Os recados de Haddad: a 1ª coletiva do futuro ministro da Fazenda de Lula

“Pretendemos corrigir essas distorções (do governo Bolsonaro) sem tirar o pobre do orçamento, porque nós temos um compromisso com a questão social”, enfatizou Haddad

O ex-prefeito Fernando Haddad (PT) falou pela primeira vez à imprensa desde que foi indicado pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao cargo de ministro da Fazenda. Em entrevista coletiva nesta terça-feira (13), Haddad anunciou integrantes de sua equipe e procurou dar recados sobre o que pretende em sua gestão à frente do principal ministério do terceiro governo Lula.

A partir de janeiro, com a posse da nova gestão, os economistas Gabriel Galípolo e Bernard Appy vão assumir áreas para as quais estavam, ambos, cotados. Galípolo será o secretário-executivo – segundo posto mais importante da Fazenda, atrás apenas do de ministro. Já Appy será o secretário especial para a reforma tributária

As próprias indicações já são recados. Em Galípolo, um ex-banqueiro e ex-gestor no governo tucano de José Serra em São Paulo, Haddad diz haver uma sinalização de que o ministério terá uma composição “plural” nos próximos anos. “Não quero uma escola de pensamento comandando a economia”, voltou a dizer o petista na coletiva.

No caso de Appy, a função atribuída é nova e foi idealizada por Haddad justamente para dar mais centralidade à pauta da reforma tributária, prioridade do futuro governo Lula. O economista foi um dos idealizadores da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45/2019, que aglutina impostos em uma alíquota única (a ser cobrada no destino) e reduz a tributação sobre o consumo. Appy tem proximidade com o PT e chegou a ser secretário executivo da Fazenda no governo Lula – mas seu nome é respeitado em partidos de centro e até de direita.

Na coletiva, Haddad não poupou o governo Jair Bolsonaro (PL) de críticas, sobretudo pelas medidas de 2022 que elevaram os gastos públicos com fins predominantemente eleitoreiros. “Nosso grande desafio, portanto, vai ser corrigir os erros que foram cometidos este ano por açodamento – eu diria até por desespero eleitoral. Foram cometidos uma série de equívocos na gestão da política econômica”, disparou Haddad.

Foi o gancho para o futuro ministro reforçar que, no lugar do nefasto e fracassado teto de gasto, “um arcabouço fiscal novo é imprescindível, uma vez que o atual praticamente decaiu, não é respeitado já há alguns anos”. Além da ineficiência do teto de gasto, imposto pela Emenda Constitucional Nº 95, de 2016, Haddad ponderou que a “âncora fiscal” a ser criada pelo governo Lula não pode castigar as áreas sociais.

“Pretendemos corrigir essas distorções (do governo Bolsonaro) sem tirar o pobre do orçamento, porque nós temos um compromisso com a questão social”, declarou. “Não podemos admitir a volta da fome, a corrosão do poder de compra dos salários, o que está acontecendo. Mas isso tem que ser compatibilizado com trajetórias sustentáveis.” De acordo com o petista, não haverá – da parte do governo Lula – “nenhum preconceito em sentar com o Sistema Financeiro Nacional para discutir as regras”.

Além disso, haverá atrativos para o mercado de capitais, para as PPPs (parcerias público-privadas) e incentivo ao crédito, como Lula fez em seus dois governos nos anos 2000. Segundo Haddad, o Banco do Brasil voltará a ser referência de crédito para o agronegócio, assim como a Caixa vai apoiar programas sociais com mais ênfase. “Em 2003, fizemos grande agenda de crédito do Brasil com responsabilidade. Bancos ficaram robustos porque eram programas corretos”, disse Haddad. “Sem educação de qualidade e crédito, não há economia que prospere.”

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