Programa de TV espanhol é cobrado em R$ 10 milhões por racismo contra jogador Vini Jr

Numa ação inédita, entidades acionam TV estrangeira por considerar que comentários atingem todo o povo negro brasileiro

Vini Jr é um dos melhores jogadores da atual temporada (Foto: Helios de la Rubia / Real Madrid)

As entidades Educafro e Centro Santo Dias de Direitos Humanos Arquidiocese São Paulo protocolaram uma ação civil pública na manhã desta segunda-feira (10) contra o comentarista Pedro Bravo Jimenez e a emissora MEGA, da Espanha, pelas ofensas racistas feitas contra Vinicius Jr, jogador do Real Madrid que deve ser um dos convocados por Tite para a Copa do Mundo 2022. Na última temporada, ele mostrou ao mundo o seu poder de decisão com gol marcado na final da Champions League, contra o Liverpool, na vitória por 1 a 0.

Foi formulado um pedido de 10 milhões de reais em indenização para o povo brasileiro pelo racismo praticado e pela referência preconceituosa. A ação considera que os comentários feitos por Jimenez no programa ‘El Chiringuito de Jugones’, que também é transmitido nas redes sociais, atingiram todo o povo brasileiro, em particular a população negra.

Durante o programa do dia 15 de setembro, Pedro Bravo -presidente da Associação Espanhola de Empresários de Jogadores-, disse que Vini Jr. deveria “parar de fazer macaquice” e ir ao “sambódromo do Brasil” caso quisesse “dançar”.

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Os comentários racistas foram ditos quando se discutia sobre o clássico entre Atlético e Real Madrid. Na época, o meio-campo Koke, do Atlético de Madrid, disse que haveria confusão se Vini Jr dançasse após a marcação de um gol – algo que ele costuma fazer com muita frequência.

“Deve-se respeitar o adversário. Quando você faz um gol, se quiser sambar, que vá a um sambódromo no Brasil. Aqui (na Espanha) o que se tem de fazer é respeitar seus companheiros de profissão e deixar de fazer macaquice”, disse Jimenez no programa de televisão.

Pouco tempo depois, o caso tomou repercussão mundial, com a hashtag “BailaViniJr” e debates sobre o ato racista. O jogador ainda foi alvo de ofensas racistas pela torcida do Atlético de Madrid. Em um vídeo que está viralizando no Twitter, é possível ver torcedores cantando uma música em que comparam o atleta ao animal.

Posteriormente, Pedro Bravo Jimenez chegou a se retratar e divulgou nas redes sociais uma nota, classificada como um “mal ajambrado pedido de desculpas” pelas entidades na ação.

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“Quero esclarecer que a expressão “fazer macaquice” que usei mal para descrever a dança de comemoração do gol de Vinicius foi feita metaforicamente (’fazer coisas estúpidas’). Como minha intenção não era ofender ninguém, peço sinceras desculpas. Sinto muito”, escreveu.

“Essa ação é completamente inédita. Estamos processando estrangeiros por danos raciais praticados ao povo brasileiro pela internet. Alegamos que o dano não foi praticado na Espanha, mas na internet, o que atinge diretamente todos os brasileiros”, disse Márlon Reis, advogado que assina a ação (veja pronunciamento abaixo).

Em documentos recebidos pela reportagem as entidades citam que os recursos da indenização serão aplicados diretamente em programas de combate à desigualdade racial no Brasil.

A ação civil pública é um instrumento processual que é utilizado para responsabilizar os réus por danos morais e materiais ocasionados a bens e direitos coletivos. Ela tem como objetivo proteger interesses coletivos cuja titularidade recai sobre toda a sociedade (ou parte dela), e não apenas a um único indivíduo.

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