O que a posse de Lula representa na minha vida

“No dia primeiro de janeiro de 2023, vi Lula tomar posse. Vi camaradas e colegas assumindo funções estratégicas, o sentimento é de orgulho da minha própria história que se cruza com a deles”

Lula discursa do Parlatório após a posse | Foto: divulgação

Em 2016, fui uma das jovens mulheres que lutaram nas ruas para impedir o golpe que sofremos com o impeachment de Dilma. Eu dei tudo de mim para tentar evitar o que eu sabia que seria uma grande tragédia. Posso afirmar que um pedaço da minha saúde emocional foi destituída também nesse período. E que, hoje, com a posse de Lula, retomo fôlego e esperança.

Por Musa Ramalho Oliveira*

Eu tinha 25 anos e, agora, com 32, acho que eu já era uma grande mulher. Eu tinha muita capacidade de trabalho, muitos sonhos coletivos e eu já sabia de algumas coisas, mesmo tendo muito pra descobrir. Aprender é o trabalho de uma vida inteira, não é mesmo?

Eu me cercava de pessoas que me inspiravam e agia com elas. A maior parte da minha força vinha dessa convivência. Outra parte era da necessidade mesmo, afinal, valores muito poderosos desabrocharam desde que eu entendi que a minha postura diante da vida e dos problemas coletivos precisava ser de ação. Fui aprendendo o que e como fazer a partir dessa experiência diárias em campo no movimento estudantil. Como construir um mundo melhor a partir da política? Era a minha indagação cotidiana.

Até o golpe de 2016, foram alguns anos forjando uma mulher mais livre, mais dona das próprias ideias, mais capaz e muito mais orgulhosa de si mesma. Uma cidadã que ocupa o espaço, que fala, explica, escuta, pergunta, propõe, mobiliza parceiros e recursos em torno de projetos inovadores e benéficos para a coletividade. Uma pessoa capaz de engajar outras dentro de comunidades reais.

Quando Dilma foi retirada do governo, fui uma das pessoas que se sentiram injustiçadas. Diferentemente de muitos companheiros de luta que conseguiram exprimir sua dor, mas se mantendo firmes, eu não derramei uma lágrima. Eu me senti silenciada, expulsa e destituída desse papel cidadão construído com tanta força, trabalho e enfrentamento. Fui me isolando aos poucos, até que decidi me exilar.

A reação contra tudo aquilo que tinha me transformado na melhor versão de mim foi tão grande que eu me senti obrigada a tentar construir uma nova pessoa em cima dos cacos que sobraram.

No dia primeiro de janeiro de 2023, vi Lula tomar posse. Vi camaradas e colegas assumindo funções estratégicas, o sentimento é de orgulho da minha própria história que se cruza com a deles. Há alguns meses, vi a vitória nas urnas do nosso campo político, o retorno do debate público sobre a dignidade da vida humana. A abertura sobre temas como ecologia. Notei que voltou a ser constrangedor discursar em favor do sofrimento das pessoas mais vulneráveis.

Ser testemunha do retorno dessas idéias ao poder central do meu país me dá esperança. Ela renasce em 2023 como um novo marco civilizatório para o Brasil e para o planeta. Não é por acaso que essas eleições foram um fenômeno internacional. Era o que eu precisava pra continuar meu caminho e fazer as pazes com a parte mais bonita que tenho, a que está sempre cheia de ideias para transformar, criando as condições adequadas para melhorar o mundo. A parte que é coletiva, brasileira e nunca andou só.

Feliz ano novo. Espero que estejamos juntos nesse projeto!

*educadora especialista em Relações Internacionais. Foi diretora de comunicação da União dos Estudantes da Bahia e dirigente da UJS-BA. Atualmente trabalha na França com inserção social de refugiados desenvolvendo ferramentas educativas e realizando oficinas sobre acesso a direitos.

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