Haddad quer ampliar o leque de alianças para o segundo turno em São Paulo

O candidato ao governo de São Paulo fez gestos para agregar eleitorado do governador Rodrigo Garcia, “em favor do interesse do estado”

Haddad na votação Créditos: Diogo Zacarias

O candidato ao governo de São Paulo, Fernando Haddad (PT), concedeu entrevista coletiva, após a definição de sua ida ao segundo turno da disputa eleitoral. Ele analisou o resultado, avaliou a campanha e sinalizou os gestos que pretende fazer para ampliar ainda mais o apoio a sua campanha. Haddad acredita que votação de Tarcísio se justifica por migração antecipada de votos que iriam para ele naturalmente no segundo turno.

O ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos), 47, e o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), 59, se enfrentarão no segundo turno das eleições 2022 para o governo de São Paulo, no próximo dia 30. Até as 21h34, com 99,39% das urnas apuradas, Tarcísio aparece com 42,35% dos votos e Haddad, com 35,66%.

Haddad considera esta como a melhor campanha do campo progressista em São Paulo. Avalia que a diferença para o adversário é pequena no segundo turno. Ele lembrou que em 2012, com José Serra, o cenário foi parecido.

“A hora agora é de celebrar o resultado”, disse. Para ele, os 36% dos votos válidos são menos do que almejavam, mas perto dos 40% da meta estabelecida no início da campanha. “O campo progressista está no segundo turno. Isso não acontece há vinte anos”.

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Migração do voto

Admitindo que faz uma análise no calor dos resultados, ele sugeriu que os votos que migraram para Tarcisio e Jair Bolsonaro, no primeiro turno, são os votos que migrariam no segundo. “Os votos que podem migrar para mim e para o Lula não migraram em sua inteireza, ou sequer migraram”, contabilizou.

Lula chegou a 48% dos votos, número previsto pelas pesquisas, enquanto Bolsonaro teve 43,5% que surpreendeu os levantamentos feitos em cerca de 8 pontos. 

Em sua opinião, houve uma contenção do voto progressista que se manteve fiel a Ciro Gomes e Simone Tebet, no caso nacional, e se manteve fiel a Rodrigo Garcia no estado. “O que ele perdeu, ele perderia no segundo turno”. 

“A migração do voto útil aconteceu a favor do bolsonarismo. A extrema direita foi disciplinada e deu o recado. Enquanto a centro esquerda aguardou os acontecimentos”, ponderou.

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Se isso tiver acontecido como ele pensa, as chances de Lula aumentar ao que falta para vencer “é uma tarefa exequível”. Haddad também acredita na viabilidade de disputar os 18% que a campanha do tucano fez para ser bem sucedido em SP.

Ele já apontou que vai conversar com aliados potenciais no segundo turno, assim como Lula, que procurará outros setores que não vieram no primeiro turno. 

“Tenho todo interesse em dialogar com as forças que sustentaram a candidatura do Rodrigo Garcia (PSDB), que podem se sentar à mesa e discutir programaticamente aquilo que nos une e nos aproxima, e realizar uma bela campanha de segundo turno, propositiva, dialogando com as necessidades do povo paulista”, afirmou.

Além dos 28 dias de trabalho nas ruas, à mesa de negociação e em diálogo com a sociedade, ele também destacou a paridade de tempo de programa eleitoral que vem de vantagem no segundo turno. Até, então, os adversários acumulavam 80% desse tempo.

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Convencimento dos tucanos

Haddad não vê impedimentos para convencer o eleitor de Rodrigo a aceitar sua agenda de governo. Seu argumento é o enorme apoio que tem, desde os ex-governadores Geraldo Alckmin a Márcio França. “Temos um leque de apoios mais amplo que o Tarcisio, que tem basicamente o centrão ao seu lado”.

Assim, ele sugere que vai ampliar com forças democráticas que sempre dialogaram com o PSB. “Nenhum candidato fez mais de 50% dos votos validos em SP. Apesar de Bolsonaro estar à frente numericamente no estado, não fez 50%. Isso me dá a convicção de que podemos avançar no apoio dos setores democráticos”. 

Haddad se mostrou preocupado que o estado retroceda em políticas públicas sob um governo bolsonarista. Ele mencionou a maior produção científica de toda a América Latina encontrada em São Paulo.

“Quando forcas negacionistas se expressam dessa maneira, contra vacina e a favor de armas, a gente se preocupa, porque pode ser um farol do que precisa acontecer para que a gente modernize a sociedade brasileira numa época de crise climática, de devastação da Amazonia, que prejudica os negócios paulistas e mundiais”, alertou.

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Haddad argumentou, em sinalização ao PSDB, que os tucanos sabem que ele sucedeu Paulo Renato no Ministério da Educação, assim como sucedeu os tucanos da Prefeitura de São Paulo. Com isso, quis demonstrar o respeito que sempre teve pelo legado e herança de políticas públicas, reconhecendo-as e aperfeicoando-as. “Sempre tomo a política pública herdada como um patamar, a partir do qual você vai se desenvolver e não ficar negando o que o antecessor fez. Nunca descontinuei um programa exitoso na Prefeitura e sempre reconheci isso publicamente”, declarou. 

Embate do primeiro turno

Fernando Haddad não vê os confrontos do primeiro turno com Rodrigo Garcia como algo pessoal, mas da política. Para ele, existem duas formas de ver a política, como um projeto pessoal a levar com rancor e ressentimento, ou colocar o interesse público à frente com maturidade.

Para ele, este é um momento de maturidade política e compreensão do que o país está enfrentando e do que significaria uma manutenção do quadro atual institucional.

“Fiz um esforço enorme para aproximar pessoas que precisam estar juntas em proveito do país. Geraldo Alckmin, Marina Silva, Christovam Buarque e vários companheiros que estão na campanha do Lula e na minha, que sabem o que está em jogo e em risco”.

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Ele considera do jogo o enfrentamento feito contra ele na campanha, mas diz que teve que se defender para chegar ao segundo turno. Ele ponderou que quem lidera a pesquisa não ataca, mas consolida propostas. 

“Infelizmente tive que utilizar parte exígua do meu tempo para me defender. Não foi minha escolha, mas uma iniciativa do lado de lá. Eu não tinha porque duelar com ninguém, porque estava com um amplo palanque, bom tempo de TV, suficiente para enfrentar a eleição”. 

“Sei o que está em jogo e como vai doer em quem mais precisa da ação do governo se este estado de coisas continuar”, concluiu.

“Gostaria que a eleição nacional tivesse se encerrado hoje. Porque o Brasil precisa superar este momento sob a Presidência de Lula”.