brasil, cadastrados em vários segmentos artísticos, performance, circo, artes plásticas, teatro – propõe que as pessoas parem de consumir as obras que praticam o transfake.

Agora, as novelas e série globais, assim como filmes, pululam de talentos trans masculinos e femininos. Basta citar Gabrielle Joie, Gabrielle Gambine, Carol Marra, Maria Clara Spinelli, Glamour Garcia, Gabriela Loran e Nany People.

A atriz trans Gaya de Medeiros interpreta Agrado na peça baseada em Almodóvar. No entanto, Lola foi interpretada por um homem cisgênero.
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