Presidente chinês cumprimenta Lula e reforça ‘parceria estratégica’ com Brasil

O presidente Xi Jinping expressa cumprimentos a novo governo, após relação conflituosa com Bolsonaro

As boas relações entre Xi Jinping e Lula remontam ao seu primeiro governo. Em 2009 se conheceram pessoalmente

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou ter recebido, nesta quinta-feira (8), uma carta do presidente da China, Xi Jinping, para reforçar cumprimentos pela vitória eleitoral.

No texto, segundo Lula, Xi reforça “os cumprimentos pelo resultado eleitoral, a amizade e parceria estratégica global entre nossos países e a visão de longo prazo das relações entre Brasil e China”.

Apesar da China ser o principal parceiro comercial do Brasil, o governo de Jair Bolsonaro criou diversas situações de atrito com a potência asiática por motivos ideológicos, especialmente durante a pandemia. 

Em fevereiro de 2019, Bolsonaro visitou Taiwan, irritando os chineses — o país é considerado uma “província rebelde” por Pequim.

Em novembro do ano passado, Eduardo Bolsonaro, deputado federal (PSL-SP) e filho do presidente, publicou (e depois apagou) mensagem dizendo que o governo brasileiro apoiava uma “aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China”.

Em comunicado, a embaixada chinesa em Brasília falou sobre o governo brasileiro “arcar com consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil”.

Em maio deste ano, Bolsonaro insinuou que a pandemia de coronavírus seria parte de uma “guerra biológica” chinesa e que “os militares sabem disso”. Por causa de declaração semelhante do governo da Austrália, a China cortou negociações de bilhões de dólares em matérias primas. As pressões vindas principalmente do agronegócio brasileiro fizeram Bolsonaro recuar de suas declarações.

As declarações não causaram efeitos diplomáticos relevantes, pois não se traduziram em ação concreta contra o país, reduzindo-se a bravatas. Economistas interpretam como efeitos naturais da recessão internacional a queda dos investimentos chineses confirmados no Brasil em 2020 — 74% — atingindo US$ 1,9 bilhão, o menor valor registrado desde 2014. 

O gigante asiático responde pelo triplo de participação nas exportações brasileiras, se comparado aos EUA. Em 2021, foram 31,28% do total, ou 87,7 bilhões de dólares, contra 11% dos americanos, ou 31,1 bilhões de dólares. Os chineses também respondem por 21,7% da participação nas importações brasileiras, ou 47,6 bilhões de dólares, também a maior parceria.

Futuro promissor

Embora não tenha se manifestado diplomaticamente em nenhum momento a respeito dos ataques de Bolsonaro, Xi Jinping e seu governo fizeram questão de expressar contentamento com o novo governo. Afinal, as boas relações diplomáticas com os governos de Lula e Dilma remontam à parceria BRICS, em que se uniram Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul para parcerias estratégicas, inclusive a criação de um banco de desenvolvimento.

O relatório do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) intitulado “Investimentos chineses no Brasil: histórico, tendências e desafios globais (2007-2020)”, aponta as perspectivas para relações futuras entre os países a partir de suas potencialidades.

“A China dispõe de incontestável experiência em projetos de construção civil e indústria, que por décadas estiveram entre os principais motores de sua economia. Parcerias nessas áreas poderiam contribuir para a diminuição dos gargalos de infraestrutura que emperram o crescimento brasileiro”, diz o documento.

“O setor de eletricidade, no qual as empresas chinesas já estão bem estabelecidas, continuará a ser um importante eixo de atuação no Brasil. As áreas portuária, de transporte e logística, nas quais há projetos em andamento, poderiam ser mais bem exploradas com a atração de novos investimentos, dado o grande potencial de atuação do lado chinês e a urgência brasileira em implementar projetos nesses setores”.

“Existem oportunidades de inovação na agenda bilateral que poderiam se beneficiar do crescente avanço da China nas novas fronteiras da tecnologia da informação. A entrada de investimentos chineses nessa área no Brasil ainda é um fenômeno recente e restrito a um número relativamente baixo de atores, mas oferece um grande potencial para projetos ligados a temas como inteligência artificial, economia digital, internet das coisas, redes 5G, cidades inteligentes, dentre outros”.