Orçamento secreto não será suficiente para deter a força da mudança

“O nefasto orçamento secreto pode muito, mas não pode tudo. O povo sabe o quanto sofreu e o quanto a mudança é necessária”, diz a deputada Jandira Feghali

Não há como negar que o Congresso Nacional ganhou uma nova configuração movida pelo abuso do poder econômico e que isso refletiu no resultado da eleição presidencial evitando a derrota de Bolsonaro para Lula ainda no primeiro turno. A mola propulsora de tudo isso se chama orçamento secreto ou emenda do relator pela qual o governo liberou enxurrada de dinheiro para sua base política nos estados.

Sem divulgar os autores da indicação da emenda, o governo direcionou cifras bilionárias a favor do seu projeto político. Para se ter ideia, este ano, deverão ser gastos R$ 16 bilhões, ou seja, o mesmo valor movimentado no ano passado. R$ 19,4 bilhões já estão reservados no Orçamento da União para 2023.

O Jornalista Leandro Demori, que saiu do Brasil por causa da violência, observou que os partidos que mais levaram dinheiro do orçamento secreto foram o PP, PL, PSD, União Brasil e Republicanos. Com exceção do PT, são as siglas que mais elegeram deputados. “Antes de falar em ‘Congresso bolsonarista’ fale em compra de votos”, disse o ex-editor-executivo do The Intercept Brasil.

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A deputada reeleita Jandira Feghali (PCdoB-RJ) tem clareza do potencial que essa farra com o dinheiro público pode causar no resultado das eleições, mas considerou que a situação política e econômica do país tem efeito maior.   

“O nefasto orçamento secreto pode muito, mas não pode tudo. O povo sabe o quanto sofreu e o quanto a mudança é necessária”, avaliou.

Deputada Jandira Feghali (Foto: Richard Silva/PCdoB na Câmara)

“Orçamento secreto. Junto de fatores ideológicos, a inédita enxurrada de dinheiro federal ajuda a entender resultados, sobretudo para o Congresso Nacional. Ainda assim, venceremos a eleição presidencial. Não há razão para temor, busca de ‘erros’ e de culpados”, considerou o ex-governador do Maranhão Flávio Dino (PSB), que foi eleito ao Senado.

O cientista social Leonardo Rossatto disse que a lição deste ano em relação a eleição do legislativo é que abuso do poder econômico compensou. “Os Tribunais Eleitorais não têm mecanismos pra julgar isso rápido e na grande maioria das vezes faz vistas grossas. O Brasil elegeu a bancada do orçamento secreto pra Brasília”, disse.

De acordo com ele, o orçamento secreto é de longe o maior escândalo de corrupção da história desse país. “É uma modalidade de corrupção direta e sem disfarce, influi diretamente no processo eleitoral e custa metade do que o Brasil gastou pra fazer a Copa do Mundo”, observou.

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