Líder peruano convoca ocupação de Lima pela democracia e nova Constituição

Coordenador das Organizações Agrárias, Marino Flores condena “campanha multimilionária e terrorista da ultradireita contra o governo Castillo”

“Nunca na história do Peru construímos uma coalizão tão ampla de forças pela democracia, o governo e a nova Constituição. Nos próximos dias 9 e 10 de novembro daremos uma contundente resposta à guerra judicial, política e social travada pela Promotoria, representando os grandes grupos econômicos de poder dos Fujimori, Montesinos e sua mídia, que querem afastar o presidente Pedro Castillo para instalar o reino da lavagem do dinheiro, do narcotráfico e das transnacionais”.

A afirmação é de Marino Flores González, coordenador das Organizações Agrárias, da Assembleia Nacional dos Povos e consultor da Central Única das Rondas Camponesas do Peru (CUNAR), “rechaçando contundentemente os atropelos movidos pela Promotoria, numa campanha multimilionária, macartista, terrorista e totalmente desigual”. Por meio de uma ardilosa manobra do Ministério Público, assinalou, um Congresso completamente vendido aos interesses externos pretende “suspender” Castillo com menos votos do que os exigidos para um impeachment e instalar um marionete.

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Marino Flores esclareceu que “estamos nos confrontando contra assassinos, verdadeiros delinquentes, corruptos corroídos de insanidade que reduziram um país rico e produtivo no pesadelo dos pais de família”. “O Peru estampa 50% de anemia, 14% de desnutrição crônica e 9% de desnutrição aguda. Antes éramos produtores, hoje importamos 80% do milho dos Estados Unidos. A ultradireita nos transformou no reino dos monopólios e oligopólios estrangeiros, da fome e da miséria”, condenou.

Conforme o líder camponês, “este é um momento decisivo em que precisamos unir governo e povo para que sejam cumpridas as promessas de campanha e fazer valer um voto que tem significado de identidade e de mudança”. Para a consolidação deste novo tempo, acredita, “é essencial uma nova Constituição”. “Batalhamos para mudar a Constituição de 1993 – imposta pelo ditador Alberto Fujimori -, por considerá-la neoliberal, feita à imagem e semelhança dos interesses dos grandes grupos de poder e da nova oligarquia. Era uma reforma que colocou fralda nas mulheres para que não perdessem tempo no trabalho, garantiu a exoneração e a sonegação tributária, e impôs os Tratados de Livre Comércio (TLCs)”, frisou.

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De acordo com o líder camponês, “o que essa Constituição conseguiu nestes anos foi cavar uma enorme distância entre o povo peruano e um minúsculo grupo de 14 famílias muito poderosas que comandam o país ao lado dos cartéis transnacionais. Gente que açambarcou o mercado, tomou de assalto as finanças, as indústrias farmacêutica e de alimentos, e todos os grandes meios de comunicação. Ao mesmo tempo também conseguiu destruir o pouco que havia de pesquisa, ciência e tecnologia no país”.

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Os retrocessos impostos pelo fujimorismo, dirigido pelo governo estadunidense, foram inúmeros, ponderou Marino: “Conseguiram retirar do Estado o papel de regulação, propulsão e investimento, reduzindo a tal ponto que não possa intervir em nada, fazendo com que passe a ser subsidiário e mero sustentáculo do grande capital. Então, fortaleceram o modelo primário-extrativo, primário-exportador, o modelo medieval ‘encomendero’ [feito para atender o exterior], que tem perdurado nestes 500 anos até a atualidade”.

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Neste último período, denunciou o líder, “tomaram de assalto as empresas estratégicas, aquelas que eram importantes para o desenvolvimento nacional, e agora nos encontramos numa situação bastante complexa porque temos cerca de 70% das terras da Amazônia sob concessão, assim como 65% da Cordilheira dos Andes e 20% da faixa costeira”. Diante desta privatização e desnacionalização, enfatizou, “o nosso compromisso é retomar o país e implantar um projeto democrático, de desenvolvimento, que rompa com as amarras do atraso e da dependência”.

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