Parlamentares americanos pedem que Biden revogue visto de Bolsonaro

O ex-presidente brasileiro fixou residência na Flórida, levando a protestos dos democratas da Câmara.

Residência nos EUA onde Bolsonaro está hospedado a convite de um apoiador.

Um grupo de 46 legisladores da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos pediu ao governo do presidente Joe Biden que revogue qualquer visto americano detido pelo ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro após o ataque de domingo à capital do Brasil.

Na quinta-feira, os legisladores, todos democratas, também solicitaram a Biden que investigasse quaisquer “instigadores” baseados nos Estados Unidos que pudessem ter desempenhado um papel no ataque.

A medida ocorre depois que apoiadores de Bolsonaro invadiram prédios do governo em Brasília no fim de semana, saqueando o prédio do Supremo Tribunal Federal, agredindo policiais e jornalistas e vandalizando partes do Congresso Nacional e do palácio presidencial do Planalto.

Bolsonaro estava nos EUA quando o ataque se desenrolou.

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Após o atentado em Brasília, Biden condenou “o atentado à democracia e à transferência pacífica do poder”. Mas seu governo disse que não recebeu um pedido do Brasil para extraditar o ex-presidente.

“Aplaudimos a condenação de seu governo aos eventos em Brasília”, disseram os 46 legisladores democratas na quinta-feira.

Mas eles acrescentaram: “Não devemos permitir que o senhor Bolsonaro ou qualquer outro ex-funcionário brasileiro se refugie nos Estados Unidos para escapar da justiça por quaisquer crimes que possam ter cometido quando estavam no cargo” e devem ajudar na investigação do governo brasileiro, caso solicite ajuda.

Os legisladores também chamaram o Departamento de Justiça e outras agências federais para responsabilizar quaisquer atores baseados na Flórida que financiaram ou apoiaram os motins brasileiros, pedindo ao FBI que investigasse se alguma ação estava ocorrendo em solo americano para organizar o motim.

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“Estamos com o povo brasileiro enquanto ele se recupera desse momento desafiador em sua história democrática”, diz a carta dos legisladores a Biden. “Como membros da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, pedimos a vocês que trabalhem conosco para apoiar o recém-empossado presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o povo brasileiro na busca de justiça, manutenção do estado de direito e proteção das instituições democráticas em suas país.”

Exportação de extremismo

A petição de quinta-feira comparou o ataque em Brasília aos eventos de 6 de janeiro de 2021 , quando milhares de pessoas que apoiavam o presidente cessante, Donald Trump, desceram ao Capitólio dos EUA para tentar interromper a transferência pacífica de poder.

“Dois anos atrás, os Estados Unidos enfrentaram um ataque semelhante à nossa democracia”, escreveram os legisladores em um comunicado. “Sabemos em primeira mão o impacto – imediato e de longo prazo – quando funcionários do governo subvertem as normas democráticas, espalham desinformação e fomentam o extremismo violento.”

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O representante do Texas, Joaquin Castro, um dos legisladores por trás da petição, foi um passo além, dizendo que o ataque de 2021 nos EUA abriu caminho para o motim no Brasil. A petição também é assinada por Ruben Gallego (Arizona), Chuy Garcia (Illinois), Susan Wild (Pensilvânia), e pelo líder da minoria na Câmara, Gregory Meeks (Nova York), que também é membro do Comitê de Relações Exteriores da Câmara.

“O ataque à democracia brasileira é um doloroso lembrete das consequências globais da insurreição de 6 de janeiro”, escreveu Castro nas redes sociais. Ele disse que revogar o visto de Bolsonaro “garantiria que ele não pudesse escapar da justiça”.

Condições duvidosas de permanência

Bolsonaro partiu para o estado da Flórida, no sul dos Estados Unidos, 48 ​​horas antes de seu mandato expirar em 31 de dezembro, podendo utilizar passaporte diplomático que expira após o fim do mandato. Não está claro que tipo de visto Bolsonaro obteve para entrar nos EUA e se ainda é válido devido à mudança de status político.

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Questionado sobre a entrada de Bolsonaro, o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, se recusou a fornecer detalhes sobre a situação do visto, citando preocupações com a privacidade. Ele disse, no entanto, que qualquer pessoa que entrar nos EUA com o chamado visto A-1 reservado para chefes de estado em exercício teria 30 dias para deixar o país ou ajustar seu status com o Departamento de Segurança Interna após a conclusão de seu mandato.

Com receio de deportação ou extradição, Bolsonaro disse nas redes sociais que voltaria ao Brasil mais cedo do que o planejado por motivos médicos. Ele negou ter incitado seus apoiadores e disse que os manifestantes “passaram dos limites”.

Os críticos especulam que Bolsonaro deixou o Brasil enquanto ainda era presidente e gozava de imunidade legal. Como presidente, Bolsonaro só poderia ser preso se condenado pelo Supremo Tribunal Federal. Mas após a transferência de poder, ele teria ficado vulnerável a processos judiciais de primeira instância.

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Bolsonaro enfrenta quatro investigações criminais em andamento no Brasil, incluindo acusações de que ele espalhou falsas alegações sobre as eleições e usou o cargo de presidente para ampliar a desinformação.

O ex-presidente atualmente mora em um condomínio fechado na área metropolitana de Orlando, na Flórida, onde estão localizados resorts como o Disney World.

A Flórida abriga a maior população de residentes nascidos no Brasil nos EUA, e alguns vêm visitar Bolsonaro para pedir autógrafos e tirar selfies. Na segunda-feira, Bolsonaro teria sido internado em um hospital da Flórida após relatar dores intestinais decorrentes de uma facada em 2018. 

Conspiração palaciana

Nesta quinta-feira, Lula disse a repórteres que se perguntava se os manifestantes tiveram ajuda de dentro do governo.

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“Tenho convicção de que a porta do palácio do Planalto foi aberta para as pessoas entrarem porque não há portas quebradas”, explicou Lula. “Isso significa que alguém facilitou a entrada deles.”

Ele disse que pediu uma “revisão completa” da equipe do palácio presidencial.

O Supremo Tribunal do Brasil já ordenou a prisão e investigação de Anderson Torres, que atuou como ministro da Justiça no governo Bolsonaro. Torres era o chefe de segurança de Brasília na época do ataque à capital, embora ele estivesse na Flórida quando o motim se desenrolou.

Torres negou irregularidades e disse que pretende voltar ao Brasil para enfrentar as acusações. Ele, o governador de Brasília, Ibaneis Rocha, e o chefe da Polícia Militar da capital, foram afastados de seus cargos, enquanto se aguardam investigações sobre falhas de segurança que permitiram o ataque.

Com informações das Agências de Notícias

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