Como Messi reconstruiu sua imagem junto à torcida argentina?

Com atraso, Messi conquista a torcida Albiceleste e lidera a seleção; jogador se tornou o maior artilheiro do país em mundiais e pode ser o atleta com maior número de partidas.

Foto: Fifa

Com 4 gols nessa Copa do Mundo, Messi lidera a seleção argentina até aqui em uma versão mais próxima ao que foi Maradona. Mas nem sempre foi assim.

Na maior parte do tempo com a camisa a Albiceleste o ar foi de desconfiança da torcida com o jogador. Chegar até o final da Copa de 2014, realizada no Brasil, e ser eleito o craque da competição, não foi suficiente.

Assim como ostentar o posto de ser o único sul-americano a disputar cinco Copas. Marcou um gol nas Copas de 2006 e 2018, quatro gols em 2014 e passou em branco em 2010, quando foi comandado por Maradona.

Aliás, a relação com o maior craque de seu país é polêmica. Apesar de bancar Messi mesmo que não tenha feito gols e não tenha manifestado liderança sob a equipe sendo capitão, Maradona chegou a ironizar o jogador em outros momentos por atuar bem no seu clube, à época o Barcelona, e ir mal na seleção. O maior craque argentino também foi flagrado em conversa com Pelé, quando disse que Messi não sabia liderar.

Após receber pressão de todos os lados ao amealhar o vice-campeonato mundial e algumas vezes ser vice-campeão da América, o atual jogador do PSG anunciou que deixaria a seleção em 2016, mas não durou muito o afastamento. Inclusive disputou a Copa seguinte, em 2018, na Rússia.

Desde então, começou a lograr mais espaço e a incorporar melhor o status de capitão, que, apesar de usar a braçadeira, nunca tinha assumido.

A consagração de Messi veio com a Copa América de 2021, disputada no Brasil. Junto com seus companheiros foi responsável por tirar seleção de uma fila de títulos de 28 anos. A última taça havia sido a da Copa América de 1993.

Redenção

A falta de espetáculo do sete vezes melhor do mundo sempre foi a reclamação oficial quanto ao jogador. Mesmo assim, Messi sempre entregou “números”. Já igualou Batistuta como o maior artilheiro argentino em Copas, com 10 gols, e tem tudo para se isolar na marca até o final da competição. Além disso, é o primeiro argentino a marcar em quatro mundiais e pode se tornar o jogador mundial com mais partidas de Copas, alcançando 26 partidas com os jogos da semifinal e da final/ou 3º lugar.

Todos esses números foram construídos ao longo da sua carreira, o que prova que sempre esteve presente, pois agora está em condições de quebrar marcas.

Porém, o que conquistou de vez os Hermanos foram as atitudes de Messi. Muitos torcedores torciam o nariz pelo fato de o jogador ter poucas raízes no país, considerando que foi atuar ainda muito jovem na Espanha. Querendo ou não, isto incomodava os argentinos, mesmo que de forma reprimida. Com isso, as críticas ao futebol desempenhado na seleção sempre foram mais pesadas.

Mas o fato de ter utilizado linguajar tipicamente do país ao encarar um jogador holandês durante uma entrevista pós-jogo levou os torcedores à loucura.

Messi disse: ¿Qué mirás bobo? Andá para ala.” (“Está olhando o que, bobo?  Vai embora para lá”).

A frase se tornou viral com camisetas que retratam o momento, memes e até tatuagem.

No mesmo jogo, ainda comemorou a classificação com encarada no técnico holandês Van Gaal e o criticou para jornalistas ao ironizar que o treinador prega um bom futebol, mas que se utilizou de jogadores altos e cruzamentos na área.

Fora isso, o jogador tem se mostrado vibrante em campo, comemora com a torcida e, o mais importante, tem marca gols decisivos.

Estes são alguns dos momentos de Messi como Maradona, à maneira como os argentinos se acostumaram a amar El Pibe de Oro: bocudo, intempestivo, genial em campo. Mas será que esse acolhimento tardio a Messi se manterá em caso de insucesso da seleção em busca do tricampeonato?

A primeira prova será contra os croatas, que venceram o Brasil nos pênaltis. O jogo está marcado para terça-feira (13), às 16 horas, pela primeira partida de semifinal da Copa do Catar.