Lula com evangélicos: Ninguém deve usar o nome de Deus em vão

Em São Gonçalo (RJ), o presidente agradeceu por estar com gente de fé, que sabe que a verdade vencerá. Fez críticas a campanha adversária por se aproveitar da religião.

Lula com pastores evangélicos em São Gonçalo (RJ) Foto de Ricardo Stuckert

Milhares de religiosos e lideranças evangélicas se reuniram nesta sexta (9) em São Gonçalo (RJ) para ouvir, cantar e orar pelo candidato a Presidência da República, o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva e seu candidato a vice, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Lula foi recebido com carinho e saudado por ter resistido a tanta perseguição política e judicial, para estar agora voltando a disputar o governo do Brasil.

Pastores de diversas igrejas da região metropolitana do Rio de Janeiro foram reafirmar que “evangélico vota em Lula”, a despeito do que o candidato adversário, Jair Bolsonaro, tem dito em igrejas. Criticaram o clima de ódio político estimulado pelo atual governo, que já contaminou até as igrejas, e também as mentiras disseminadas e a pobreza que tomou conta das vidas dos crentes nos últimos anos.

Entre os religiosos que falaram estiveram o pastor Oliver Costa que conduziu o evento, o apóstolo Marcelo Coelho Cunha, o pastor Alair Lima, da Igreja Batista do Jardim Alcântara, o pastor Sérgio Dusileck, da Convenção Batista e da Igreja Batista de Marapendi, a missionaria Ana Paula Santana e o pastor Ariovaldo Ramos, da Comunidade Cristã Renovada e atual coordenador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, além da missionária cantora Suélem Costa.

Em vários momentos, apesar das acusações de que a candidatura não defende a família, ressaltaram que foi nos governos de Lula que a família foi protegida na liberdade, na segurança alimentar, no emprego e no acesso a educação. Muitos disseram o quanto suas igrejas prosperaram quando Lula governava, e agora veem as famílias da igreja sofrendo dificuldades.

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A missionaria Suelem Costa comoveu Lula ao cantar o louvor que dizia: “Tem coisa boa chegando! Não importa o que você sofreu, mas sobreviveu. Não tem prisão que possa impedir, o que Deus tem para sua vida”.

Muitos versículos das Escrituras Sagradas foram citados por todos para celebrar os anos em que o governo Lula cuidou do povo brasileiro. “Quando os justos governam, alegra-se o povo; mas quando o ímpio domina, o povo geme”, citou Provérbios 29, versículo 2, o apóstolo Marcelo Coelho Cunha.

Também foi lida uma Carta dos Evangélicos e Evangélicas para Lula e Alckmin. A Carta faz referência aos conflitos observados entre as famílias, e até nas igrejas, nos últimos anos. “Clamamos por um presidente que se mostre sereno e com temperança”, diz. Como exemplo, relata que, mesmo sabendo que era inocente, Lula respeitou as instituições do país, “como defendem as escrituras”. 

A carta ainda cita o respeito de Lula pelas igrejas e suas visitas, quando estava no governo. Menciona também a promulgação da Lei da Liberdade Religiosa e a instituição da Marcha para Jesus. “Deus tem um plano para você”, completou.

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A missionaria Suelem Costa comoveu Lula ao cantar o louvor Sobrevivi, de Sarah Farias. Foto por Ricardo Stuckert

Conhecereis a verdade

O candidato ao governo do Rio de Janeiro, Marcelo Freixo, e Geraldo Alckmin, ambos do PSB, também se manifestaram. Freixo disse que “quem é cristão se conecta ao outro através da verdade”. Mencionou o trabalho dos pastores nas prisões, onde ele conheceu alguns deles e o papel civilizatório que as igrejas cumprem nas comunidades, entre os mais pobres. 

“Conheci o pastor na prisão, fazendo o bem. Vocês são pessoas que acreditam no ser humano. São os que muito fazem pelos mais pobres, favelados e periféricos. Não fossem vocês, essas pessoas estariam pior.”

Alckmin enfatizou a importância da volta de Lula ao governo para restaurar um Brasil melhor. Ele criticou a política armamentista do atual governo. 

“Jesus disse: amai-vos uns aos outros, ele nunca disse armai-vos uns aos outros. Um milhão de armas. Metade das mulheres mortas [é] por armas de fogo. Quando a mulher é ameaçada, a família é ameaçada. Por isso, é uma alegria estarmos juntos. A política bem feita, com amor ao próximo,” disse Alckmin.

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Oração coletiva para Lula, foto por Ricardo Stuckert

A mão de Deus

Frequentemente alvo de fake news e desinformação de cunho religioso pelos apoiadores do candidato adversário, desde sua primeira campanha eleitoral, Lula agradeceu os presentes dizendo que “é muito importante estar com pessoas de fé que sabem que a verdade vencerá”.

Lula relembrou a importância da força e fé de sua mãe, ao criar oito filhos em meio a pobreza. “Não fosse a mão de Deus na minha cabeça, eu não teria chegado até aqui”, disse. 

Lula fez questão de se diferenciar da campanha adversária, em que Bolsonaro ocupa igrejas para pedir voto, causando dissenção entre os crentes. “O estado não tem que ter religião, mas garantir a liberdade de quantas igrejas forem criadas”, defendeu. “Ninguém deve usar o nome de Deus em vão. Eu nunca fui numa igreja usar a religião para ganhar voto. O cidadão que vai na igreja vai para conversar com Deus e não quer que a gente se meta com a política”, disse, justificando o fato de estar realizando o encontro num espaço de eventos, em vez de uma igreja.

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Ele também disse que desde que se candidatou pela primeira vez à Presidência da República, pede a Deus pra não o deixar errar. “Não gosto de dizer que vou governar, mas mas cuidar da família”, afirmou, pontuando o modo como direcionou suas políticas públicas como Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida para as mulheres, pensando na responsabilidade que sua mãe sempre teve com o cuidado dos filhos.

“Colocamos o cartão do Bolsa Família no nome da mulher, porque temos medo que o marido, no dia que o Flamengo perde, vai pegar o dinheiro e tomar uma. A escritura da casa vai no nome da mulher para que, se o homem se separar, não deixe a mulher com os filhos na rua”, explicou, mencionando as estatísticas.

“O Brasil não pode ser governado por um presidente que se apoia na mentira. Adora contar vantagem. A última foi roubar o Sete de Setembro, festa cívica de todos os brasileiros, que ele transformou numa festa para ele”, criticou.

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Lula disse que todo mundo quer ter os confortos que a vida moderna oferece. “Ninguém é pobre porque quer, mas porque não tem oportunidade. Ninguém viaja de ônibus porque prefere, mas todo mundo quer viajar de avião”, disse ele, apontando políticas para geração de emprego, renda e acensão social.

Assim como Alckmin, ele criticou a política de liberação de porte de armas no Brasil. A medida é vista muito negativamente pelo setores evangélicos. “Quem está comprando arma é o bandido, pois o pai de família não tem dinheiro nem se interessa em ter uma arma em casa.

No meu governo eu recolhi 620 mil armas das ruas”, declarou. 

Lula concluiu dizendo que, se tem um brasileiro que não precisa provar que acredita em Deus, é ele. “Eu não teria chegado onde cheguei se não fosse a mão de Deus dirigindo os meus passos e guiando meu comportamento”.

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Também fez questão de fazer um pedido no dia da eleição. “Na urna, o eleitor não pode digitar ódio, tem que digitar amor e esperança, pensando no futuro que você quer para seu filho”, encerrou.