Pacheco vê incentivo de Bolsonaro à pretensão de “implantar ditadura no país”

Rodrigo Pacheco defende sua candidatura à Presidência do Senado pelo “legado democrático” deixado em sua gestão.

Senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), foi pressionado pela imprensa a se posicionar sobre os objetivos do ato golpista de 8 de janeiro e a responsabilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro. Embora evite confrontar abertamente a extrema-direita que o presidente derrotado representa, o candidato à Presidência do Senado foi impelido a criticá-lo e admitir que a ruptura institucional era o objetivo final do seu grupo político.

Em entrevista à Folha de S. Paulo, publicada neste sábado (28), o senador, que é advogado criminalista, colocou Bolsonaro num papel passivo diante do vandalismo ocorrido em Brasília, em vez de encarar seu papel ativo para acionar estratégias golpistas, desde o início de governo. Criado em Passos (MG), Pacheco busca a reeleição em 1º de fevereiro.

No entanto, ainda que recuadas, as declarações causam impacto no mundo político por insinuar as responsabilidades do ex-presidente no caos golpista instaurado no país, com centenas de prisões de seus apoiadores. 

Pacheco admite que a descoberta de uma minuta para decretar estado de defesa foi o ápice dessa série de eventos, e mostra que houve preparação do governo para uma ruptura institucional. A minuta foi encontrada na residência do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres.

O senador diz não querer ser leviano de fazer acusações concretas contra Bolsonaro, mas diz que o ex-presidente estimulou a divisão da sociedade brasileira em diversos momentos e foi, no mínimo, incapaz de conter o extremismo de seus apoiadores.

“Foram comportamentos evitáveis para um presidente da República e que podem ter sim estimulado essa divisão no Brasil, a ponto de se ter o extremismo que culminou no ato de 8 de janeiro.”

Democracia contra bolsonarismo

Pacheco enfrenta na disputa o bolsonarista Rogério Marinho (PL-RN), afirmando que é sua candidatura que “representa a defesa do Estado de Direito e da democracia”. Com isso, tenta evitar associar o adversário ao golpismo de 8 de janeiro.

“A minha candidatura é a que representa a defesa do Estado de Direito e o fortalecimento da democracia no país. É a candidatura que acredita nas urnas eletrônicas, na ciência, que respeita os pares, que busca a união do país, que busca respeitar as demais instituições, que busca estabelecer limites através da legislação e não do revanchismo, da retaliação a outro Poder.”

Ele também tenta minimizar o papel do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, na falta de policiamento naquele dia. “A minha convicção é de que o governador, nesse episódio todo, pode ter sido induzido a erro”, afirma. Mas ela diz ter desconfiando, desde o início, que um ato sem precedentes como aquele poderia ir além de simples arruaça para o golpismo de “um atentado à Nação brasileira”.

Retórica golpista

Apesar disso, ele considera que pode ter errado em minimizar a retórica golpista de Bolsonaro. Ele se desculpa dizendo que suas ações foram pautadas na boa intenção, na pacificação e equilíbrio entre os Poderes. Sua reatividade também visava a evitar espalhar ainda mais as ideias golpistas e aumentar a animosidade.

“E havia, de fato, e se comprova hoje isso, um sentimento muito verdadeiro, concreto, real, que não estava no campo das bravatas em relação a atos antidemocráticos e à perspectiva de uma ruptura institucional no Brasil. Tanto que até uma minuta de golpe de Estado foi encontrada. Isso é revelador de que, para além da cogitação, houve de algum modo a preparação para uma ruptura institucional”, admitiu.

Ele considera que Bolsonaro não fez esforço para conter os radicalismos do seu grupo apoiador, como se as agressões ao Supremo Tribunal Federal não fossem um ativismo exemplar para sua base. “Esse era o papel de um grande líder político que se impunha: conter espírito antidemocrático, conter ações antidemocráticas e esse radicalismo que se vê hoje, raivoso, com bastante ódio, desrespeito às instituições e às pessoas”.

Para o candidato, sua maior obra foi a defesa das instituições e o distanciamento do discurso que questionou a Justiça Eleitoral. Ele também lembrou que defendeu o resultado eleitoral, desde a campanha e aprovou a Lei do Estado de Direito, que prevê o crime contra a Nação, e não apenas crime de dano ao patrimônio público, no caso dos invasores do Congresso.

“Eu considero que essa posição firme do Senado em defesa da democracia é o grande legado que o Senado deixa para essa quadra histórica e triste do Brasil, em que houve a pretensão concreta da ruptura institucional e da implantação de uma ditadura”, afirmou.