Governo socorre Yanomamis e combaterá garimpo ilegal

Ministério da Saúde declara emergência em território yanomami. Lula diz que vai levar transporte e atendimento médico. ‘Desumano o que eu vi’, diz Lula em Roraima.

Foto: Ricardo Stuckert

Após visitar um posto médico na zona rural de Boa Vista (RR), neste sábado (21), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que vai levar transporte e atendimento médico aos indígenas Yanomami e pôr fim ao garimpo ilegal. Após um período de desprezo do governo Bolsonaro pelos povos originários, Lula os visita pessoalmente, acompanhado de uma caravana de ministros, para ver de perto a destruição causada pelo governo anterior.

Os Yanomami vivem uma crise sanitária que já resultou na morte de 570 crianças por desnutrição e causas evitáveis, nos últimos anos, sendo que 505 tinham menos de 1 ano. A contaminação por mercúrio verificada na população ocorre devido ao impacto das atividades de garimpo ilegal na região. Entidades acusam o governo Bolsonaro de tentativa de genocídio, pelo modo como abandonou estas populações, durante a pandemia, também.

O presidente criticou ainda o governo anterior por permitir que a situação se agravasse. “Sinceramente, o presidente que deixou a presidência esses dias, se ao invés de fazer tanta motociata, tivesse vergonha e viesse aqui uma vez, quem sabe esse povo não tivesse abandonado como está”, argumentou.

“É desumano o que vi aqui”, afirmou Lula, diante da emergência por causa de casos graves de desnutrição de crianças. O presidente anunciou algumas medidas para ajudar a população da região. A melhoria do transporte oferecido aos indígenas, segundo ele, será a primeira providência.

O presidente criticou ainda o governo anterior por permitir que a situação se agravasse. “Sinceramente, o presidente que deixou a presidência esses dias, se ao invés de fazer tanta motociata, tivesse vergonha e viesse aqui uma vez, quem sabe esse povo não tivesse abandonado como está”, argumentou.

O presidente também disse que quer montar um plantão médico nas aldeias: “A saúde precisa ir até a aldeia, não esperar que as pessoas se locomovam até a cidade. Fica mais fácil a gente transportar dez médicos do que 200 indígenas que estão aqui”.

Garimpo e genocídio

Por fim, afirmou que vai trabalhar para acabar com o garimpo ilegal. “Eu posso dizer para você é que não vai mais existir garimpo ilegal. E eu sei da dificuldade de se tirar o garimpo ilegal, já se tentou outras vezes, mas eles voltam.”

“Mas nós vamos levar muito a sério de acabar com qualquer garimpo ilegal e mesmo que seja uma terra que tenha autorização da agência para fazer pesquisa, eles podem fazer pesquisa sem destruir a água, a floresta e sem colocar em risco a vida das pessoas que dependem da água para sobreviver”, afirmou Lula. “É importante as pessoas saberem que esse país mudou de governo e o governo agora vai agir com a seriedade no tratamento do povo que esse país tinha esquecido”, completou.

Em 2020, o primeiro ano da pandemia, o garimpo ilegal avançou 30% na Terra Yanomami. Segundo relatório produzido pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) e Associação Wanasseduume Ye’kwana (Seduume), a área total devastada pelo garimpo é de 2.400 hectares.

O Ministério da Justiça, comandado por Flávio Dino, disse hoje que vai determinar a abertura um inquérito policial sobre a grave crise que se instaurou na população ianomâmi em Roraima. A investigação, a cargo da Polícia Federal, vai apurar crimes ambiental e de genocídio. O genocídio é caracterizado pelo extermínio deliberado de uma comunidade, grupo ético, racial ou religioso.

“Vamos fazer cumprir a lei em relação aos sofrimentos criminosos impostos aos Yanomami. Há fortes indícios de crime de genocídio, que será apurado pela PF,” disse o ministro Flávio Dino.

Emergência de saúde pública

Na noite de sexta-feira (20), o Ministério da Saúde declarou emergência de saúde pública para enfrentar à desassistência sanitária das populações no território Yanomami. Desde segunda-feira (16), técnicos da pasta resgataram ao menos oito crianças Yanomami em estado grave.

O presidente Lula também decretou a criação do Comitê de Coordenação Nacional, para discutir e adotar medidas em articulação entre os poderes para prestar atendimento a essa população. O plano de ação deve ser apresentado no prazo de quarenta e cinco dias, e o comitê trabalhará por 90 dias, prazo que pode ser prorrogado.

Profissionais da Força Nacional do SUS começam a chegar a Roraima na segunda-feira (23) para oferecer atendimento multidisciplinares, principalmente focados na readequação alimentar, já que o principal problema é a desnutrição grave.

As Forças Armadas também montarão um hospital de campanha próximo à casa de apoio, em Boa Vista. Além disso, o governo enviará insumos médicos e alimentos para as comunidades.

Desde a última segunda-feira (16), equipes do Ministério da Saúde se encontram no território indígena Yanomami e devem apresentar um levantamento completo sobre a crítica situação de saúde dos indígenas.  A região tem mais de 30,4 mil habitantes.

Além de Lula, também participaram da visita Janja da Silva e os ministros Wellington Dias (Desenvolvimento Social), Nísia Trindade (Saúde), Sônia Guajajara (Povos Indígenas), Flávio Dino (Justiça), José Múcio (Defesa), Silvio Almeida (Direitos Humanos), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral), General Gonçalves Dias (Gabinete de Segurança Institucional), Joênia Wapichana (presidente da Funai) e o comandante da Aeronáutica, Marcelo Kanitz Damasceno. O governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), e o secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Weibe Tapeba, também integraram a comitiva.

Na noite de ontem (20), Lula institui o Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento à Desassistência Sanitária das Populações em Território Yanomami. O objetivo do grupo é discutir as medidas a serem adotadas e auxiliar na articulação interpoderes e interfederativa.

“O povo Yanomami não mais será desamparado pelo Estado brasileiro”, escreveu, nas redes sociais, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, ao anunciar a instituição do comitê. 

A terra indígena Yanomami é a maior do país, em extensão territorial, e sofre com a invasão de garimpeiros.