MST defende medidas urgentes para a superação da fome e da miséria 

Em carta que será entregue ao governo Lula, movimento defende agricultura familiar e agroecologia, distribuição de terras, combate ao trabalho escravo e desmatamento zero

Imagem: reprodução/MST

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) divulgou uma carta aberta ao povo brasileiro nesta terça-feira (29) na qual aponta para algumas urgências que precisam ser enfrentadas pelo governo Lula envolvendo o combate à fome e à pobreza, reforma agrária e meio ambiente. O documento deverá ser entregue em breve à equipe de transição.

Ao fazer o diagnóstico sobre o cenário atual e futuro, a carta aponta que o governoLula terá o desafio de enfrentar “em caráter emergente as necessidades fundamentais do povo, como o combate à fome e ao desemprego, e investimentos pesados em educação e saúde. E no médio prazo debater com toda sociedade um novo projeto de país, fundado na reindustrialização e na agricultura produtora de alimentos saudáveis, única forma de retomarmos o crescimento econômico com justiça social”. 

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Atualmente, estima-se que mais de 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil, segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan).

No documento, o MST defende o estímulo à agroecologia e à agricultura familiar e “dentro dela a distribuição de terras dos latifúndios, sobretudo nas proximidades das cidades, para que se multipliquem as famílias camponesas produtoras de alimentos”. Também trata da necessidade de garantir maquinários para esse segmento e programas de agroindústrias cooperativadas, assim como ressalta a importância da agroecologia para a produção de alimentos saudáveis, sem agredir o meio ambiente. 

Para se ter uma ideia, no caso da agricultura familiar em geral, o Censo do IBGE de 2017 mostra que esse setor representa 77% dos estabelecimentos rurais do país, sendo composta principalmente por pequenas propriedades. E, apesar de ocupar apenas 23% da área agrícola brasileira, tem forte participação na produção alimentar consumida pela população. O segmento responde, por exemplo, por 48% do valor da produção de café e banana, 80% do valor de produção da mandioca, 69% do abacaxi e 42% do feijão.

Ao mesmo tempo, o MST defende o desmatamento zero. “Não precisamos derrubar mais nenhuma arvore. Precisamos, sim, é de um Plano Nacional de Reflorestamento urgente, plantando milhões de árvores em todo país, em todos os biomas, no campo e nas cidades”, afirma. Além disso, para garantir a soberania alimentar, ressalta que o governo deve implementar, o quanto antes, políticas públicas, entre as quais os programas de Aquisição de Alimentos e de Alimentação Escolar, abandonadas pelo governo Bolsonaro. 

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Outro tema destacado pelo movimento foi o combate ao trabalho escravo. Somente neste ano, até o mês de julho, mais de mil pessoas foram resgatadas nessas condições, boa parte em áreas rurais do país. O MST destaca a necessidade de combater a exploração no campo, bem como as péssimas condições dos assalariados desprovidos de direitos trabalhistas, além do garimpo ilegal. 

O movimento também chama atenção para a importância de haver um amplo programa de educação e cultura no meio rural “que dê oportunidade a todas as pessoas, em especial aos jovens, que erradique o analfabetismo, ofertando todas formas de escolarização no interior do país, que preserve e fomente as manifestações e expressões culturais do povo”. E reforça o apoio à luta contra todas as formas de “violência, discriminação, racismo, misoginia, LGBTfobias e intolerância religiosa que foram alimentados pelo bolsonarismo fascista”. 

Por fim, o MST diz que “nossa missão maior é seguir organizando o povo, para que lute por seus direitos, consagrados na constituinte de 1988, pois sabemos que sem mobilização popular não haverá nenhuma mudança verdadeira no pais”. 

Leia aqui a íntegra da carta.