Agronegócio deixará de ser “ninho de bolsonaristas”, diz Carlos Teti

Segundo empresário, “ninguém fala que vota no Lula por medo do ódio”

A insatisfação com o governo Jair Bolsonaro (PL) tem levado representantes do agronegócio a procurar a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas, segundo o empresário rural Carlos Ernesto Augustin, o Teti, articulador da campanha de Lula em Mato Grosso, essa dissidência do setor ainda resiste a abrir o voto e declarar apoio público ao petista.

Tudo por causa do clima de “ódio” que os bolsonaristas injetaram entre os grandes produtores rurais. “É a ideologia. Os agricultores estão ensandecidos, não existe bom senso”, afirma Teti, em entrevista ao Valor Econômico. “Os produtores querem sair no tapa, não dá nem para conversar mais com os amigos. Ninguém fala que vota no Lula por medo do ódio.”

O empresário é dono da empresa Petrovina, que, conforme o Valor, “comercializa mais de 1 milhão de sacas de 40 quilos de sementes de soja por safra”. Ele foi fundador e presidente do IPA (Instituto Pensar Agropecuária), composto por 42 entidades de produtores e agroindústrias.

Desde que, em janeiro, declarou apoio a Lula, Teti é vítima do “gabinete do ódio” bolsonarista e sofre ameaças nas redes sociais. “Claro que tenho medo. É pior que ser fichado no Dops”, afirma. “Antes de ser agricultor, sou um ser humano. Já passei pela ditadura e não quero isso de volta.”

Mas, para ele, tudo vai mudar após o segundo turno da eleição presidencial, em 30 de outubro. A seu ver, passado o pleito, a tarefa será “oxigenar” o setor: “A agricultura está muito mal liderada, por pessoas com pensamento atrasado e destoado desse mundo novo – e o agricultor vai de arrasto. A bancada (ruralista no Congresso) virou um ninho de bolsonaristas, mas é temporário”.

Teti aposta que Lula vencerá a disputa – e que, no dia seguinte, o setor já vai procurar o presidente eleito para reatar laços. Sem Bolsonaro, será o fim do que o empresário lulista chama de governo de “bravatas” e de atitudes “totalitárias”. O agronegócio – diz ele – estará em posição desvantajosa.

“Como ficam os pleitos do setor produtivo depois de tanto ódio contra o Lula? No mínimo, os produtores tinham que ser mais civilizados”, avalia. “No dia seguinte da eleição, todos vão cair no colo do Lula. Antes do agricultor, porém, serão os deputados daqui.”

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