Renata Silveira, primeira narradora da Copa, desabafa sobre críticas

Em entrevista ao Splash TV, a locutora da Globo relata o peso da representatividade no maior evento esportivo do mundo: “Não é pela minha narração, é por ser mulher”

Renata Silveira foi a primeira mulher a narrar um jogo de futebol na Globo, em TV aberta | Foto: divulgação

Renata Silveira, de 33 anos de idade e oito de carreira, entrou para a história ao se tornar a primeira mulher a narrar uma Copa do Mundo em TV aberta – e se despediu do campeonato sendo muito elogiada pela sua atuação.

Em entrevista a Splash Vê TV nesta terça-feira (13), a locutora do grupo Globo falou, não somente sobre a experiência de trabalhar no principal torneio de futebol mundial, mas também sobre as críticas que recebeu – muitas delas apenas por ser mulher e adentrar um mundo que até pouco tempo era exclusivamente masculino.

Questionada pela apresentadora Larissa Martins sobre qual seria seu maior desafio, a narradora disse que é precisar provar para o público, o tempo todo, do que é capaz.

“Eu acho que a gente meio que vai educando, normalizando e acostumando as pessoas com a narração feminina e agora quando vem na Globo parece que eu preciso voltar e fazer tudo de novo. Olha gente, eu tô aqui, eu consigo fazer isso, eu posso fazer também. Me dá uma chance, me escuta aí. É um trabalho árduo, a gente tem que se provar o tempo todo, não temos tempo para errar”, disse Renata.

Ao Splash, Silveira contou que algumas das críticas recebidas vieram logo após o jogo entre Alemanha e Japão na primeira fase de grupos, onde a equipe alemã venceu por 2×1 e teve o primeiro gol narrado por ela.

“As pessoas que estão falando ‘ah, péssimo, não sabe narrar’ tenho certeza de que nunca viram uma transmissão minha. A gente vê muito isso as pessoas generalizando ‘ah, é mulher não sabe narrar, a voz feminina não combina com futebol’. Então é sempre isso, não é a Renata Silveira que narrou aquele jogo e eu vou criticar ela, não, eu abri isso aqui, vi uma mulher narrando e falo: ‘horrível você’. E é por aí.

Renata disse ainda que precisa estar sempre estudando para fazer as narrações e que, por ser mulher, seus erros repercutem mais do se fosse um homem errando.

“Eu sempre gostei muito de estudar, sempre fui muito estudiosa e com os jogos não é diferente. E simplesmente pelo fato de ser mulher, eu preciso estudar mais. Parece até bobeira falar isso porque todo mundo erra, mas se o cara que está lá narrando ele erra, é engraçado, faz parte, ele se enganou. Agora vai a mulher errar: ela é burra, ela não sabe, ela não tinha que tá ali, olha que sem noção. É bem complicado, a gente tem que tá pronta 20 vezes mais e encarar tantos leões por dia porque ainda a gente tem que provar tanta coisa, infelizmente”, declarou a narradora.

Durante a entrevista, Renata também falou sobre o peso de ser a primeira mulher a narrar uma Copa e se tornar referência para que outras sigam o mesmo caminho.

“Chega a ser um pouco cansativo também. Eu até brinco com isso porque daqui a pouco eu não vou ter mais adrenalina no corpo, porque toda hora é aquela experiência, aquele desafio novo, o friozinho na barriga. Eu não queria estar sendo a primeira a fazer tudo isso, mas já que estou aqui, vamos fazer direito isso, vamos abrir essa porta para que outras mulheres venham depois como narradoras, comentaristas”, disse.

Quem é Renata Silveira

Formada em educação física e pós-graduada em jornalismo esportivo. O primeiro passo dado pela carioca Renata Silveira rumo à carreira como locutora esportiva se deu no rádio. Em 2014, ela venceu o “Garota da Voz”, concurso promovido pela Rádio Globo do Rio de Janeiro. Como prêmio, narrou a final da Copa do Mundo realizada no Brasil — sendo a “garota da voz” dos ouvintes da emissora no jogo em que a Alemanha superou a Argentina na prorrogação e, com o placar em 1 a 0, conquistou o torneio em pleno estádio do Maracanã.

A primeira transmissão na televisão foi somente quatro anos depois, na Copa do Mundo da Rússia. Selecionada pelo Fox Sports para narrar alguns jogos, foi a voz de Brasil 1 a 1 Suíça, Brasil 1 a 2 Bélgica e da final França 4 a 2 Croácia. Após o Mundial, foi contratada em definitivo pela emissora.

Além dos Mundiais, Renata Silveira leva na bagagem experiências narrando ligas nacionais da Europa, jogos de Libertadores (feminina e masculina), Liga Europa, Liga dos Campeões Feminina e muito mais.

Em dezembro de 2020 foi contratada pelo Grupo Globo tornando-se a primeira mulher a comandar as transmissões de futebol da Globo, pelo canal SporTV, na goleada do Botafogo por 5 a 0 contra o Moto Club, válido pela Copa do Brasil.

Poucos meses após a primeira narração na emissora, Renata participou de um momento histórico do futebol. Ela estava na narração da partida entre Dinamarca e Finlândia, válida pela Euro 2020, no dia 12 de junho de 2021, marcada pelo mal súbito de Christian Eriksen.

Na ocasião, a narradora soube conduzir muito bem a situação inusitada. Ao lado de Paulo Nunes e Ana Thaís Mattos, ela segurou a transmissão quando a partida foi paralisada para atendimento ao dinamarquês. Com calma e serenidade, informava o telespectador apenas com as notícias oficiais que surgiam sobre a situação do atleta.

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Com informações de agências

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