Seu nome será para sempre Gal

Morre a cantora que se manteve relevante durante quase seis décadas de muita personalidade e influência na interpretação das canções.

Gal Costa | Foto: Marcos Hermes / Divulgação

Gal Costa morre aos 77 anos. A informação foi confirmada pela assessoria da cantora. A causa da morte não foi informada.

Gal havia dado uma pausa em shows, após passar por uma cirurgia para retirar um nódulo na fossa nasal direita. A cantora era uma das atrações do festival Primavera Sound, que aconteceu em São Paulo no último fim de semana, mas teve sua participação cancelada de última hora. Seu último show foi no festival de música Coala, em São Paulo.

Ela estava em turnê com o show “As várias pontas de uma estrela”, no qual revisitava grandes sucessos dos anos 80 do cancioneiro popular da MPB.  Bem recebido pelo público e pela crítica, esse show fez com que a agenda de Gal ficasse agitada após a pandemia. A estreia aconteceu em São Paulo, em outubro do ano passado.

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Além de rodar o Brasil, Gal entrou na programação de vários festivais e ainda tinha uma turnê na Europa prevista para novembro, mas que também foi cancelada por conta da cirurgia.

Doce bárbara

Nascida Maria da Graça Costa Penna Burgos em Salvador, na Bahia, Gal Costa surgiu em meados dos anos 1960 com um perfil moderno de canto e repertório. Influenciada pelas sutilezas da bossa nova, rapidamente evoluiu para o grito roqueiro, com seu alcance vocal agudo e cristalino, num período em que a MPB recusava as guitarras e a influência americana. Impôs um padrão de ousadia e elegância na performance, nos arranjos e no tratamento vocal das músicas.

Integrou o grupo Doces Bárbaros, que juntou os baianos Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gilberto Gil, já bastante influentes em 1976. Com estes, acabou gravando álbuns, canções e realizando shows que se tornaram definidores do que havia de mais contemporâneo e influente para a música.

Muitas vezes causou desagrado em setores mais conservadores da música e dos costumes. Mas também tornou-se dona de um vasto cancioneiro popular, que nenhuma outra cantora pode cantar sem remeter à comparação com Gal. Um cancioneiro pop, assobiável e muito ouvida em dezenas de novelas de televisão, que enchem o setlist de shows e ainda sobram.

Com 20 anos gravou o fundamental Tropicália ou Panis et Circensis, em que a canção Baby segue até hoje como referência internacional da música brasileira. Músicas desse período, algumas ousadas e experimentais, são sampleadas até hoje por DJs estrangeiros (ouça abaixo sampler de Pontos de Luz, do censurado álbum Índia, de 1973).

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O cultuado álbum Fa-Tal, de 1971, deu motivo a um dos shows mais importantes no país. Gal nunca se acomodou e, até recentemente, procurava compositores novos e ousados para gravar músicas que nem sempre queriam ser assobiadas nas ruas. O álbum Recanto (2011), por exemplo, é todo composto por Caetano Veloso, numa parceria conceitual de músicas reflexivas, tensas, carregadas de influencias eletrônicas, funqueiras e roqueiras. Essa constante reinvenção a tornaram relevante durante as seis décadas de carreira. 

Gal contribuiu para extrapolar as influências do tropicalismo para as artes plásticas, para a moda, o teatro. Sua presença magnética gerava controvérsia e imitação. Seu alcance vocal e sofisticação musical elevava o padrão dos compositores. Até hoje, suas canções mais marcantes são consideradas difíceis de serem cantadas, exigindo habilidades extremas para muitas cantoras.