Oportunismo de Bolsonaro na ida ao funeral da rainha pode prejudicá-lo

Interlocutores do presidente calculam a viagem uma manobra arriscada, pois há preocupação que ele fique isolado entre os chefes de Estado

Lula é recebido pela rainha Elizabeth 2ª (Foto: Divulgação)

Bolsonaro quer usar duas viagens para demonstrar prestigio internacional e aproveitar as imagens na sua campanha eleitoral. São elas para o funeral da rainha Elizabeth 2ª, em Londres, e à abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Porém, interlocutores do presidente calculam que isso pode ser uma manobra arriscada nessa reta final de campanha, pois há preocupação que ele fique isolado entre os chefes de Estado.

À BBC Brasil, o pesquisador Christopher Sabatini, do Programa para a América Latina, EUA e Américas do think tank sediado em Londres, as viagens também podem prejudicar Bolsonaro caso ele diga ou faça algo que perturbe sua imagem a menos de um mês do primeiro turno das eleições presidenciais.

“Em meio a uma campanha dura e difamatória, Bolsonaro está tentando projetar uma imagem de estadista sério com essas viagens, tanto domesticamente como internacionalmente”, lembrou Sabatini.

Ou seja, na condição de pária internacional ele daria ainda mais munições para os adversários explorarem suas imagens negativamente na campanha eleitoral. O ex-presidente Lula, por exemplo, é um dos maiores críticos da política externa brasileira.

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O candidato diz que o país só produziu nessa área “uma vergonha atrás da outra”. Lembrou do isolamento do país quando a Alemanha, em maio deste ano, anunciou que iria convidar quatro países em desenvolvimento para a cúpula do G7, o Grupo dos Sete, uma organização composta pelo país ao lado das outras maiores economias do mundo: Canadá, França, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos.

Isto é, pelo terceiro ano seguido, o Brasil foi esnobado e não convidado. “Também pudera: com a política externa que apequenou o país e a política econômica desastrosa que elevou a inflação a um novo recorde e rebaixou o Brasil à 13ª economia mundial, além dos constantes ataques à democracia e seus posicionamentos autoritários, Bolsonaro não teria muito o que apresentar”, diz a campanha do ex-presidente.

Deputada Alice Portugal (Foto: Richard Silva/PCdoB na Câmara)

Repercussão

Na avaliação da deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), Bolsonaro só pensa na reeleição. “Bolsonaro é indiferente a dor ou a morte de quem quer que seja. É claro que irá ao velório da rainha não por respeito ou empatia, mas por oportunismo político”, disse a deputada.

“Enterrado politicamente no Brasil, Bolsonaro o imbroxável vai ao enterro da rainha da Inglaterra, acompanhado da princesa Micheque! Nada mais surreal e hilariante apesar do gasto de dinheiro público para tentar enganar incautos”, ironizou o deputado Rogério Correia (PT-MG).

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