Zema usa indenização para cooptar apoios em Brumadinho

Criminoso rompimento da barragem de Córrego do Feijão, em 2019, deixou 272 mortos, além de contaminar com metal pesado a bacia do Rio Paraopeba, a represa de Três Marias e diversas cidades

A tragédia de Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019, completa quatro anos nesta quarta-feira (25) sem que os atingidos e seus familiares tenham sido devidamente reparados. O criminoso rompimento da barragem de Córrego do Feijão deixou 272 mortos, além de contaminar com metal pesado a bacia do Rio Paraopeba, a represa de Três Marias e diversas cidades.

A Justiça até condenou a Vale S.A a indenizar o governo de Minas Gerais em R$ 37,6 bilhões pelo rompimento da barragem de Córrego do Feijão – mas o governador Romeu Zema (Novo) usa o recurso do pacto prioritariamente para obras privatistas e para cooptar apoios de prefeituras.

É o caso da construção do Rodoanel Metropolitano – um dos projetos mais polêmicos da gestão estadual. Na visão do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), as obras do anel viário ignoram por completo as vítimas da tragédia e, pior, podem agravar os danos. Nada menos que R$ 3 bilhões do acordo foram desviados para o Rodoanel.

“É uma megaobra, de interesse das empresas e do Zema, que não repara os atingidos, ameaça fontes de água na região metropolitana e em comunidades remanescentes quilombolas. Além disso, o traçado passa por municípios já atingidos pelo rompimento, como Betim e Brumadinho, só aumentando os danos”, declarou a dirigente do MAB Fernanda Portes ao Brasil de Fato.

Zema chegou a propor um projeto de lei que obrigava as prefeituras a fazerem convênio com o governo para receber recursos do acordo. A proposta foi barrada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, mas demonstra que o governador quer aproveitar a verba para ampliar sua base de apoio.

Os atingidos, porém, seguem às voltas com adversidades. De acordo com pescadora e artesã atingida Eliana Marques Barros, famílias ribeirinhas sofrem, desde a tragpedia, com a falta de alimentos e água. “Animais de pequeno e grande porte estão morrendo. O meio ambiente está adoecido, assim como nós, atingidos”, diz Eliana. “A violência aumentou muito e hoje não temos mais segurança de viver como vivíamos antes do crime bárbaro, premeditado e repetitivo da Vale.”

Muitos atingidos nem sequer receberam ainda as indenizações individuais. A exemplo de Zema, a Vale também sabotou as vítimas. “A empresa criminosa entrou no território e o dividiu. Para alguns, ela não negou o auxílio, mas a grande maioria não teve acesso ao direito”, agrega Eliana. “Até hoje a Vale não pagou a indenização.”

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