Lula pede mais ação e critica “discussões intermináveis”

Segundo Lula, muitas decisões multilaterais em defesa do clima, embora importantes, “nunca são levadas a sério ou nunca são cumpridas”

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cobrou nesta quinta-feira (17) mais efetividade aos compromissos que os países firmam sobre o meio ambiente em fóruns da ONU (Organização das Nações Unidas). Seu discurso – o terceiro desde que chegou a Sharm El-Sheikh, no Egito, para participar da 27ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-27) – foi feito em encontro com movimentos sociais brasileiros.

Segundo Lula, muitas decisões multilaterais em defesa do clima, embora importantes, “nunca são levadas a sério ou nunca são cumpridas”. A seu ver, os fóruns da ONU, como a própria COP27, “não podem continuar sendo” dominadas por “discussões teóricas intermináveis”. Em vez disso, é preciso apostar em mais instâncias globais de governança.

“Às vezes, tenho a impressão de que as decisões serão cumpridas se houver um órgão de governança global que possa decidir o que fazer”, afirmou Lula, pela manhã, durante mesa de debate promovida pelo Brazil Climate Action Hub. “Se depender das discussões internas do Estado nacional, no Congresso Nacional, muitas coisas aprovadas sobre o clima não serão colocadas em prática”, agregou.

Por suceder Jair Bolsonaro (PL), que promoveu um governo de destruição em diversas áreas, Lula afirmou que terá mais desafios do que quando foi eleito presidente pela primeira vez, há 20 anos. “Temos uma tarefa que é muito delicada. Vamos pegar o País pior do que nós pegamos em 2003”, comparou. “Vamos pegar o País com uma coisa mais grave – que é a tentativa do desmonte e do descrédito das instituições.”

Aos movimentos sociais, o presidente eleito garantiu que haverá mais participação e mais pautas de interesse popular. “Vamos às conferências nacionais para que o povo decida qual é a política pública corretar para colocar em prática. Vamos fazer uma conferência da juventude, para que ela diga o que ela quer – e vamos fazer uma conferência das pessoas com deficiência, do povo negro, da mulher, dos LGBTs.”

Lula voltou a criticar a lógica do “teto de gastos”, que poupa o pagamento de juros e amortizações da dívida pública, mas prejudica investimentos sociais. Para o presidente eleito, é preciso aliar responsabilidade fiscal e responsabilidade social. Como há meta de inflação, disse Lula, o Brasil também deve ter meta de crescimento.

“Se o teto de gastos fosse para discutir que a gente não vai pagar a quantidade de juros para o sistema financeiro que a gente paga todo ano, mas a gente fosse continuar mantendo as políticas sociais intactas, tudo bem. Mas você tenta desmontar tudo aquilo que faz parte do social e você não tira um centavo do sistema financeiro”, discursou o presidente eleito.

De acordo com Lula, o “teto de gastos”, tal como existe hoje, serve apenas para “tirar dinheiro da saúde, da educação, da ciência & tecnologia, da cultura”. Conforme o presidente eleito, trata-se de uma medida a serviço dos “especuladores”, e não do povo brasileiro. “Se eu falar isso, vai cair a bolsa, o dólar vai aumentar, paciência. O dólar não aumenta e a bolsa não cai por conta das pessoas sérias – mas por conta de especuladores, que vivem especulando todo santo dia.”

A participação do futuro presidente brasileiro na COP27 foi elogiada pela imprensa internacional. Segundo o tradicional diário The New York Times, dos Estados Unidos, Lula teve uma atuação “exuberante” que “eletrizou o encontro” ao anunciar a volta do protagonismo do Brasil no mundo.

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