Grupo neonazista que atuava no Sul é desbaratado em Santa Catarina

Polícia Civil prendeu oito homens em São Pedro de Alcântara, no interior do estado. Também foram apreendidos arma de fogo e materiais de teor nazista e supremacista

Local onde grupo se reunia, no interior de SC. Foto: Polícia Civil/Divulgação

Mais uma célula neonazista, de atuação interestadual, foi descoberta em Santa Catarina. A Polícia Civil prendeu oito suspeitos nesta segunda-feira (14) em um sítio na cidade de São Pedro de Alcântara, onde era realizado um encontro anual do grupo. 

Dentre os presos estavam membros de um grupo skinhead internacional, de extrema-direita, conhecido por sua intolerância. O local onde ocorria a reunião foi escolhido por ter sido a primeira colônia alemã do estado, em 1829. Uma arma de fogo estava em poder de um deles, autuado por porte ilegal. Além disso, foram encontrados no local materiais impressos e outros objetos com símbolos de grupos supremacistas.

Com idades entre 22 a 48 anos, os presos foram levados em flagrante pela prática dos crimes de associação criminosa e racismo. Desses, quatro são do Rio Grande do Sul, um de Santa Catarina, um do Paraná, um de Minas Gerais e um de Portugal. Segundo informações da polícia, esse grupo atua nos três estados do Sul e existe há seis anos. 

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Dois dos detidos já se envolveram em crimes de homicídio decorrentes de intolerância. Outro foi denunciado por duplo homicídio decorrente de uma disputa entre lideranças de células neonazistas. O caso ainda não foi julgado.

A operação que resultou nas prisões, realizada pela Delegacia de Repressão ao Racismo e a Delitos de Intolerância, ocorreu após denúncia do encontro. 

No dia 20 de outubro, uma operação prendeu outro grupo de jovens acusados de neonazismo também em Santa Catarina, após investigação iniciada em abril, quando um homem foi preso por tráfico de drogas. 

De acordo com Adriana Dias, antropóloga que pesquisa grupos nazistas no país, o número de células desse tipo saiu de 75 em 2015 para ao menos 530 em 2021. O aumento desses grupos acontece sobretudo a partir da ascensão de Jair Bolsonaro (PL) e da extrema-direita ao poder central do país. 

Em mais de uma ocasião, membros do governo e o próprio presidente tiveram atitudes diretamente ligadas ou que flertavam com o ideário nazista. Mais recentemente, sobretudo a partir do segundo turno e da vitória de Lula,  irromperam várias manifestações de cunho fascista e nazista. Entre estas, a saudação com a mão direita estendida, feita por bolsonaristas à bandeira brasileira também em Santa Catarina; casos envolvendo estudantes do interior de São Paulo e de Sergipe e a infame sugestão, em uma cidade do interior gaúcho, de que comércios de supostos eleitores de Lula fossem marcados com uma estrela — como outrora foi feito por nazistas contra judeus. 

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