No Rio, Lula denuncia campanha de Bolsonaro baseada em mentiras

Em entrevista no Rio de Janeiro, Lula alertou para a dimensão da campanha de mentiras de Bolsonaro, explicou como vai gerar empregos imediatos e combater o crime organizado

Em entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira (20) no Rio de Janeiro (RJ), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a coordenadora da campanha da Frente Brasil da Esperança, Gleisi Hoffmann, criticaram a estratégia política do adversário, Jair Bolsonaro, de pautar a campanha com base em mentiras e de utilizar a religião, o poder econômico e a máquina pública do Estado brasileiro na busca de votos. Eles também celebraram as vitórias na justiça eleitoral contra este esquema.

O ex-presidente Lula afirmou que o adversário tem uma máquina poderosa de contar mentiras e usa as redes sociais para vender monstruosidades e espalhar fake news. Mas ele também celebrou o fato do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter interrompido o programa do candidato à reeleição no horário eleitoral, por atacar Lula com mentiras. A propaganda bolsonarista nega que Lula tenha sido inocentado em todos os processos processos.

O TSE também derrubou 184 inserções de Bolsonaro na TV até quinta-feira da próxima semana, o que é quase a metade das 400 previstas. Com mais 42 inclusões em rádio que o petista ganhou como direito de resposta, são no total 226 as inserções ganhas por Lula. “O que temos de entender é que o Judiciário existe pra isso”, disse ele. “Vai ser assim dentro e fora do governo para reeducar a sociedade brasileira a utilizar os meios de comunicação para fazer coisas mais sérias, e não ficar contando mentira e assustando a sociedade.”

Ele destacou ainda que a “máquina” é utilizada até para justificar o injustificável. Bolsonaro tentou se explicar pela declaração sobre as adolescentes da Venezuela, que ele, preocupado com a repercussão negativa, acordou de madrugada para desmentir o que havia relatado. Bolsonaro disse em entrevista que “pintou um clima” com meninas de 14 anos e depois tentou explicar que houve um mal entendido sobre sua frase.

“Nós sabemos como ele age. O cara é um mentiroso muito profissional. Mente com a maior desfaçatez. Não está preocupado”, disse Lula. “Vamos enfrentar sempre sem entrar no jogo rasteiro e no lamaçal que ele quer nos jogar. Vamos continuar tentando convencer o povo brasileiro de que somos o melhor para o país, de que temos uma experiência acumulada – não só do Lula e do PT, mas do Alckmin que governou 16 anos São Paulo – para a gente retomar a economia”, disse o ex-presidente, destacando o legado de seus governos para resolver os problemas do país que, segundo ele, são maiores hoje do que quando assumiu o primeiro mandato em 2003.

“Acho impossível ele tirar a diferença em uma semana, mesmo fazendo as loucuras que ele faz e contando a mentira que ele conta”, disse Lula sobre as últimas pesquisas. O presidenciável comentou que está em disputa “o voto de abstenção, de quem não foi votar, de um pequeno setor da sociedade”. “Com a enxurrada de dinheiro e anúncios colocados pelo governo na TV, ele (Bolsonaro) tem ganhado alguns pontos, mas muito lentamente”, acrescentou.

Sistema eleitoral e punição

A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou ser preciso denunciar esse formato de campanha eleitoral que põe em risco a democracia no Brasil.

“É uma avalanche de mentiras, uma avalanche de fake news e de agressividade. A política deixou de ser espaço onde se discute projeto para o Brasil, para o outro agredir. Tem compra de voto, é patrão pressionando as pessoas para votar no Bolsonaro. É uma coisa doida que a gente não via no processo eleitoral. Tem que se tomar medidas, não pode ser assim.  É uma vergonha o que está acontecendo em termos de processo eleitoral”, disse a presidenta do PT, indignada com casos recentes de pastores que gravam vídeos insistindo na tese falsa de que o presidente Lula quer fechar igrejas. 

Diferentemente do que as falsas notícias querem fazer crer, Lula teve gestão muito respeitosa com todas as crenças, enquanto foi presidente. A atuação republicana e estadista foi reconhecida por lideranças evangélicas progressistas em encontro em São Paulo nesta terça-feira (19).

Entre as medidas eleitoreiras, tomadas em cima da hora para tentar comprar votos e usando a máquina pública como propaganda eleitoral, Gleisi e Lula citaram a liberação de empréstimo consignado associado ao Auxílio Brasil, a liberação de FGTS para e décimo terceiro salário, a menos de uma semana da eleição, com amplo uso de dinheiro para dar publicidade às medidas. Outras medidas eleitoreiras também foram tomadas, como o aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600, três meses antes das eleições.

