Donos de igrejas envolvidos com atos golpistas estão presos 

Pastores, cantores gospel e religiosos se envolveram nos atentados diretamente ou por meio de convocatórias

(Foto: Marcelo Camargo ABr)

Pelo menos quatro donos de igrejas foram presos pela Polícia Federal por terem participado dos atos de invasão e depredação em Brasília no dia 8 de janeiro. Muitos outros fizeram o mesmo, alguns empunhando Bíblias e cantando louvores, além dos que incitaram os atos golpistas pelas redes sociais. Eles são pretensos líderes locais de denominações sem alcance nacional. 

Em 12 de dezembro, cinco bolsonaristas foram presos após ataque ao prédio da Polícia Federal em Brasília, após se revoltarem contra a prisão do pastor evangélico dito indígena, José Acácio Tserere Xavante, que se desculpou pelos atos golpistas, após a prisão. O ápice da escalada em direção ao terrorismo doméstico foi precedida pela tentativa de explodir um caminhão-tanque no Aeroporto de Brasília, em 24 de dezembro passado. 

“Lute agora e faça parte da história”, dizia o anúncio de uma caravana do Rio de Janeiro para Brasília, no domingo, 8. A postagem no Facebook foi apagada após os atentados e a caravana não obteve o quórum necessário para ir. A excursão foi organizada pelo pastor Elias de Souza, conhecido como Elias Gaúcho, que foi candidato a vereador em Teresópolis, RS, pelo Avante. Assim como ele, outras lideranças religiosas, algumas delas políticos com mandato, participaram, ajudaram a organizar e convocaram ataques aos Três Poderes. 

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Entre os pastores mais influentes que apoiaram as manifestações estão os parlamentares bolsonaristas Clarissa e Júnior Tércio, ambos do PP de Pernambuco. Eles publicaram apoio aos atentados, enquanto ocorriam, mas depois disseram ser contra “a violência, o vandalismo e a destruição de patrimônio publico”. 

Outros que fizeram coisa semelhante e mantiveram a defesa dos manifestantes são o ex-senador Magno Malta, o pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia, e o pastor Josué Valandro, da Igreja Batista Atitude da Barra da Tijuca, frequentada por Michelle Bolsonaro. Tem ainda o caso da pastora Ana Marita Terra Nova, esposa do apóstolo Renê Terra Nova, que prega para multidões no seu ministério da Visão Celular no Modelo dos 12.

Prisões 

Segundo reportagem da Agência Lupa, que cruzou dados da lista oficial dos 1.398 detidos e a CNAE, Classificação Nacional de Atividades Econômicas de todas as organizações do país, os pastores golpistas detidos tiveram audiências de custódia marcadas.

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O envolvimento nesses eventos pode chegar a 13 líderes evangélicos, incitando, celebrando ou aderindo às depredações aos prédios da Praça dos Três Poderes. Esta base foi levantada por denúncias enviadas à Agência Lupa.

Os pastores presos são Francismar Aparecido da Silva, da igreja Ministério Evangelístico Apascentar, em Itajubá (MG), que escreveu sobre Bolsonaro e participou de outras manifestações golpistas; João Marciano de Oliveira, da igreja Jesus Cristo é a Razão do Meu Viver, em Ribeirão das Neves (MG), próximo a políticos bolsonaristas e disseminador de fake news golpistas; Donizete Paulino da Paz, da Igreja Assembleia de Deus – Ministério O Deus das Nações, em Luziânia (GO); e Jorge Luiz dos Santos, da Igreja Evangélica Amor de Deus João 3:16, de Itaverava (MG).

Além desses, há os que comprovadamente participaram mas não constam da lista de presos. ”Estou no Senado Federal aqui, ó. Missionário Felicio Quitito, servo do Deus vivo”, exclama o pastor Felício Manoel Araújo, enquanto se senta em uma das poltronas azuis que compõem a mesa do Congresso. Ele também está na lista de presos divulgada pelo governo do Distrito Federal.

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Conhecido nas redes sociais, o pastor goiano Thiago Bezerra também esteve nos atos e transmitiu, em sua conta do Instagram, momentos do ataque. “Vou mostrar para vocês onde eu estou”, diz ele, exibindo uma multidão já dentro de um dos prédios dos três poderes. É possível ver, na gravação, que o local já estava depredado. Um dia após os ataques, contudo, o pastor passou a defender que havia infiltrados da esquerda nos atos, que teriam promovido a baderna.

A pastora Nubia Modista, da Igreja Evangélica Apostólica de Itaguaí, no Rio de Janeiro, esteve entre o grupo de invasores que fora até Brasília e publicou vídeos dentro dos prédios públicos.

Outros participantes dos atentados foram os cantores gospel Salomão Vieira, que participou do financiamento das manifestações, Michele Nascimento, Fernanda Oliver e Wesley Rosa, os pastores Mari Santos, de Manaus, e Ricardo Martins

Convocações

Houve ainda outros que incitaram de foram sistemática as pessoas a participarem das manifestações, embora não tivessem ido a Brasília. Em postagem feita no Instagram, a pastora Marta Nunes diz que “o mundo todo precisa saber que nossas eleições foram fraudadas”, propondo uma greve geral.

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O pastor Luciano Cesa, que foi candidato a deputado federal pelo Patriotas-RS, reclama do que chama ser censura, enquanto bebe um chimarrão diante de centenas de espectadores e soletra palavras de teor extremista para não ser monitorado nas redes. Em seguida, convoca sua audiência a não ficar parada. 

Outro que ajudou a mobilizar atos criminosos no domingo foi o pastor Sandro Rocha, da Igreja Porto de Cristo, de Guaratuba, no Paraná.