Agrotóxicos intoxicam mais de 14 mil pessoas durante governo Bolsonaro

Registros do Ministério da Saúde apontam que entre 2019 e 2022, mais de quatorze mil pessoas foram envenenadas e 439 morreram por intoxicação, decorrentes do uso de substância agrotóxicas nas lavouras. Sob o governo Bolsonaro, o país bateu recorde de aprovações do uso de pesticidas.

Foto: EBC

Registros do Ministério da Saúde apontam que durante o governo Bolsonaro, entre 2019 a março de 2022, 14.549 pessoas foram intoxicadas por agrotóxicos no Brasil, destas, 439 morreram, ou seja, um óbito a cada três dias. Os dados foram levantados pela reportagem da Agência Pública e Repórter Brasil.

Nesse período, o Brasil bateu o recorde de aprovações de pesticidas, com mais de 1.800 novos registros, metade deles já proibidos na Europa.

O governo de Bolsonaro também foi marcado pelo avanço na tramitação do Projeto de Lei 1459/2022, apelidado de “Pacote do Veneno”, que pode facilitar ainda mais a aprovação dessas substâncias. Com a flexibilização das regras, aumenta-se o risco de exposição das pessoas aos agrotóxicos, inclusive pela contaminação da água.

Relatório da organização ambientalista Friends of the Earth Europe, divulgado em 28 de abril deste ano pela revista Brasil de Fato, apontou quais são as principais empresas que fazem lobby com o agronegócio no Brasil. Segundo o relatório do grupo, a Bayer, a Basf e a Syngenta já gastaram cerca de 2 milhões de euros para fazer pressão junto aos grandes agricultores brasileiros.

“Corporações europeias como Bayer e Basf, que são os principais fabricantes europeus de pesticidas, têm promovido o acordo comercial UE-Mercosul por meio de grupos de lobby. Seu lobby tem procurado aumentar o acesso ao mercado de alguns de seus agrotóxicos mais nocivos ao unir forças com associações do agronegócio brasileiro. Ao fazer isso, eles apoiam uma agenda legislativa que visa minar os direitos dos indígenas, remover salvaguardas ambientais e legitimar o desmatamento”, diz o documento da rede ambientalista.

Homens negros são as principais vítima dos agrotóxicos

Cerca de 20% dessas vítimas são adolescentes e jovens de até 19 anos. Segundo o levantamento da Agência Pública, homens negros são as principais vítimas de agrotóxicos. Para o médico e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Guilherme Cavalcanti de Albuquerque, a intoxicação recorde dessa parcela  da população pode estar relacionada ao racismo estrutural, que faz com que homens negros executem trabalhos mais precarizados, como o de aplicador de agrotóxicos.

Pesquisadores apontaram também que a baixa escolaridade dificulta a compreensão das instruções e dos riscos e perigos associados à exposição aos agrotóxicos.

Os dados também mostram que os estados da região Sul concentraram a maioria das notificações, considerando o número de habitantes. Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul registraram 4,2 mil intoxicações. Nove entre os dez municípios com mais casos em relação à população estão na região.

Lavouras de soja, fumo e milho são campeãs em intoxicações

Os casos de intoxicação registrados entre 2019 e 2022 aconteceram principalmente em lavouras de soja, fumo e milho. Segundo a reportagem, os altos registros encontrados nesse tipo de lavoura, devem estar relacionados ao tamanho das plantações desses cultivos, onde os pesticidas costumam ser pulverizados em larga escala, normalmente por aviões, o que aumenta as chances do agrotóxico se espalhar para fora da plantação. 

Atlas Geografia do uso de agrotóxicos no Brasil e conexões com a União Europeia, publicado em 2017, mostra que 52% do veneno vai para plantações de soja e 10% para o milho. 

Pandemia reduziu registros de intoxicações

A quantidade de casos de intoxicações por agrotóxicos caiu durante os anos de pandemia do coronavírus: em 2019 foram 5.875 casos para 4.073 em 2020, e 3.816 em 2021. 

Para pesquisadores, os números reais de envenenados pelos pesticidas pode ser muito mais elevado. Segundo Leonardo Melgarejo, a queda era esperada e pode não significar uma diminuição real de intoxicações.

“Durante a pandemia, as pessoas evitaram aglomerações, especialmente em locais de risco [como hospitais e postos de saúde]”, afirma, mencionando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que apenas uma a cada 50 intoxicações por agrotóxicos é registrada. 

Além disso, há dificuldade de os intoxicados chegarem aos postos de atendimento pela distância dos serviços de saúde e a dificuldade de locomoção.

“Os agricultores nem sempre procuram atendimento e quando procuram é porque houve uma intoxicação aguda e sentiram medo de morrer. Então as outras intoxicações, de impacto mais baixo, mas que acontecem de forma crônica, sequer são registradas”, comenta Melgarejo. 

Com Agência Pública e Repórter Brasil

Edição: Eliz Brandão