Bolsonarista é preso por terrorismo e confessa crime

Polícia confirmou motivações ideológicas de empresário. Flávio Dino qualifica acampamentos bolsonaristas de “incubadoras de terroristas”.

O arsenal encontrado em posse de terrorista bolsonarista. Foto: Ascom/PCDF

Em plena véspera de Natal, o empresário bolsonarista George Washington de Oliveira Sousa, de 54 anos, foi preso por montar um artefato explosivo em um caminhão de combustível, perto do Aeroporto de Brasília, neste sábado (24). 

Segundo a Polícia Civil, ele é apoiador do presidente Jair Bolsonaro e confessou o ato, que teve “motivação ideológica”. Ele foi autuado por terrorismo, após outros graves distúrbios causados pelos bolsonaristas na capital federal, no último dia 12 de dezembro. O futuro ministro da Justiça do governo Lula, Flávio Dino, classificou os acampamentos montados por esses manifestantes como células terroristas. 

“Os graves acontecimentos de ontem em Brasília comprovam que os tais acampamentos ‘patriotas’ viraram incubadoras de terroristas. Medidas estão sendo tomadas e serão ampliadas, com a velocidade possível. O armamentismo gera outras degenerações. Superá-lo é uma prioridade”, disse, em uma rede social.

O criminoso afirmou à Polícia Civil de Brasília que as “palavras” de Jair Bolsonaro (PL) o encorajaram a adquirir o arsenal de armas apreendido em seu poder. Ele fez referência ao discurso armamentista do presidente da República.

“O que me motivou a adquirir as armas foram as palavras do presidente Bolsonaro, que sempre enfatizava a importância do armamento civil dizendo o seguinte: ‘Um povo armado jamais será escravizado'”, disse o investigado.

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No apartamento onde o homem foi preso, os policiais encontraram um arsenal com fuzil, espingardas, revólveres, munição e artefatos explosivos. A Polícia atua para prender outros envolvidos, conforme já apurou. Um outro suspeito já teria sido identificado, embora não tenha sido anunciada a prisão, ainda.

Tudo começou com o caminhoneiro que acionou a Polícia Militar logo cedo, ao perceber o artefato instalado em seu veículo, enquanto ia para o aeroporto. O esquadrão antibombas do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM tentou detonar o artefato, que falhou.

A Polícia Civil não detalhes sobre como chegou ao empresário autuado, mas disse que houve trabalho de inteligência. Ele foi preso à noite, em um apartamento alugado. Segundo a Polícia Civil, ele é empresário e veio do Pará com objetivo de participar dos acampamentos de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), no quartel-general do Exército.

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Estado de sítio

Segundo a Polícia Civil, George tinha registro como Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC), mas o documento estava em situação irregular. Portanto, não podia estar com o material.

O homem confessou o crime e confirmou que o ato tinha cunho político. O delegado-geral da PCDF, Robson Candido, classificou o ato como “extremismo político”.

“O que ele fala é que queria, o grupo dele, queria e gostaria de chamar atenção, justamente para ir para o aeroporto, explodir lá esse artefato, para causar um tumulto dentro da nossa cidade, com esse motivo ideológico deles, político.”

A polícia afirma que inicialmente, o plano do grupo era instalar o explosivo em um poste, para interromper o fornecimento de energia elétrica na capital. Em depoimento, George Washington alegou que queria “dar início ao caos” para provocar a decretação de estado de sítio no país – quando há restrição de direitos e à atuação do Legislativo e do Judiciário.

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O homem foi autuado pelos crimes de terrorismo e posse e porte ilegal de arma de fogo e de uso restrito. A pena para o crime varia de 12 a 30 anos de reclusão.

Silêncio de Bolsonaro

Jair Bolsonaro não se manifestou, seguindo a mesma lógica de apoiar implicitamente os abusos cometidos por seus seguidores. Questionado sobre o caso, o ministro da Justiça, Anderson Torres, inicialmente disse que não ia comentar, mas acabou dizendo em rede social que acionou a Polícia Federal para as investigações. “Importante aguardarmos as conclusões oficiais, para as devidas responsabilizações”, diz a postagem. Agentes do governo tendem a se manifestar de forma sucinta em redes sociais para não ter que responder perguntas da imprensa numa entrevista coletiva.

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“Lembro que há autoridades federais constituídas que também devem agir, à vista de crimes políticos. As investigações sobre o inaceitável terrorismo prosseguem. O delegado Andrei, futuro Diretor Geral da PF, tem feito o acompanhamento, em nome da equipe de transição. Não há pacto político possível e nem haverá anistia para terroristas, seus apoiadores e financiadores”, afirmou o futuro ministro da Justiça, Flávio Dino.