TSE abriu investigação

A máquina de mentiras produzida pela campanha de Bolsonaro levou o corregedor-geral eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Benedito Gonçalves, a determinar a abertura de investigação contra um “Ecossistema de Desinformação Bolsonarista”. O ministro deu prazo para que 47 pessoas apresentem defesa – entre elas, o presidente Jair Bolsonaro e seus filhos. A suspeita é de uso indevido dos meios de comunicação e abuso de poder político e econômico, com o objetivo de manipular os eleitores e influenciar o processo eleitoral.

Obras do PAC

O ex-presidente também afirmou que a geração de empregos virá com a construção civil, setor que vai criar as vagas imediatas. Na retomada de obras do PAC para geração imediata de emprego, vai negociar com as empresas que ganharem a licitação para contratarem moradores da região onde as obras serão feitas. A estratégia é repetir o que já foi feito entre 2008 e 2010 no Rio de Janeiro, quando os canteiros de obras tinham pais e filhos das comunidades trabalhando.

Lula voltou a dizer que gerar emprego é obsessão de seu governo e lembrou que, quando assumiu, em 2003, o Brasil enfrentava desemprego de 12%. Ao fim dos governos petistas, o percentual era de 4,5%, e 22 milhões de vagas com carteira assinada foram abertas.

Num novo mandato, o foco para geração imediata de empregos é o estímulo à construção civil, por meio da retomada de obras do PAC que foram paralisadas quando a ex-presidenta Dilma Rousseff deixou o governo, com o golpe do impeachment. Segundo o ex-presidente, são cerca de 13,4 mil obras que já têm projetos e licença ambiental e que, portanto, estão aptas a serem executadas com rapidez.

“Vamos retomar com certa urgência porque é o trabalho que dá dignidade às pessoas. Trabalhar e, com o salário, levar comida para sua família”, afirmou ele, em entrevista coletiva no Rio de Janeiro, antes de seguir para caminhada em São Gonçalo (RJ), na região metropolitana da cidade maravilhosa.

Na conversa com os jornalistas, o ex-presidente afirmou também que além de gerar empregos, vai valorizar o salário mínimo, com aumento todo ano, manutenção do Bolsa Família em R$ 600, com acréscimo de R$ 150 para crianças de até seis anos e financiamento dos bancos públicos para micro e pequenos negócios, a fim de estimular o empreendedorismo e a criatividade do povo brasileiro.

Ministério da Segurança Pública

Lula tem antecipado que vai criar uma nova pasta que vai estabelecer um novo padrão de controle de armas para evitar que o crime organizado tenha acesso facilitado a arsenal.

Lula disse que o Brasil terá um ministério específico de Segurança Pública, que não será conflitante com a responsabilidade dos estados de cuidar de suas polícias, mas que será fundamental para combater o tráfico de armas e de drogas nas fronteiras do Brasil. “Nós vamos estabelecer um novo padrão de controle de armas e de drogas”, disse ele.

“Vamos ter que construir polícias especiais, ter nova polícia nacional que possa dar conta do recado”, afirmou.

“Não é possível que a gente não tenha o controle das armas que são vendidas nesse país”, disse, criticando os decretos do presidente Jair Bolsonaro que facilitaram o acesso a armas de fogo. Segundo Lula, o que o país está vendo é o narcotráfico se preparando e se modernizando, com a autorização do governo, para enfrentar não só a polícia, mas a tranquilidade do povo brasileiro.

“Os decretos de Bolsonaro liberaram armas para todo mundo e quem está adquirindo armas não são as pessoas honestas, não são as pessoas de família desse país, não são os trabalhadores desse país. Quem está tendo acesso a arma, que antes era obrigado a invadir o arsenal da Marinha, do Exército, da Aeronáutica ou da polícia militar, é o narcotráfico e o crime organizado, que vão livremente comprar armas” disse.

Segundo Lula, esse acesso do crime organizado a quantidade que quiser de fuzis, metralhadoras, pistolas e cartuchos não pode ser feito para o bem. “Para as famílias que trabalham, para as famílias que vivem em paz, não interessa comprar armas. Quem tem que ter armas boas para enfrentar o crime organizado é a polícia, não o cidadão comum”, disse, acrescentando que essa liberação pelo governo faz aumentar o número de tiros e de violência no Brasil.

A agenda de Lula intensifica-se no Sudeste, com caminhadas em São Gonçalo (RJ), no início da tarde de hoje (20), e no bairro de Padre Miguel, na capital, às 17h30. Na sexta-feira (21), a caminhada será em Teófilo Otoni, na região do Vale do Mucuri (MG), às 10h. No mesmo dia, às 16h, ele estará em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. No sábado (22), às 9h, Lula estará em Venda Nova, região Metropolitana de Belo Horizonte, para uma caminhada. Depois, retorna a São Paulo.