Presidente do Conass defende decisões da Anvisa

Agência aprovou uso de vacinas bivalentes contra a covid-19 e a volta das máscaras em aeroportos

Fernando Frazão/Agência Brasil

O presidente do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e secretário de Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, classificou como “absurda” a violência bolsonarista contra a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por tomar medidas de combate ao avanço da covid-19.

A media móvel de casos de covid-19 nesta quinta-feira (24), foi a 19.702, 133% maior ante o índice de duas semanas atrás. A média móvel diária de vidas perdidas foi de 73, alta de 59% em relação à de duas semanas. Este cenário de avanço de contágios e mortes tem sido diário.

Devido a este cenário alarmante, a Anvisa definiu, na terça-feira (22) o uso emergencial de duas versões bivalentes da vacina contra a covid-19, desenvolvidas pela empresa Pfizer. Os imunizantes receberam autorização para uso como dose de reforço na população acima de 12 anos, após terem sido considerados fórmulas protetivas mais eficazes que as usadas atualmente para uma nova variante mais contagiosa. 

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A aprovação das novas fórmulas protetivas tiveram aval de sociedades médicas brasileiras, órgãos como Conass e Conasems, além de já terem sido autorizadas por outros países, como Reino Unido, Japão e Estados Unidos.

Os diretores da agência também decidiram pela volta da obrigatoriedade do uso de máscaras em aeroportos, aeronaves e navios. Esta medida foi o principal alvo de ataques da família Bolsonaro, que mobilizou sua base para disseminar negacionismo nas redes sociais e atacar os técnicos da Anvisa.

Imbecilidade e negacionismo

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou na quarta-feira (23), que é uma “imbecilidade” a decisão da Agência de obrigar o uso de máscaras em aeroportos e aviões. Ele também informou que estava entrando com um Projeto de Decreto Legislativo “para sustar os efeitos desta imbecilidade vinda da Anvisa”. “Convocação/convite de dirigentes da Anvisa para a Câmara ou mesmo moção de repúdio em câmaras estaduais e municipais estão no radar”, afirmou.

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“A reação negacionista dele contra a decisão da Anvisa, de voltar a usar máscaras em transportes públicos e voos, é de uma violência absurda. Os Bolsonaros mobilizam suas bases sociais contra a Anvisa, que é uma agência respeitada no âmbito internacional. Continuamos a ver uma beligerância contra medidas explicitamente eficazes no controle de doenças infecto-contagiosas”, critica Nésio, em entrevista ao Portal Vermelho.

O conselheiro diz que medidas protetivas como essas foram “ultrapolemizadas” durante a pandemia, o que levou a um enorme desgaste da agenda sanitária entre prefeitos e governadores. 

O desgaste provocado pelo bolsonarismo, no entanto, é uma luta perdida contra a ciência e a natureza. Quem embarca nessa política negacionista sofre as consequências da doença e coloca em risco os seus. O médico diz que a nova situação da pandemia envolve um padrão de comportamento já conhecido da covid-19.

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Cultura de proteção sazonal

A regra, ao longo de quase três anos de pandemia, é que a cada 90 a 120 dias, tem havido uma nova expansão da doença. Com isso, a covid-19 vem alcançando as primeiras características de sazonalidade (ocorrências periódicas), que podem se confirmar nos próximos anos. Assim como ocorre com a gripe e outras doenças comuns, que, em determinadas épocas, ocorrem com mais frequência, aumentando a média de contágios, internações e mortes, especialmente de idosos e pessoas com comorbidades.

Nésio explica, no entanto, que a explosão da variante ômicron no Brasil, no início de 2022, mudou o cenário do enfrentamento à pandemia. Até então, as vacinas protegiam contra infecções. “Com a ômicron, verificamos que, mesmo com as duas vacinações, a pessoa não consegue desenvolver imunidade contra a variante. Apesar disso, temos proteção acima de 80% para a hospitalização e o óbito”, explica.

Ou seja, além de intensificar o reforço vacinal, para reduzir infecção, junto com a vacinação é preciso utilizar barreira física. Então, no momento em que a doença volta a crescer e ter fase de expansão, as máscaras precisam voltar a ser usadas pela população no seu cotidiano. 

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“Desde o início da pandemia, já falávamos que as máscaras vieram pra ficar e precisam ser incorporadas na nossa cultura, como ocorre em países asiáticos. Quando uma pessoa está com uma doença respiratória, ela precisa usar máscara como uma etiqueta sanitária”, recomenda ele, considerando que falta este estímulo e uso obrigatório em determinados espaços. 

Paxlovid e protocolos

Outro lacuna que Nésio aponta na política de saúde pública contra a covid-19 é a falta de distribuição de Paxlovid, um medicamento eficaz (e aprovado pela Anvisa) para o tratamento de casos leves de covid. Em pacientes idosos, pode evitar o avanço da doença e internação. 

“A introdução de medicamentos eficazes para tratamento contra covid tem se mostrado tímida. O Paxlovid foi comprado numa quantidade pequena pelo Ministério da Saúde”, informa ele. 

Outro problema é a exigência para o paciente idoso se deslocar até um local específico para receber o medicamento. “A distribuição do medicamento é centralizada, o que exige uma mobilidade do paciente, quando ele poderia já receber no momento do diagnóstico. O medicamento previne a hospitalização em pacientes leves e idosos mas não está amplamente disponível”, lamentou.

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Outro problema crônico da gestão do Ministério da Saúde é a falta de preocupação de criar protocolos nacionais para o tratamento dessa pandemia. “O medicamento foi liberado para uso hospitalar mas não há nenhuma ação nacional de padronização de protocolo de tratamento, o que fragmenta o tratamento”, afirma. Com isso, cada unidade de saúde no país que receber o medicamento não saberá exatamente como ministrá-lo, como selecionar o paciente e como indicá-lo para tratamento.