Ucrânia dominará Assembleia Geral da ONU em meio a divisão geopolítica

As mudanças climáticas, as sanções ao Irã e o agravamento da pobreza global também estarão presentes na reunião anual de líderes mundiais em Nova York nesta semana.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, se prepara as pressões ocidentais sobre países da Ásia na reunião da ONU

O conflito da Ucrânia com a Rússia e uma crise alimentar global agravada pela guerra serão o foco dos líderes mundiais quando se reunirem nas Nações Unidas em Nova York nesta semana, uma reunião que provavelmente não trará nenhum progresso para acabar com o conflito.

“Seria ingênuo pensar que estamos perto da possibilidade de um acordo de paz”, disse o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, no sábado, antes da reunião de alto nível dos 193 estados membros, que começa na terça-feira. “As chances de um acordo de paz são mínimas no momento.”

As divisões geopolíticas, endurecidas pela guerra de sete meses, provavelmente estarão em plena exibição, já que os Estados Unidos e aliados ocidentais competem com a Rússia por influência diplomática.

Além disso, a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse que não há planos de se encontrar com diplomatas russos.

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“Eles não indicaram que têm interesse em diplomacia. O que eles estão interessados ​​é continuar a levantar essa guerra não provocada contra a Ucrânia”, disse Thomas-Greenfield.

Neste domingo (18), o vice-representante russo nas Nações Unidas, Dmitry Polyansky, criticou o comportamento do representante ucraniano no Conselho de Segurança da ONU (CSNU) por xingamentos contra representantes russos por serem parte importante da Organização, enquanto a Ucrânia não tem relevância. A gritaria colocou os apoiadores de Kiev em uma situação embaraçosa, segundo os russos.

“Assim, a delegação da Ucrânia transforma seus discursos no Conselho de Segurança em cenas de talk shows baratos e escandalosos. É bastante óbvio que um representante de um país, demonstrando a falta de decência diplomática básica, prejudica a imagem do país que representa”, destacou Polyansky, que observa que outros países se sentem perdendo tempo num debate em que a Ucrânia se limita a fazer escândalo em vez de negociar.

Ele também lamentou a pressão que sofre Guterres por governos ocidentais e pelo fato da ONU estar sediada em Nova York. Até a garantia de visto para diplomatas de países não alinhados com Washington tem sido uma dificuldade nessas reuniões.

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“O secretário-geral da ONU está sob imensa pressão dos países ocidentais, que, além de promover sua agenda desequilibrada por meio de seus representantes, não hesitam em pressionar a secretaria, inclusive por meio do secretário-geral, com suas contribuições financeiras voluntárias, cujos volumes são comparáveis ​​aos obrigatórios”, disse Polyansky, referindo-se a pressão ocidental pelo financiamento do organismo.

‘Tensão enorme’

A Rússia vem tentando acabar com seu isolamento internacional depois que quase três quartos da AGNU votaram para repreender Moscou e exigir que ela retirasse suas tropas dentro de uma semana após a invasão da vizinha Ucrânia em 24 de fevereiro.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, seu colega norte-americano, Antony Blinken, e o presidente francês, Emmanuel Macron, visitaram estados africanos nos últimos meses, competindo por influência. A África foi duramente atingida com uma fome que deve ser declarada na Somália nos próximos meses.

Macron pretende usar sua visita de dois dias a Nova York para fazer lobby com países que permaneceram neutros na guerra para tentar trazê-los para o Ocidente, disseram autoridades francesas, com foco na Índia, países do Golfo, África e alguns países latino-americanos.

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Insegurança alimentar

Guterres disse que as brechas geopolíticas são “as mais amplas desde pelo menos a Guerra Fria” e “paralisam a resposta global aos desafios dramáticos que enfrentamos”, destacando conflitos, clima, pobreza, fome e desigualdade.

A Rússia e a Ucrânia são grandes exportadores de grãos e fertilizantes e a ONU culpou a guerra pelo agravamento da crise alimentar que já foi fomentada pelas mudanças climáticas e pela pandemia de covid-19.

Os Estados Unidos vão co-sediar uma cúpula de segurança alimentar com a União Europeia e a União Africana à margem da reunião da ONU, juntamente com uma reunião do plano de ação global covid-19 e uma conferência de reabastecimento para o Fundo Global de Combate à AIDS, Tuberculose e Malária.

“Subjacente a muitas dessas reuniões, haverá uma enorme tensão entre os países ocidentais e os representantes do Sul Global em particular”, disse Richard Gowan, diretor da ONU no International Crisis Group.

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“Ainda há muito mal-estar sobre questões como o lançamento da vacina covid, o financiamento climático… e agora os preços dos alimentos. Todas essas questões estão gerando grandes problemas entre os estados membros da ONU”, disse Gowan.

Atendimento presencial

Nos últimos dois anos, os líderes foram autorizados a enviar declarações em vídeo por causa das restrições da pandemia, mas este ano eles precisam viajar para Nova York para falar na câmara da AGNU. O presidente russo Vladimir Putin e o presidente chinês Xi Jinping estão enviando seus ministros das Relações Exteriores.

No entanto, a AGNU concordou em permitir que o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy enviasse uma declaração em vídeo pré-gravada. A decisão foi adotada com 101 votos a favor, sete contra e 19 abstenções. O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, deve comparecer.

O presidente iraniano Ebrahim Raisi também está viajando para Nova York. Embora seja improvável que Teerã e Washington superem um impasse para salvar um pacto nuclear de 2015 em breve, o Irã usará a reunião para manter a bola diplomática rolando, repetindo sua disposição de chegar a um acordo sustentável.

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Com informações das Agências Internacionais