Lula critica incentivo de Bolsonaro a fascismo de seus apoiadores

O presidente eleito denunciou que “o presidente sainte” não reconheceu a eleição ainda, estimulando a violência dos manifestantes.

Lula discursa em cerimônia de encerramento do trabalho dos Grupos Técnicos da Transição.

A cerimônia de encerramento e agradecimentos aos 32 grupos técnicos (GTs), realizada pelo Gabinete de Transição, nesta terça-feira (11), foi marcada por críticas contundentes ao comportamento do presidente Jair Bolsonaro diante de atentados violentos que ocorrem pelo país, sem que ele os repudie ou desestimule. Na noite desta segunda-feira (12), Brasília foi alvo de depredação e violência de manifestantes bolsonaristas dispostos a causar distúrbios contra a diplomação do presidente eleito Luis Inácio Lula da Silva.

Além de Lula, participaram do evento o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, a coordenadora de articulação política, Gleisi Hoffmann (PT), e o coordenador dos grupos técnicos, Aloizio Mercadante (PT). Também estavam presentes o ex-deputado Floriano Pesaro, coordenador da transição, e os ministros indicados Flávio Dino, (Justiça), Rui Costa (Casa Civil) e o embaixador Mauro Vieira (Relações Exteriores). Tanto Lula, quanto Flávio Dino se mostraram indignados com o terrorismo que bolsonaristas tentam impor em suas manifestações, quanto com a leniência do governo e setores da segurança pública. Alckmin criticou a metodologia de Bolsonaro na transição.

Referindo-se a Bolsonaro, Lula criticou o modo como ele estimula a violência. “Esse cidadão até agora não reconheceu a sua derrota, continua incentivando os ativistas fascistas que estão nas ruas se movimentando. Ontem [segunda] ele recebeu esse pessoal no Palácio da Alvorada, não sei qual foi o estrago que foi feito no Palácio da Alvorada. Ele tem de saber que aquilo é patrimônio publico, não é dele, da mulher dele, do partido dele. É do povo brasileiro”, afirmou Lula.

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“Ou seja, ele segue o rito que todos os fascistas seguem no mundo. É importante a gente saber que eles fazem parte de uma organização de extrema-direita que não existe apenas no Brasil. Existe na Espanha, na Itália, França, nos Estados Unidos, que tem como líder o presidente Trump, existe na Hungria existe em vários outros países, inclusive na nossa querida Argentina”, continuou o presidente eleito.

Lula também observou que sua campanha enfrentou uma circunstância em que, “nunca o estado esteve tão a serviço de um candidato sainte”, como nesta eleição. Ele então qualificou Bolsonaro de “uma figura anômala, irracional, sem coração, incapaz de expressar sentimento ou um gesto de solidariedade”, referindo-se ao comportamento durante a pandemia.

Lula mencionou as diversas eleições que perdeu e voltou para casa, chorou, mas reconheceu o vitorioso e o cumprimentou, gestos que Bolsonaro não fez até agora. Com isso incentiva as manifestações violentas nas ruas do país ao negar as eleições.

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Minoria derrotada

Flávio Dino, ministro anunciado da Justiça

Também presente no mesmo evento, o ministro anunciado da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou que os crimes políticos são de competência federal e garantiu providência contra os militantes que promovem atos antidemocráticos. “Esse treze de dezembro é a prova de que nunca mais a gente vai viver o treze de dezembro do AI-5. A democracia venceu”, disse, referindo-se ao Ato Institucional que endureceu a ditadura e a repressão política no Brasil, a partir de 1968.

“Do ponto de vista histórico, é claro que nos causa mais que indignação, nos causa repulsa, que a estas alturas ainda haja esse tipo de atitude antidemocrática, impatriótica e violenta contra o voto popular. Mas, ao mesmo tempo, temos que relativizar e modular corretamente que esses grupos extremistas não tiveram, não tem e não terão força para vencer o povo brasileiro”, afirmou o ex-governador do Maranhão, ressaltando a dimensão cada vez menor desses grupos extremistas.

Flávio Dino disse que muitas investigações e ações contra militantes que promovem ações antidemocráticas não estão avançando atualmente. Mas ele considera que é preciso valorizar que, “apesar das dificuldades” a Polícia do DF está atuando com a Polícia Federal para garantir a segurança dos eventos da posse. Ele se refere a suspeição de leniência de forças policiais com os manifestantes levantada pela imprensa. Ontem, acusaram de não haver repressão na maior parte dos atentados cometidos. No entanto, o futuro ministro disse que tudo será destravado a partir do dia 1º de janeiro, quando Lula tomar posse.

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“Temos feito a Polícia Federal as representações cabíveis no momento. Agora, no dia 1º de janeiro de 2023, aquilo que não pode ser feito nesses 15, 20 dias será feito. Porque não é apenas orientação política, é um imperativo da lei”, afirmou Dino, garantindo que a posse de Lula será a maior festa que já houve como Festival do Futuro.

Participação e autoritarismo

O vice Geraldo Alckmin fez um balanço com elogios à equipe de transição e indiretas para Bolsonaro. “Lula fez uma campanha muito participativa. Não se faz uma campanha de um governo democrático em cima de motocicleta, fazendo motociata. A gente faz campanha ouvindo, dialogando, conversando. O presidente Lula percorreu o Brasil de Norte a Sul, Leste a Oeste, fazendo reuniões com movimentos culturais, cooperativas, sociedade civil organizada, cultura, educação, saúde, meio ambiente”, disse Alckmin, referindo-se a Bolsonaro como “o presidente sainte”.

Coordenador da transição, o vice também comparou os números da transição com a de Bolsonaro, quatro anos atrás. “É interessante comparar com o governo que está saindo, que teve 233 participantes. Nós tivemos mais de 5 mil. Mas eles nomearam 43 dos cargos (com pagamento de salários), que a lei estabelece, enquanto nós nomeamos 22, ou seja, metade do gasto e com participação muito maior.”

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