Mulheres são destaque na 64ª edição do Prêmio Jabuti

Elas levaram 13 das 20 categorias do prêmio. Cerimônia promovida pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) aconteceu nesta quinta (24)

A poeta Luiza Romão venceu o prêmio Jabuti nas categorias Livro do Ano e Poesia com a obra "Também guardamos pedras aqui" | Foto: Reprodução/Instagram

A 64ª edição do Prêmio Jabuti, a maior e mais aguardada premiação nacional do livro, anunciou na noite nesta quinta-feira (24), no Theatro Municipal de São Paulo, os vencedores de 2022. O evento foi marcado pela vitória expressiva das mulheres que levaram 13 das 20 categorias. “Também guardamos pedras aqui”, da paulista Luiza Romão, foi eleito como Livro do Ano e ganhou na categoria Poesia.

Em Romance Literário, uma das mais aguardadas da cerimônia, concorreram apenas mulheres. O destaque foi para a pernambucana Micheliny Verunschk, com “O som do rugido da onça”, da Companhia das Letras.

A carioca Eliana Alvez Cruz ganhou em Contos, com “A vestida: contos” e Ana Elisa Ribeiro em Juvenil, com “Romieta e Julieu”, e Silvana Tavana, em parceria com Daniel Kondo, venceu em Infantil, com “Sonhozzz”.

A categoria “Fomento à Leitura” ficou com a ONG Vaga-Lume, destaque na seção Causadores, de Ecoa, do Uol. “Literatura, no meu entender, é um direito porque ela é tão importante quanto comida e água. Ela é vital ainda mais no mundo de hoje, em que a gente está nomeando pouco porque nos comunicamos por emoji, estamos diminuindo a nossa relação com as palavras.”, afirmou a fundadora do Vaga-Lume Sylvia Guimarães.

Leia também: Mulheres dominam lista de romances finalistas do Prêmio Jabuti

A pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcolmo, que ganhou destaque no combate contra a Covid-19, ganhou na categoria Ciências, com “Um tempo para não esquecer: a visão da ciência no enfrentamento da pandemia do coronavírus e o futuro da saúde”.

Já Célia Maria Antonacci ganhou em Artes por “Apontamentos da arte africana e afro-brasileira contemporânea: políticas e poéticas”. Em Ciências Humanas, “Enciclopédia Negra” foi premiada. A obra é assinada por Lilia Moritz Schwarcz, Jaime Lauriano e Flávio dos Santos Gomes.

Em Personalidade do Ano, a homenageada foi a filósofa, escritora e educadora Sueli Carneiro, um dos destaques da noite. A doutora em filosofia e educação foi a primeira pessoa a ganhar a honraria que não saiu do eixo de Literatura. Escritora, ela atua como coordenadora executiva do Geledés – Instituto da Mulher Negra e é presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá para Equidade Racial.

Sueli Carneiro é primeira Personalidade Literária do Prêmio Jabuti fora do Eixo Literatura | Crédito Maria Comuniqueira

“Dentre os muitos sonhos que eu tive na vida, nunca imaginei ser homenageada com um prêmio como esse”, comentou. “Essa distinção de personalidade literária de 2022 acolhe generosa e solidariamente não apenas meus escritos, mas sobretudo confere reconhecimento às lutas de pessoas negras nessa sociedade.

Veja a lista completa dos premiados na 64ª edição do Prêmio Jabuti aqui.

Sobre a autora do Livro do Ano 2022

Luiza Romão nasceu em Ribeirão Preto, em 1992. É poeta, atriz e slammer (quem participa de “batalhas de poesia”) , autora dos livros Sangria (2017) e Coquetel motolove (2014), publicados pelo selo doburro. Em 2020, entrou no mestrado em Teoria Literária e Literatura Comparada (na FFLCH/USP), pesquisando o slam no Brasil. Explora a palavra poética na intersecção com a performance e o cinema.

Sinopse de “Também guardamos pedras aqui”

As pedras de Luiza Romão têm a ver menos com as pedras no bolso de Virginia Woolf, e mais a ver com as pedras jogadas pelos palestinos em Sheikh Jarrah: um ato ao mesmo concreto e simbólico, de autodefesa e resistência ao neocolonialismo. As pedras de Luiza têm mais a ver com a pedra de Drummond, a de João Cabral, a pedra das canções de protesto do Clã Nordestino, de Nina Simone, de Pete Seeger, de Barbara Dane e de Selda Bagcan. Com “também guardamos pedras aqui”, Luiza Romão consegue inserir momentos de afago e restauro existencial, sem perder uma perspectiva crítica. Isso, em 2021, é tudo que a gente quer: seguir nos aperfeiçoando, nos aprimorando, como seres humanos e sujeitos políticos, e ao mesmo tempo sentir um pouco de prazer, um pouco de alívio, que carreguem nossas de baterias, para que possamos voltar à realidade, prontas para a luta. Um livro para ir redescobrindo, à medida que o ele passa. Não tenho a menor dúvida disso.

A história do Prêmio Jabuti

Realizado desde 1958, o Prêmio Jabuti consolidou-se como a mais importante premiação nacional do livro e é referência no cenário cultural brasileiro. Patrimônio cultural do País, o Prêmio é responsável por reconhecer e divulgar a literatura, as artes e as ciências feitas no Brasil, com a valorização de cada um dos elos que formam a cadeia do livro, sempre em diálogo com os diversos públicos leitores e, junto com eles, assimilando as mudanças da sociedade.

__

Autor