Jornalistas do Amazônia Real e Dráuzio Varella recebem prêmio Vladimir Herzog

Também foi homenageado o jornalista Dom Phillips (in memoriam), assassinado no Vale do Javari, no Amazonas

Kátia Brasil (esq.), Cristina Zahar (centro) e Elaíze Farias (dir.) (Fotos: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

As jornalistas amazonenses Kátia Brasil e Elaíze Farias, criadoras do site Amazônia Real, e o médico Dráuzio Varella receberam o troféu símbolo do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. A solenidade ocorreu nesta terça-feira (25), no Teatro Tucarena da Pontifícia Universidade Católica (PUC) em São Paulo (SP).

Fortemente aplaudidas, Kátia e Elaíze receberam a premiação das mãos de Cristina Zahar, secretária-executiva da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que reconheceu a importância do trabalho realizado pela agência de jornalismo independente e investigativo.

“Elas trabalham independentemente dos poderes políticos e sem recursos públicos. São mulheres com M maiúsculo, porque adjetivos não dão conta da grandeza do trabalho. Muito obrigada por dar voz aos povos da Amazônia, por retratar os desmandos que ocorrem na região, por inspirar outras mulheres Brasil afora”, por mostrar que o jornalismo e lutar no lado certo da história ainda vale a pena”, disse a representante da Abraji. 

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Em discurso emocionado, Kátia Brasil dedicou a premiação aos povos da Amazônia, à floresta amazônica, a mãe e a avó, mulheres negras que sobreviveram ao patriarcado, e às vítimas de assassinatos na Amazônia, especialmente ao jornalista britânico Dom Phillips e ao indigenista brasileira Bruno Pereira, lembrando o sofrimento marcado pela cobertura jornalística do crime. 

Kátia também fez uma homenagem ao jornalista Lúcio Flávio Pinto, colunista da Amazônia Real que aos 73 anos segue escrevendo sobre a Amazônia; e a toda a equipe corajosa e aos parceiros da agência sediada em Manaus. “Sem o apoio de vocês esse reconhecimento não seria possível”, disse. 

Para Elaíze Farias, é uma honra ser reconhecida por um prêmio que tem forte conotação histórica e é concedido na data que lembra o assassinato do jornalista Vladimir Herzog pela ditadura militar. 

Também emocionada, ela dedicou a homenagem a mãe e a avó, que a influenciaram a ser uma ouvinte e contadora de histórias, e falou sobre as dificuldades e ataques enfrentados pela Amazônia. 

“Na nossa região, as violações de direitos nunca cessaram, na verdade, só se agravaram. Todos estamos vivendo ataques violentos e sistemáticos. As consequências imediatas são para quem está na Amazônia, mas atingirá a todos, globalmente, nesta e nas próximas gerações”, disse.

Elaíze lembrou que grande parte dos assassinatos cometidos na Amazônia são desconhecidos. “A Amazônia, por debaixo de sua magnífica floresta, é vermelha do sangue de seus protetores. É uma floresta que está deixando de existir em muitas partes da região, consumida pelo fogo do modelo econômico neocolonialista e excludente”, afirmou.

Ela citou nomes de vítimas da violência e disse que é urgente resgatar as histórias dessas pessoas, para que as lutas não sejam esquecidas. Elaíze homenageou Ari Uru-Eu-Wau-Wau,de Rondônia, assassinado em 2020; Paulino Guajajara, do Maranhão, assassinado em 2019; Nazildo dos Santos Brito, quilombola assassinado em 2018, no Pará; Socorro do Burujuba, quilombola ameaçada de morte por denunciar contaminação de mineração, no Pará; os povos da Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas, que têm o  território invadido permanentemente; e Leusa Munduruku, que teve sua casa incendiada por garimpeiros em Jacareacanga, no Pará, em 2021.

Por fim, citou o escritor Ailton Krenak, que afirma que as histórias devem ser contadas antes que aconteçam. “Precisamos nos adiantar. Não chegar apenas quando a catástrofe já aconteceu,”, disse. “E quando você conta uma história de um povo, quando você transforma aquele personagem de sua matéria em um sujeito desta história, você está comprometido com eles para sempre”.

Foto dos premiados e premiadas na 46ª edição do Prêmio Vladimir Herzog

A homenagem a Drauzio Varella foi o reconhecimento de uma das maiores referências do país sobre popularização do conhecimento no campo da saúde.

“Porta-voz de uma geração, sua conduta profissional e pessoal nos ensina a observar, de forma crítica, a lógica do sistema prisional brasileiro e os desafios envolvidos na construção de políticas para a população privada de liberdade, tão fundamentais para a defesa dos Direitos Humanos no Brasil”, destacou o Instituto Vladmiri Herzog.

O repórter britânico Dom Phillips também foi homenageado in memoriam pela trajetória marcante no jornalismo em defesa do meio ambiente, na preservação da floresta amazônica e de seus povos.

“Assassinado em pleno exercício de suas atividades jornalísticas, tornou-se mais um ícone da resistência. Honrar a vida profissional e pessoal de Dom passou a ser compromisso público dos que atuam com Direitos Humanos”, diz o Instituto.

Em caráter excepcional, um grupo de jornalistas da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) recebeu prêmio especial pela resistência na defesa da comunicação pública.

O prêmio foi criado em 1978 no Congresso Brasileiro de Anistia realizado em Belo Horizonte, em 1978. Foi de Perseu Abramo, à época diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo e representante da entidade no Congresso, a ideia de dar o nome de Vladimir Herzog ao prêmio que ali surgia.

Com informações da Amazônia Real

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