Após derrota para Haddad na Band, Tarcísio desiste de debates

Os embaraços são muitos para um confronto com Fernando Haddad. A exposição negativa ocorre de diversas formas e prejudica a candidatura de Bolsonaro, também.

Os analistas foram unânimes em apontar o destaque para o candidato ao governo de São Paulo, Fernando Haddad (PT) no debate da TV Bandeirantes, nesta segunda (10) contra Tarcísio de Freitas (Republicanos). O ponto alto foi o modo como o petista encurralou o bolsonarista com o tema do orçamento secreto e da privatização da Sabesp. Este tem sido apontado como um dos motivos para a desistência do candidato de Jair Bolsonaro (PL) participar de três debates no segundo turno, a partir de agora. Ele também está fugindo das entrevistas na TV, restringindo sua campanha ao programa eleitoral oficial, comícios e caminhadas.

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Nesta quinta-feira, a assessoria de imprensa do candidato confirmou que, por “motivos de agenda”, ele não participará do debate no SBT – realizado por um pool de veículos (SBT, Veja, CNN, Terra, Nova Brasil e Estadão/Eldorado) – marcado para a noite desta sexta-feira (14). Tarcísio não estará presente nos debates da TV Record e no programa Roda Viva da TV Cultura. A participação do último debate antes do segundo turno, que será promovido pela TV Globo em 27 de outubro continua em aberto.

Subiu no salto

Candidato do bolsonarismo em São Paulo, Tarcísio liderava a corrida ao Palácio dos Bandeirantes com 50% das intenções de voto ante 40% obtidos pelo ex-ministro Fernando Haddad (PT), conforme pesquisa Datafolha divulgada no dia 7. Membros da campanha de Haddad acusam Tarcísio de já estar no clima de “já ganhou”, no entanto, o Instituto Ipec, apontou uma diferença menor de 46% contra 41%, em pesquisa divulgada no dia 11, após o confronto na Band.

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Com esses números, Tarcísio já tem até ventilado todo o seu secretariado de governo e foi chamado de arrogante pelos adversários. Ele disse numa entrevista que Guilherme Afif Domingos, coordenador de seu plano de governo, é forte nome para compor seu secretariado. Sugeriu ainda que a deputada federal Rosana Valle (PL-SP) poderá liderar uma secretaria voltada às mulheres. Na área econômica, o mais cotado para a Fazenda é Samuel Kinoshita, que trabalhou com o ministro Paulo Guedes, enquanto Rafael Benini tende a ir para uma área de infraestrutura.

O coordenador da campanha de Haddad, Emídio de Souza, se manifestou em rede social questionando a capacidade do candidato a enfrentar o debate e ironizou, mais uma vez, seu desconhecimento sobre o estado. Suas aparições demonstram que memorizou um roteiro sobre o estado desconhecido, o que pode resvalar em assuntos fora do script, como o constrangimento por não conhecer o bairro onde mora e vota em São José dos Campos.

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Muitas razões para se esconder

Internamente, a campanha de Tarcísio tem avaliado que debates têm menor potencial para virar votos e a estratégia é investir em agendas com caminhadas e comícios em São Paulo e em cidades do interior do Estado. A lógica é evitar a exposição a desgastes no momento em que o bolsonarista ainda lidera as pesquisas de intenção de voto.

Além do tema das emendas de relator criadas por Bolsonaro, no debate anterior, o último bloco incluiu discussão sobre a privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), na qual a equipe de Tarcísio avaliou que o candidato se envolveu desnecessariamente em um assunto espinhoso.

Mas há ainda outros motivos espinhosos para a campanha de Tarcísio estar andando na corda bamba em termos de exposição. A radicalização da campanha, como aconteceu em Aparecida (SP), quando esteve ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PL) e apoiadores hostilizaram a equipe da emissora de TV católica e padres, também poderia gerar desgastes. Embora tente associar suas imagens à religiosidade, a baderna no Santuário Nacional só gerou repercussão negativa. A constante presença entre evangélicos, católicos e até maçons, gera desconfiança entre os diferentes segmentos religiosos.

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As duas candidaturas representam dois polos de disputa nacional, que estão sendo enfatizados por Fernando Haddad. Enquanto Tarcísio evita associar-se aos temas de rejeição a Jair Bolsonaro, o petista enfatiza seus vínculos com Lula faz uma ofensiva dos temas que mais prejudicam o bolsonarismo, como o orçamento secreto e o meio ambiente. Com isso, mata vários coelhos com uma única aparição na TV: se projeta, ajuda Lula, prejudica Tarcísio e Bolsonaro.

A ausência de Tarcísio no entanto, além de evitar todos esses problemas para ambas as candidaturas, prejudica a performance de Fernando Haddad. Com outros eventos de campanha e programas de mídia, Tarcísio continua com a imagem presente no eleitorado, enquanto o petista perde espaço de confronto e ampliação do debate programático.

Nos eventos promovidos pelo jornal Estadão e pela TV Cultura, o candidato do PT, Fernando Haddad, será sabatinado sem a presença de Tarcísio. Sem o ex-ministro, a TV Record cancelou a realização do debate. Tarcísio também cancelou uma das agendas que teria nesta quinta-feira, a primeira após a presença em Aparecida.