Servidores do Inpa denunciam a ministro riscos para a pesquisa na Amazônia

“Sem as coordenações dos programas de pós-graduação no seu organograma, o Inpa corre o risco de desaparecer!”

(Foto: Cimone Barros/ Inpa)

O Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), um dos mais importantes do país, corre sério risco de desaparecer com um novo regimento interno e organograma elaborado pela a atual direção do órgão. Sem diálogo com a comunidade científica e participação de apenas sete servidores, a nova organização acaba com a Coordenação de Pesquisa em Tecnologia e Inovação (COTEI) e prejudica os cursos de pós-graduação do Instituto.

A reorganização do Instituto, de acordo com os servidores, foi feita na “surdina”, sem transparência e diálogo com os pesquisadores.

Ao extinguir a COTEI, uma das mais importantes do Instituto, mudou-se o nome da Coordenação de Pesquisa em Sociedade, Ambiente e Saúde (COSAS) para “Saúde e Bem Estar Social”.

Os servidores dizem que se trata de “uma inadequada e fantasiosa denominação de bem-estar social”.

“Senhor ministro, nós, servidores do Inpa, não concordamos com as mudanças que estão sendo impostas pela atual direção no regimento interno do Instituto”, alertam numa carta enviada ao ministro de Ciência, Tecnologia e Inovações, Paulo César Alvim.

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Com mudanças propostas, caso implementadas, a pesquisa científica, atividade fim do Instituto, ficará ainda mais enfraquecida. “Sem as coordenações dos programas de pós-graduação no seu organograma, o Inpa corre o risco de desaparecer!”, acusam.

Eles pediram ao ministro o imediato cancelamento do novo regimento e que uma nova estrutura organizacional seja construída de forma democrática, participativa e transparente com a colaboração da comunidade científica.

“Solicitamos, portanto, que esse novo regimento seja imediatamente cancelado e que uma nova estrutura organizacional seja construída de forma democrática, participativa e transparente com a colaboração da comunidade científica desse Instituto”, reivindicaram.

Os servidores alertaram ainda para o momento “político difícil e dramático no país”, mas pedem diálogo e compromissos.

“Entendemos que uma reorganização profunda da estrutura institucional, como a que está sendo proposta, deve ser realizada com a participação da comunidade afetada, e sobretudo deve levar em consideração o cenário atual do Instituto, no qual os programas de pós-graduação sejam considerados prioridade institucional”, dizem.

Crise

No documento, os servidores denunciam ao ministro que, prestes a completar 70 anos, o Inpa passa atualmente pela mais grave crise de toda sua existência, encontrando-se praticamente paralisado. Apesar da crise institucional, os pesquisadores alegam que, por meio de captação de recursos externos, têm gerado conhecimentos, novas tecnologias, produtos e processos.

“Hoje, se o INPA ainda funciona e produz ciência é graças ao trabalho dos mais de 500 estudantes de doutorado e mestrado dos seus nove cursos de pós-graduação e do seu quadro de 137 pesquisadores dentre os quais 63% estão com abono de permanência, podendo se aposentar a qualquer momento”, diz um trecho da carta.

Biomódulo do Inpa que possibilita a manipulação de microrganismos classificados com Nível de Biossegurança 3 (NB3) (Foto: Divulgação)

Ponto

Os servidores também solicitaram que a liberação de bater ponto para os coordenadores dos cursos de pós-graduação, pois possuem atividades diferentes dos servidores da administração.

Trata-se de uma atividade que exige muita dedicação, uma vez que atuam como pesquisadores, professores, orientadores, extensionistas, membros de bancas de defesa pública de mestrado e doutorado, avaliadores e coordenadores de projetos de pesquisas.

Destacaram ainda que, na última avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), três cursos dos programas de Pós-graduação do Inpa subiram de nota, com o curso de Ecologia atingindo nota 7, o mais alto nível de excelência acadêmica. 

“Em uma era de grandes mudanças, as instituições e as pesquisas científicas devem ser fortalecidas e ampliadas, e todos devemos nos dar conta de nossas responsabilidades individuais e coletivas na busca de soluções para um mundo melhor”, finalizaram.

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