Deputado bolsonarista agride Vera Magalhães durante debate em SP

Douglas Garcia (Republicanos) usou a mesma frase dita por Bolsonaro ao chamar Vera de “vergonha para o jornalismo brasileiro”

Vera Magalhães é hostilizada por deputado bolsonarista após debate | Foto: reprodução/TV Cultura

A jornalista Vera Magalhães, apresentadora do Roda Viva e colunista do jornal O Globo, foi hostilizada e agredida verbalmente pelo deputado estadual bolsonarista Douglas Garcia (Republicanos-SP) após o debate entre candidatos ao Governo de São Paulo promovido pela TV Cultura, na madrugada desta quarta-feira (14).

Segurando o celular, Douglas, que é candidato a deputado federal e faz parte da comitiva do ex-ministro e candidato ao governo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), se aproxima de Vera, que estava sentada em uma área reservada a jornalistas, dizendo que ela é uma “vergonha para o jornalismo brasileiro”. A partir disso, Vera chamou os seguranças e também começou a filmar o deputado.

No momento da confusão, o jornalista Leão Serva, diretor de jornalismo da TV Cultura e mediador do debate, saiu em defesa de Vera, tomando o celular da mão do deputado e arremessando-o para longe. Nesse momento, Garcia começou a gritar “jonazistas”, enquanto era retirado pelos seguranças.  

Entenda o caso

Garcia, estava na plateia ao lado direito e saiu do local para confrontar a jornalista questionando um contrato de trabalho de R$ 500 mil com a TV Cultura, alegando que ela trabalhava para falar mal do atual presidente e insinuando que Vera faz um “jornalismo militante”. 

A jornalista narrou a agressão sofrida em seu Instagram e completou dizendo que o deputado mentiu ao falar sobre um contrato ao qual ele já havia tido acesso. “Eu ganho R$ 22 mil por mês da TV Cultura, desde o ano de 2020, num contrato que é público, que ele como deputado já requereu e ao qual ele tem acesso, e que eu já publiquei nas minhas redes sociais. Ele veio mentir novamente, me intimidar, achar que com isso vai me calar. Isso não é aceitável. O Brasil é uma democracia. Uma democracia pressupõe imprensa livre”.

Em seu Twitter, Vera afirmou que irá registrar um boletim de ocorrência de ameaça contra Garcia. “Há centenas de testemunhas. Usou o convite no estafe de Tarcísio Freitas no debate apenas para vir mentir e me acossar e ameaçar”, escreveu.

A jornalista ainda questiona o candidato ao governo de São Paulo pelo Republicanos, Tarcisio Freitas, se ele concorda “com a postura de seu convidado para o debate.” Segundo Vera, ela precisou sair escoltada do Memorial da América Latina, onde ocorreu o debate.

Ataques bolsonaristas

Vera Magalhães tem sido alvo de bolsonaristas desde que fez uma pergunta ao presidente Jair Bolsonaro (PL) durante o debate de presidenciáveis da Band, em 28 de agosto e foi atacada por ele.

Durante o ato de 7 de Setembro no Rio, convocado por Bolsonaro e com presença dele, um grupo já havia pendurado um cartaz com a foto e ofensas à apresentadora em um trator.

‘Intolerável”

Nas redes sociais, a jornalista publicou um vídeo dos ataques de Garcia e disse que “não tem medo de homem que ameaça e intimida mulher”. “Não tenho medo de homem público que usa o cargo para acossar a imprensa”, escreveu.

Vera afirmou que “esse tipo de postura vinda de um parlamentar é inaceitável, intolerável na democracia. Não será um truculento, nem dois, que irão me intimidar a continuar fazendo meu trabalho.”

Repercussão

Após o episódio, figuras públicas, parlamentares e presidenciáveis saíram em defesa da profissional. Veja manifestações.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à presidência: “Triste com o desrespeito contra a jornalista @veramagalhaes por um deputado bolsonarista no debate de São Paulo. Debates deveriam ser notícia pelas propostas, não por ataques contra mulheres jornalistas, promovidos por quem vive do ódio e não gosta da democracia”.

Simone Tebet (MDB-MS), candidata a presidência: “Solidariedade e indignação. Acordei em Recife/PE com essa barbaridade. Mais uma vez @veramagalhaes sob ataques de bolsonaristas. O comportamento covarde do Presidente é uma licença para esse tipo de absurdo, agora de um parlamentar. Espero que a Polícia Civil de São Paulo, a @AssembleiaSP e o @republicanos10 tomem providências para punir mais essa violência. Abraço e força @veramagalhaes”.

Fernando Haddad (PT), candidato ao governo de São Paulo: “Repúdio total ao ataque covarde sofrido pela jornalista Vera Magalhães pelo deputado Douglas Garcia em uma clara tentativa de ataque à liberdade de imprensa, método bolsonarista de intimidação contra a democracia.”

Marina Silva (PV): A escalada das agressões contra a jornalista @veramagalhaes são inadmissíveis. É assustador assistir essas atitudes machistas e odiosas iniciadas por Bolsonaro. Seu bando precisa ser interditado e responsabilizado por seus atos violentos e antidemocráticos. BASTA!

Alexandre Borges, analista político da CNN: Douglas Garcia SABE q a @veramagalhaes não recebe 500 mil, o q aliás seria compatível com sua função. O contrato da Vera é público e foi solicitado pelo deputado em 2020, depois de uma campanha de assédio direcionado promovida por um influenciador. Isso não é ideologia, é crime.

Carina Vitral, candidata a deputada estadual (PCdoB-SP): O deputado bolsonarista Douglas Garcia atacou de forma covarde e ameaçadora a jornalista veramagalhaes depois do debate de ontem na TV Cultura. Pegar o celular dele e jogar longe foi a reação do @leaoserva. Vergonha é uma forma de violência de gênero que as mulheres sofrem! Precisamos combater isso já. ??❤️

Mandato Cassado

A deputada estadual Isa Penna (PCdoB-SP) ingressou nesta quarta-feira (14) com uma representação no Conselho de Ética da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) contra Douglas Garcia (Republicanos) por quebra de decoro parlamentar.

No documento, Isa pede a cassação de Garcia e diz que “falta civilidade e sobra barbárie nas atitudes praticadas pelo parlamentar”.

“A Assembleia Legislativa de São Paulo, como vanguardista das legislações do País, tem o dever de ser pioneira no posicionamento firme contrário a essa misoginia presente em todo o Brasil. (…) O parlamentar além de quebrar o decoro parlamentar com frases absolutamente machistas e misóginas, infringiu regramentos legais de envergadura internacional dos quais o Brasil é signatário, de modo que deve ser exemplarmente penalizado”.

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Com informações de agências


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